Laudo de 56 páginas produzido pelo Instituto de Criminalística concluiu que houve ocultação de provas durante a investigação da morte do empresário Fábio Luiz Alves Gaspar, de 39 anos, em uma casa noturna, no Centro de Araraquara.
O advogado que representa o Almanaque Bar & Club foi procurado pelo acidade on e disse que só irá se manifestar no processo.
O material tem 35 fotografias que ilustram os momentos que sucederam às agressões ao empresário por seguranças do estabelecimento no dia 1º de setembro desde ano.
De acordo com os peritos, poucas horas após o fato, foi constatada a remoção, ou o simples desligamento, de um dos discos rígidos responsáveis pelo armazenamento das imagens, e que ocorreu a formatação de um HD por quatro vezes.
Os peritos, porém, conseguiram recuperar 40 minutos de gravações do dia 1º e quase 7 horas do dia seguinte, nos momentos em que o HD ainda estava em operação.
Foi constatado, então, que as câmeras, que se mostravam inicialmente inoperantes nos arquivos encontrados estavam funcionando normalmente antes da remoção do HD e do processo de formatação do HD, indicando que foram deliberadamente desconectadas do equipamento.
Instituto de Criminalística
As imagens analisadas pelo IC mostram três pessoas no interior do escritório da boate. Enquanto um homem manuseia o HD, que aparenta ter sido removido do interior do DVR [gravador de vídeos], uma mulher enrola um cabo removido e o coloca em uma sacola.
Na sequência, outra mulher limpa a mesa, o local do DVR, a porta e outros objetos com um pano, “aparentando tentativa de remoção de impressões digitais.”
Um dos arquivos recuperados revela ainda quando duas pessoas chegam de moto, entram no estabelecimento e se direcionam ao escritório. Segundo os peritos, um homem leva um HD, coloca sobre a mesa e pega ferramentas de uma caixa. Em seguida, ele se aproxima do local onde estava instalado o equipamento desligado e religa a gravação.
No dia seguinte ao crime, mais de seis horas de gravações foram entregues à Polícia Civil pelo estabelecimento, porém, nenhuma mostra o momento em que Fábio foi contido pelos seguranças.
No dia 3, policiais civis cumpriram o primeiro mandado de busca e apreensão e encontraram apenas arquivos formatados. Os investigadores, então, retornaram ao estabelecimento no dia 11 com nova ordem judicial, onde foi apreendido outro HD e que continha todas as imagens.
Procurada para comentar o assunto, a advogada Josimara Veiga Ruiz, que represa a família de Fábio Cross, disse que os laudos que estão chegando aos poucos confirmam que houve ocultação de provas.
“Fato bastante grave, um escárnio para com a justiça e a sociedade. Fábio foi violentamente agredido nas dependências internas da casa noturna, fora da vista do público. A verdade aparecerá e os culpados serão punidos nos rigores da lei”, disse.
A MORTE DO EMPRESÁRIO
O empresário morreu no dia 1º de setembro em decorrência de parada respiratória. O caso foi registrado como Morte Suspeita no Plantão Policial e, no dia seguinte, a Polícia Civil instaurou inquérito para apurar eventual homicídio.
Fábio Cross recebeu os primeiros socorros de um bombeiro civil da casa noturna até a chegada do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Ele foi reanimado por 40 minutos e chegou sem vida à Santa Casa.
Porém, o laudo necroscópico do IML (Instituto Médico Legal) não foi conclusivo e apontou que a morte ocorreu por fatores que ainda não puderam ser apurados.
A DIG (Delegacia de Investigações Gerais), responsável pela investigação, aguarda ainda os resultados de um exame toxicológico e anatomopatológico, que podem apontar a presença de drogas no organismo ou alguma doença pré-existente, antes de dar prosseguimento a natureza do crime.
O CRIME
A Polícia Militar informou que foi acionada pelo gerente interino do estabelecimento, dizendo que o empresário estaria alterado e gerando reclamações de clientes e que, diante do mau comportamento, dois seguranças precisaram intervier.
O gerente relatou ainda que a vítima não gostou da advertência e lançou uma garrafa de whisky no chão, momento em que foi imobilizado pelos seguranças, na tentativa de colocá-lo para fora. Segundo ele, neste instante, a vítima começou a passar mal.
As investigações apontam que as agressões não ocorreram em uma sala isolada da casa noturna, mas sim em um corredor que dá acesso à saída do estabelecimento e seria utilizado pelos próprios seguranças para colocar clientes para o lado de fora em caso de desentendimentos.
A DIG teve acesso à íntegra das imagens após cumprir os dois mandados de busca e apreensão. Porém, este material ainda está em anélise no IC. Além dos próprios seguranças, os investigadores ouviram o proprietário da casa noturna, clientes e familiares da vítima.