Hoje o sentimento é de gratidão. Jacqueline*, de 47 anos, que viu de perto a crueldade do mundo, encontrou na solidariedade a esperança para seguir em frente, sem esmorecer.
Há uma semana, ela e o filho, 17, perdiam o pouco que tinham. Os dois foram agredidos, ameaçados e tiveram seus pertences incendiados, na região da Vila Xavier.
Em meio ao desespero, ela conta que foi acolhida pela cidade. “Como se fosse a minha terra de origem. Só tenho a agradecer, de coração”, fala emocionada.
O sentimento de gratidão é ainda maior pelo filho. “Ele ganhou caderno, lápis, mochila, até uniforme. Então, ele tem como estudar”, comemora. Além do material escolar, a família recebeu roupas e cestas básicas.
Na última sexta-feira (11), após a noite de violência, mãe e filho foram acolhidos por serviços de proteção social do município, e naquele mesmo dia foram recebidos na casa de um familiar, no Jardim das Hortênsias.
Em uma semana, a vida deles começou a mudar, e Jacqueline* que é pedagoga por formação está a poucos passos de conseguir voltar a exercer a profissão.
Nos últimos dias, surgiu a oportunidade para dar aula particular para uma criança. Mas, para que isso aconteça é preciso resolver ainda algumas consequências do incêndio.
“Eu fiquei sem meus documentos e sem o meu diploma. Eu preciso dele para provar a minha formação”, explica. “Mas o moço da prefeitura que esteve aqui na semana passada disse que vai me ajudar”, completa.
Enquanto esta etapa não se concretiza, ela está trabalhando como temporária no restaurante de um posto de combustível, em Limeira cidade que fica a 136 km de Araraquara. O emprego foi indicação de uma conhecida.
“É um bico que estou fazendo, mas tem um quartinho, e eu passo alguns dias por lá”, conta.
O filho que sonha em ser médico já voltou para escola. Ele continua na casa de um familiar, dividindo o espaço pequeno com outras pessoas.
Jacqueline* explica que, nos dias em que estiver em Araraquara, vai ficar na casa que tinha na antiga Estação do Ouro, antes de ocupar a propriedade, na Vila Xavier.
“Já melhorou bastante e vai melhorar ainda mais. Só tenho que agradecer”, finaliza.
*O nome completo e o rosto da vítima foram preservados pela reportagem