Você já deve ter ouvido expressões como “criado mudo”, “ovelha negra”, “lápis cor da pele”, “mulata”, “da cor do pecado”, entre outras no dia a dia. Muitas vezes essas expressões são naturalizadas em tons de “brincadeira” ou “elogio”, mas são expressões racistas que deveriam ser excluídas do vocabulário.
No dia 20 de novembro é celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra, e também data de morte de Zumbi dos Palmares, um dos principais líderes quilombolas do Brasil Colonial que lutou contra a escravidão.
Alessandra de Cássia Laurindo, cientista social e coordenadora de Políticas Étnico-Raciais de Araraquara, apontou que essas expressões são verbalizadas no cotidiano por ser fruto de um racismo estrutural.
“Muitas vezes as pessoas que as proferem nem sempre percebem o quão ofensivo é associar tudo que é negativo ou ruim a cor preta, ou a pessoa negra”, comentou.
Para Alê Laurindo, as declarações discriminatórias por vezes são minimizadas deixando marcas em negros e negras, em especial em crianças negras.
“Tudo fica pior quando tentamos argumentar sobre o assunto e logo vêm a tal expressão de que é mais um mimimi, não se importando com as marcas que atitudes como essas podem deixar, em especial as crianças negras”, explicou.
No Brasil, a Lei 10.639/03 instituiu a obrigatoriedade do ensino sobre a história e cultura afro-brasileira nas escolas do ensino fundamental e médio. A educação antirracista é um dos principais caminhos práticos para a desconstrução de expressões racistas.
“Em 2021 completamos 18 anos da Lei que institui a obrigatoriedade do ensino afro nas escolas, é um dever legal e moral que a educação Antirracista seja uma prática usual no ambiente escolar e consequentemente a desconstrução do Racismo estrutural, seja uma missão para todos e não só em novembro, mas o ano todo”, apontou Alê Laurindo.
Confira 10 expressões que devem ser revistas e excluídas do vocabulário cotidiano:
1 – CRIADO MUDO
O móvel remete ao período de escravidão no país, onde escravos ficavam em uma posição imóvel ao lado da cama dos “senhores” para servir a qualquer momento. Dica: substitua por mesinha de cabeceira ou mesinha lateral.
2 – MULATA/MORENA
Mulata vem do substantivo mula, um animal do cruzamento entre burro e égua. Filhas de mulheres negras com homens brancos eram chamadas “mulatas”.
A expressão hipersexualiza a mulher negra, objetificando seus corpos e aludindo ao tráfico humano.
Dica: chame pelo nome
3 – CABELO RUIM/CABELO DURO
É a depreciação do cabelo afro causando baixo autoestima e traumas, chamar “cabelo duro”, “cabelo bombril”. Essa opressão estética afeta muitas mulheres negras ao não aceitarem o próprio cabelo, sem contar as crianças que sofrem racismo e bullyng nas escolas por seus penteados afros. Dica: não dizer.
4 – DA COR DO PECADO
Outro termo sobre a hipersexualização da mulher negra em forma de “elogio”, e traz o pecado de forma negativa. Como se nascer negra (o) fosse um pecado. Dica: não dizer.
6 – DENEGRIR
Palavra muito utilizada para difamar outra pessoa, quando seu significado real é “tornar negro”. Dica: troque por calúnia ou difamação.
7 – NASCEU COM UM PÉ NA COZINHA
Uma infeliz recordação da época da escravidão, onde as mulheres negras ficavam segregadas na parte da cozinha da “casa grande”. Termo racista que se refere para falar da origem de uma pessoa negra.
Dica: não dizer
8 – LÁPIS COR DA PELE
Desde pequena, a criança aprende que “cor de pele” é o lápis meio bege, como se fosse a única cor aceitável para a pele. A expressão é muito recorrente em ambientes escolares e o tom bege não representa a pele de todas as pessoas. Dica: não dizer
9 – A COISA TÁ PRETA/SERVIÇO DE PRETO
Quando a palavra ou preto (a) aparece de forma ruim, e as expressões traduzem tarefas malfeitas, ou realizadas de forma equivocada associando a um trabalho feito por um negro, é sinal de racismo. Dica: não dizer.
10 – MACUMBEIRO/CHUTA QUE É MACUMBA
Expressão discriminatória sobre as práticas religiosas de matriz africana. Dica: não dizer.