A promotora de vendas Vanessa Aparecida da Silva, de 41 anos, está desde o começo do ano letivo tentando com que a filha Helena, de três anos, volte para escola. A pequena estuda no CER. Zilda Martins Pierri, no Jardim Paraíso, mas a turma dela está sem aula porquê a professora está em greve.
Vanessa trabalha fora de casa o dia todo e, nesse período sem aulas, a filha mais velha Caroline tem cuidado da irmã. “Eu trabalho o tempo todo, não vou para casa nem para almoçar. A única que fica com ela é minha filha maior, de 17 anos, mas as aulas dela voltam segunda-feira (2), então não tem quem fica com ela mais”, explica.
Há meses, Vanessa entra em contato com a escola em busca de uma solução. “A escola alega que a professora está em greve e não pode colocar uma professora substituta para suprir a necessidade. Alguns alunos colocaram em outra sala, mas a Helena não colocaram. Eu já liguei na delegacia de Educação, no conselho e não sei mais o que fazer”, diz.
Caroline, a irmã mais velha que costuma cuidar de Helena enquanto a mãe trabalha, estuda no E.E. Pedro José Neto, onde o ensino é integral e as aulas presenciais estão prestes a voltar. “Ela já perdeu um ano e meio de escola, está no terceiro ano. Ela tem que agarrar esse meio ano como se não houvesse amanhã. É o terceiro ano, tem um monte de coisa envolvida, tem Enem, faculdade e está difícil. Não sei mais o que fazer”, conta.
Helena não vai para escola desde que as aulas foram suspensas no começo da pandemia, em março de 2020. “Eu mando mensagem toda semana, mas eles só dizem que a professora não voltou e não tem previsão. A Helena fala todos os dias de voltar para escolinha e brincar com os amiguinhos. Ela ama fazer as atividades que passam online, tem muita vontade de aprender”, relata.
Com a filha mais velha de volta às aulas presenciais, Vanessa diz que não sabe mais o que fazer para conseguir com que Helena possa voltar para escola também. “A greve é um direito da professora, mas eu também tenho direito de mandar minha filha para escola. Até então não estou tendo meu direito com a vaga na escola”, finaliza.
OUTRO LADO
Procurada pela reportagem do portal ACidadeON Araraquara, a Prefeitura de Araraquara afirmou que não é possível transferir ou substituir os servidores em greve porque a lei trabalhista impede. “No caso, com o retorno gradual dos profissionais que tomaram as duas doses da vacina (nos termos do Decreto nº 12.611/2021- 15 dias após a segunda dose), será possível atender mais e melhor aos alunos na referida unidade”, diz a nota.
Procurado, o Sindicato dos Servidores Municipais de Araraquara e Região (Sismar) afirma que o nível de transmissão da covid-19 em Araraquara está fora de controle, segundo parâmetros adotados por instituições científicas, como a Fiocruz e o CDC norte-americano.
“A maioria dos profissionais da Educação ainda não completou o esquema vacinal e as crianças e adolescentes não tomaram nem a primeira dose da vacina. A variante Delta já está em transmissão comunitária no Brasil e afeta principalmente os não vacinados totalmente, inclusive crianças e adolescentes, como está sendo em Israel e boa parte da Europa e nos EUA”, afirma em nota.
“Um surto no CER José Alfredo Amaral Gurgel em abril vitimou duas professoras e o número de infectados e outras possíveis mortes a partir deste surto são incontáveis. Está claro que não há segurança para reabertura presencial nem de escolas e muito menos bares, cinemas e restaurantes ou qualquer outra atividade coletiva em ambiente fechado em Araraquara neste momento”, completa.
O Sismar afirma ainda que nenhum trabalhador deve ser obrigado a se expor ao vírus e a morte. “Estamos do mesmo lado de pais e mães que precisam da escola aberta. Nós queremos exatamente a mesma coisa, mas quando houver controle da pandemia e segurança para isso. Não vamos morrer trabalhando”, finaliza.