A pesquisa brasileira na berlinda: os cortes nas bolsas de pesquisa acadêmica
O Brasil acompanha, de forma ostensiva na mídia, os cortes nas bolsas de pesquisa das principais Universidades do país

"O Brasil acompanha, de forma ostensiva na mídia, os cortes nas bolsas de pesquisa das principais Universidades do país. Em meio a tantas notícias sobre a temática, é preciso apontar a importância das agências de fomento, responsáveis pelo custeio de tais bolsas. A primeira, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) foi criado em 1951 e atualmente é alocado junto ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação (MCTIC), com a incumbência de formular e executar políticas de ciência, tecnologia e inovação. Neste sentido, a missão do CNPq é "contribuir para o avanço das fronteiras do conhecimento, o desenvolvimento sustentável e a soberania nacional" (CNPq, 2019).
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), também tem um protagonismo na concessão de bolsas de pesquisa; formalmente atrelada ao Ministério da Educação, foi criada no segundo governo Vargas, com a missão de promover pessoal capacitado para o desenvolvimento do país, vislumbrado para o período. Nascia, assim, sob a égide de um aperfeiçoamento de profissionais adequados para os desafios econômicos e sociais de então: "Em 1952, a CAPES iniciou oficialmente seus trabalhos, avaliando pedidos de auxílios e bolsas. (...) Em 1961, a CAPES passou à subordinação direta da Presidência da República e lá permaneceu até 1964, quando retornou à administração do Ministério da Educação e Cultura MEC , sob nova direção e na condição de Coordenação" (CAPES, 2019)." Luciléia Colombo, professora adjunta do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas.
"Em 2018, as faculdades de Ciências Farmacêuticas (FCF), Ciências e Letras (FCL), Odontologia (FO) e o Instituto de Químicas, partes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), ofereceram 10 cursos de graduação e atenderam, com isso, 4.844 estudantes. 652 novos profissionais saíram dessa universidade em 2018*. Na pós-graduação, 19 programas foram ofertados pela instituição, atendendo assim mais 1.938 estudantes.
Essa não é uma realidade exclusiva de Araraquara: toda cidade que abriga, hoje, uma universidade pública sabe o que é a periódica chegada de estudantes. São quase 7.000 pessoas que passam a viver e a movimentar a economia local, muitos graças à atuação na pesquisa e na extensão com o recebimento de bolsas.
A pesquisa acadêmica é parte constituinte de todas as ciências e áreas do conhecimento e os dados e rankings nacionais e internacionais** mostram que ela acontece, de maneira esmagadora, nas universidades públicas. Ela é responsável por grande parte dos avanços tecnocientíficos que contribuem para o desenvolvimento de uma nação, seja com inovações na saúde e na tecnologia, seja na compreensão, interpretação e explicação de fenômenos, problemas e processos sociais.
É preciso que estudantes, pesquisadores e, principalmente, a sociedade em geral passe a compreender o desenvolvimento da ciência no Brasil como um trabalho, tanto o trabalho que equivale à materialização do ser humano na natureza exterior quanto a atividade realizada mediante contrato e remuneração." Laura Pereira, pesquisadora e estudante de Ciências Sociais.
*Anuário Estatístico 2019. Disponível em https://ape.unesp.br/anuario/.
**Um exemplo são os dados levantados pelo relatório Research in Brazil da Clarivate Analytics, disponível em https://www.capes.gov.br/images/stories/download/diversos/17012018-CAPES-InCitesReport-Final.pdf.