
Em quase 30 anos, cerca de 8 mil pessoas foram localizadas com a sua ajuda e de seu companheiro inseparável: o rádio amador. "Penso que Deus me deu essa missão, de ajudar as pessoas e localizar desaparecidos", diz.
Como tudo começou
Com rádio amador, no final da década de 80, Zinho montou um grupo e começou a ajudar fazendeiros a avisar a polícia sobre casos de furtos. "Muitos animais eram furtados e naquela época, sem telefone, sem internet, a polícia demorava para chegar e com a ajuda do rádio, muitas vezes conseguíamos encontrar os animais que tinham sido furtados", diz ele.
Entre as missões daquela época, Zinho ajudou ainda uma família a encontrar um medicamento caro e raro que não existia no Brasil para um rapaz com problemas cardíacos. "Conversei com tanta gente pelo rádio, até que um médico na França ajudou e mandou várias caixas cheias pelo aeroporto", conta.

Foram anos nesta tarefa de mediador através rádio amador. Até que, em 1999, uma mulher procurou Zinho para que ele a ajudasse a encontrar o pai, que estava desaparecido. Foram meses e meses 'copiando' mensagens de caminhoneiros e outras pessoas que ajudavam nesta busca. "O pai dela tinha Alzheimer e com muita ajuda, através do rádio amador, conseguimos localizá-lo em uma fazenda em Rio Claro. Ele estava lá há três anos e não sabia mais quem era e de onde tinha vinho. Trabalhava como caseiro, mas sem ter um passado. Foi um reencontro muito emocionante", lembra ele.
Depois deste caso, Zinho se tornou uma espécie de 'detetive', criou a ONG Areia (Agrupamento de Rádio Emissão Independente Araraquara) e nunca mais parou de ajudar a encontrar pessoas desaparecidas.
"As pessoas começaram a me procurar e o rádio amador tem um alcance muito grande. Encontramos pessoas em todo o Brasil", diz ele, que calcula ter ajudado a encontrar mais de 8 mil pessoas em quase 30 anos, sendo que 20 somente em Araraquara. Como nem todos os casos tem final feliz, cerca de 20% dos casos quando a pessoa é descoberta ela não estava mais viva.
Desaparecidos
Zinho diz que vários fatores estão relacionados ao desaparecimento de pessoas: maus tratos, dificuldades de relacionamento com a família, tráfico de órgão, tráfico de drogas, dívida com drogas, dívidas em geral e até mesmo magia negra.
"As drogas acabam com a pessoa e destroem as famílias. Tivemos um caso, logo quando começamos, de uma mulher de 32 anos que saiu de casa para pagar uma conta e desapareceu. Ela foi encontrada um ano depois. Era usuária de drogas e aparentava ter mais de 50 anos. Uma tristeza, destrói toda a família", relata ele.
Entre os casos mais emocionantes que Zinho participou está um reencontro especial, entre a esposa dele e a irmã dela. Elas ficaram sem se ver durante 10 anos, desde quando a irmã saiu de casa e nunca mais voltou. "Encontramos ela em Manaus, tinha se casado com um pastor e formado família. O reencontro foi lindo, teve até equipes de televisão acompanhando", diz ele.

Os crimes envolvendo crianças são sempre bem marcantes, segundo Zinho. Em Araraquara o sumiço do menino Gabriel Ceribelli Goulart, de 11 anos, em agosto de 2013, foi uma prova disso. O caso mobilizou a cidade. Foram seis dias de desaparecimento até que o garoto foi encontrado morto no córrego do Tanquinho, no Jardim Veneza, Zona Norte de Araraquara. Dias depois, dois irmãos foram presos acusados de matar Gabriel para roubar sua bicicleta e seu celular.
"Eu estava em casa quando me chamaram porque haviam encontrado um corpo no rio. Eu já imaginei que seria do garoto. Uma história triste e como foi aqui do lado de casa, conhecemos pessoalmente a família, foi muito triste. Queríamos ter encontrado ele vivo, mas infelizmente, nem sempre as histórias terminam felizes", relata.
Já entre os casos mais intrigantes está o da menina Renata Helena Lobrigatti de Campos, desaparecida em 12 junho de 1997 em Araraquara, aos cinco anos. Desde então, a menina nunca mais foi vista. Um andarilho que confessou ter matado várias crianças chegou a confessar que tinha assassinado Renata, mas nunca houve provas. "Até hoje é um caso que não resolvemos. Ainda me intriga", diz ele.

Porém, depois de todos estes anos atuando como detetive, Zinho está preocupado e corre o risco de parar. Ele perdeu o emprego como vigilante, trabalho que rendia o sustento de sua família e também mantinha alguns trabalhos da ONG e sem ajuda financeira, a ONG Areia pode fechar.
"É preciso dinheiro para tudo. Pagar internet, telefone, tudo tem um custo e temos uma demanda de pessoas que ainda precisam ser encontradas", diz ele.
Zinho chegou a vender equipamentos para conseguir manter os trabalhos e agora busca outras colaborações.
Quem puder ajudar a ONG Areia, os telefones são (16) 3461-4541 ou (16) 99765-3965. A ONG fica na Avenida Arlindo Miguel, 84, no Jardim Adalberto Roxo, Zona Norte de Araraquara.
A ONG também tem uma conta onde podem ser feitos depósitos de qualquer quantia. Banco do Brasil, agência 0082-5/conta-corrente: 98.106-0.
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