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CotidianoColunistasUma cidade chamada Selmi Dei

Uma cidade chamada Selmi Dei

Uma das regiões mais populosas da cidade completa 40 anos de fundação

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“As pessoas queriam morar mais próximas do trabalho, no caso da fábrica Villares. A fazenda tinha algumas glebas que daria para urbanizar. Daí surgiu a ideia de se montar o Selmi Dei”, explica Noberto de Freitas, engenheiro responsável pela projeção de um dos maiores bairros da cidade, com uma população estimada em 30 mil pessoas.  

O loteamento foi aprovado dia 15 de julho de 1978, pelo então prefeito Waldemar De Santi. A fundação aconteceu dia 26 de julho de 1979, mesma época que a metalúrgica Villares, hoje Iesa, anunciava a instalação de sua unidade em Araraquara. “Muitos trabalhadores que chegaram para a fábrica também buscavam um lugar para morar”, explica.  

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O fazendeiro Roberto Selmi Dei tinha morrido em 1976 e suas filhas, Eliana, Eloisa e Elena, donas da Fazenda Três Irmãs, decidiram urbanizar uma gleba da fazenda, que era destinada ao pasto, para a construção de um novo bairro. “A área de pastagem que ficava a apenas um quilômetro da fábrica foi escolhida para o loteamento”.  

Na época, ninguém imaginava que aquela iniciativa era o início da formação da periferia da cidade e dos loteamentos populares, de baixo custo, que deram à população de baixa renda o acesso à casa própria.  
 

Procura surpreendeu
A princípio seriam desmembrados 700 lotes. “Fizemos uma pesquisa e os maiores bairros da cidade tinham 300 lotes. Abrimos 700, por causa da Villares”, lembra o engenheiro que veio para Araraquara especialmente para ajudar na formação do bairro.  

O lançamento do bairro foi uma surpresa. “O ponto de vendas foi o Banespa e a fila para a compra dos lotes deu duas voltas no quarteirão. Tivemos quatro mil pessoas interessadas”, recorda.  

Diante da procura, a área passou a ter 3,5 quilômetros de extensão e 3.303 lotes, que hoje formam os bairros Selmi Dei 1, 2 e 3. Esta era apenas a primeira etapa do Jardim Roberto Selmi Dei.  

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“O lançamento do bairro foi um evento atípico para a época, com campanha de marketing que incluiu comercial na TV, em rede nacional, no horário nobre. Todos os lotes foram vendidos em uma semana. As pessoas adquiriram o terreno e, ainda no final de década de 70, o Banco Nacional da Habitação [BNH] e a Companhia de Habitação [Cohab] Bandeirantes de Campinas se uniram para construir as casas populares”, afirma.  

“Daí a COHAB firmou uma parceria com a construtora Cia. Essende, que recomprou os lotes da população, construiu as casas todas com 50 metros quadrados e depois as financiou. Na maioria dos casos, quem comprou as casas foi quem já tinha adquirido o terreno”, conta Freitas.  

 
Perfil
Quando as casas ficaram prontas, em 1981, Freitas lembra que o perfil dos compradores se mostrou bem diferente do previsto inicialmente. “Ao invés de trabalhadores da Villares, as casas foram compradas pela população que morava de aluguel ou de favor na casa de parentes. Na época, os financiamentos atendiam famílias que ganhavam até três salários mínimos, o que não era tão pouco assim”, explica.  

A segunda etapa do bairro foi a construção dos setores 4, 5 e 6. Esses foram construídos em parte pela Cohab, em parte pela Caixa Econômica Federal (CEF) e ficaram prontos no final da década de 90. “Analisando todo o processo de criação do bairro, podemos dizer que o Selmi Dei garantiu acesso à casa própria a muitas famílias e deu início à periferia da cidade”, resume Freitas.  
 

Falta de estrutura
Mas por ser o primeiro grande loteamento, a administração municipal mostrou inexperiência ao aprovar o Selmi Dei sem a mínima infraestrutura. Alguns trechos ficaram décadas sem asfalto, por exemplo. As famílias também foram privadas de serviços básicos, como transporte público, que só chegou a 100% do bairro em 2007, com a finalização do asfalto nos setores 5 e 6.  

Hoje, com a urbanização da periferia, o Selmi Dei está próximo da cidade, mas quando o loteamento foi pensado, a distância do Centro era grande. Talvez por isso o local tenha se estruturado como um pequeno município, reunindo diversos estabelecimentos comerciais, escolas, postos de saúde e outros serviços.

Hoje é uma cidade  
O aposentado Anideus Gonçalves dos Santos, 63 anos mora há 40 anos no bairro. Ele foi um dos primeiros moradores e comprou um terreno e posteriormente uma casa, no setor 1. “Morava no Carmo de aluguel e vi aqui [no Selmi Dei] uma oportunidade da casa própria. Aqui montei minha família, criei meus filhos e estou até hoje. É um bairro muito gostoso e tranquilo”, diz ele.  

“Lembro que quando foi lançado, o bairro era o fim do mundo. O ônibus chegava até a Estância Uirapuru, a partir dali, era o poeirinha, porque não tinha asfalto. Hoje, o Selmi é uma verdadeira cidade, com comércio, igreja, lotérica. Aqui tem tudo”, diz o aposentado Anideus Gonçalves dos Santos, 63 anos mora há 40 anos no bairro.  
 

Também há muito tempo no bairro, 30 anos, Rosa Aparecida Belo Ferreira, de 65 anos, casou e já foi para o Selmi Dei. “Foi o nosso sonho da casa própria e estamos aqui até hoje”, diz ela.  
 
 
Tempo
Edson Marcos Cruz, de 48 anos é presidente da ONG Paz e Bem, que atua no bairro na área de recuperação ambiental. A ONG foi criada para recuperar o córrego do Tanquinho e atua com questões socioambientais. “O bairro é muito tradicional e com muita história, por isso, também montamos um projeto chamado Memória do Tempo, para recuperar a história do bairro com a ajuda dos moradores”.  

O Memória do Tempo relembra, por exemplo, que o primeiro morador do bairro foi o pedreiro Sebastião Roldam. Ele trabalhou como pedreiro até os 74 anos, depois disso, um acidente o deixou manco e passou a recolher sucata. Ele morreu aos 81 anos, em novembro de 2001.

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