Home120 anosCome-Fogo: o auge do futebol em Ribeirão Preto

Come-Fogo: o auge do futebol em Ribeirão Preto

Muito além das quatro linhas, o clássico Come-Fogo já mexeu durante décadas com a estrutura de Ribeirão Preto e transformou a rotina da cidade. Quase esquecido das grandes manchetes, o duelo entre Botafogo e Comercial ainda resiste como símbolo de tradição e identidade cultural ribeirão-pretana.

Durante os anos de 1960 e 1970, Ribeirão viveu seu auge no futebol. O Comercial, o Leão do Norte, brilhou com campanhas expressivas no Paulistão e inaugurou em 1964 o Estádio Palma Travassos, a “Jóia de Concreto”. O time conquistou o título do interior em 1966 e enfrentava gigantes como Santos, Corinthians, Palmeiras e São Paulo. 

- Publicidade -

Já o Botafogo, o Pantera, inaugurou o Estádio Santa Cruz em 1968 e viveu seu melhor momento em 1977, conquistando o primeiro turno do Campeonato Paulista e revelando craques como Sócrates.

O equilíbrio sempre foi a marca da rivalidade. Desde 1920, foram 175 partidas, sendo 64 vitórias do Botafogo, 51 do Comercial e 60 empates, com 439 gols. Mais do que números, os clássicos eram eventos que paravam a cidade, lotavam estádios com mais de 25 mil pessoas, enfeitavam ruas e provocavam discussões intermináveis em bares, escolas e famílias.

classico come fogo 2025 10 20 13 56 34
Foto 1: Torcida do Botafogo acompanhando o jogo no estádio Santa Cruz – Arena Nicnet. O jogo contra o Santos, foi realizado dia 20 de janeiro de 2024 e o resultado foi de 1×0 para o alvinegro praiano/Foto 2: Torcida do Comercial acompanhando o estádio Palma Travassos, inaugurado em 1964. O jogo contra o XV de Piracicaba, foi realizado dia 19 de setembro de 2025 e o resultado foi de 1×1 – Crédito – Igor Penha, Eduardo Vergani, Gabriel Santana e Leonardo de Oliveira

Para os torcedores mais antigos, cada Come-Fogo guarda uma lembrança especial. O botafoguense Wesley Osório, 72 anos, nunca esquece o clássico de 1994. “O gol do Vagner Mancini no último minuto, dentro do Palma Travassos, foi a maior emoção da minha vida. A cidade inteira parou”, recorda.

Do lado comercialino, Fabrício Pontes, 46 anos, lembra com emoção do clássico na volta à elite em 2012. “Virar o jogo com meu filho ao lado foi indescritível. A cidade só falava disso. Era muito mais do que futebol”, afirma. 

Essas histórias mostram como o clássico ultrapassava o campo. A cidade respirava rivalidade. Semanas de expectativa, provocações entre amigos e estádios lotados, onde a vitória era questão de orgulho.

- Publicidade -
alex muralha 2025 10 20 14 05 12
Virada do Comercial no ano da volta à elite do paulista, no clássico Come-Fogo, com dois gols marcados por Elionar Bombinha. Jogo realizado dia 28 de janeiro de 2012 – Crédito: Acervo Grupo EP Jornal A Cidade

Dentro de campo, a atmosfera também era única. O centroavante, hoje aposentado, Marcelo Macedo, autor do gol da vitória botafoguense em 2014, lembra do clima no Santa Cruz. “O torcedor lotou o estádio e empurrou o time o tempo inteiro. Foi um dos jogos mais marcantes da minha carreira”.

Para o ex-goleiro Marcelo Henrique, que defendeu o Comercial, não havia nada igual. “Era clima de guerra dentro de campo, estádio lotado com duas torcidas empurrando. O Come-Fogo mexia com a cidade inteira”.

“O clássico quando é na elite Paulista tem importância e visibilidade muito maior. O torcedor tem papel fundamental nos clássicos, nesse último da elite por exemplo, lotou o estádio e incentivou o time do início ao fim, sendo coroado com uma bela vitória”

, Marcelo Macedo, ex-atacante do Botafogo
Infografico a Verde Azulado e Dourado da Cronologia do Desporto 2025 10 20 14 18 11


A importância do clássico vai além dos resultados. O jornalista esportivo Luiz Carlos Briza afirma que o duelo é parte da identidade da cidade. “O Come-Fogo é patrimônio cultural de Ribeirão Preto. Teve momentos de grande visibilidade e hoje vive mais na memória, mas simboliza a paixão e a identidade da cidade”.

“No auge, o Come-Fogo movimentava a cidade em todos os segmentos. No comércio, na imprensa. Mobilizava a cidade uma semana antes e outra depois. Eram calorosas discussões e apostas. A rivalidade era fantástica, mas havia respeito. As duas torcidas frequentavam  os dois estádios, sempre lotados e não havia violência”, Luiz Carlos Briza, jornalista esportivo



briza 2025 10 20 14 13 09
Luiz Carlos Briza, jornalista esportivo

Mesmo com menos destaque nos últimos anos, as novas gerações mantêm viva essa memória herdada. O botafoguense Eduardo Rodrigues, de 24 anos, resume: “O clássico já não tem a fama de antigamente, mas a história não se apaga. É parte do que faz Ribeirão ser conhecida”.

eduardo rodrigues 2025 10 20 14 14 17
O botafoguense Eduardo Rodrigues, de 24 anos (Foto: arquivo pessoal)

 O comercialino Gustavo Arcêncio, 21 anos, reforça o peso da tradição: “Come-Fogo é rivalidade centenária. Mesmo com estádios vazios, a emoção continua. É diferente de qualquer jogo comum”.

arcencio 2025 10 20 14 41 24
O comercialino Gustavo Arcêncio, 21 anos

Bombinha no Come-Fogo

O dia 28 de janeiro de 2012 entrou para a história do futebol de Ribeirão Preto. Depois de 26 anos sem disputar um Come-Fogo na elite do Campeonato Paulista, o Comercial retornou e venceu o rival Botafogo pelo placar de 2 a 1, no estádio Santa Cruz, em um jogo marcado pela atuação impressionante de Elionar Bombinha.

O atacante foi o assunto da partida, marcou os dois gols da virada alvinegra, explodindo as arquibancadas e levando a torcida ao delírio. A vitória teve um toque especial, já que marcou o retorno do clube à primeira divisão estadual com vitória sobre o maior rival.

Mais do que três pontos, o jogo ficou registrado como um dos capítulos mais emocionantes da rivalidade. O clássico, que há décadas movimenta Ribeirão Preto, mostrou que ainda tinha força para paralisar a cidade e fazer história.

bombinha 2025 10 20 14 23 42
Elionar Bombinha, ex – jogador do Comercial comemorando o gol marcado na virada da partida. Jogo realizado dia 28 de janeiro de 2012 – Crédito: Acervo Grupo EP Jornal A Cidade

A Cidade – 120 Anos

O especial A Cidade – 120 Anos é um projeto multimídia do acidade on Ribeirão, em parceria com o curso de Jornalismo da Unaerp e o Acervo EP/ A Cidade. 

Esta produção é dos alunos do curso de Jornalismo da Unaerp Eduardo Vergani Barbosa, Gabriel Soares Santana, Leonardo De Oliveira Mendes e Igor Penha Sobottka, sob supervisão dos professores Gil Santiago, Guilherme Nali, Jefferson Barcellos, Elivanete Z. Barbi e Flávia Martelli.

Notícias Relacionadas