Qual o período de uma gestação? Por quanto tempo uma mãe é capaz de esperar por um filho? No caso da psicóloga de Araraquara, Daniela Juliane Cucci de Carvalho, de 45 anos, este sonho levou oito anos até se tornar realidade.
O Bernardo chegou em 2018 quando tinha apenas seis meses de vida, após um longo caminho que começou a ser trilhado em 2010, quando a psicóloga decidiu entrar na fila de adoção. Neste domingo (14), a Daniela comemora o quinto Dia das Mães ao lado do pequeno.
“Eu sempre tive o desejo de ser mãe e eu não me via passar por esta vida sem realizá-lo e, para mim, não importava de que forma seria essa maternidade, de que forma que viria esse filho”, contou.
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Durante este período de “gestação”, a Daniela passou por muitas coisas: se separou, conheceu outra pessoa, engravidou e sofreu um abordo espontâneo. Mas a mais importante de todas as transformações surgiu com a chegada do filho.
“Desde a primeira noite em casa, parece que eu já sabia quando tinha que trocar a fralda, quando ele ia mamar, quando ia acordar. Parece que você já conhece aquela criança. Foi um encontro”, afirmou.
O Bernardo era muito esperado. Ele foi a primeira criança na família da Daniela após 30 anos. Desde o primeiro contato (foto 1) até a guarda definitiva foram apenas sete meses.
“Ele completou uma parte da minha vida que eu nem imaginava, mudou minha vida totalmente, me trouxe muito conhecimento, me ensina muito. Quando a gente viu o mar pela primeira vez, a primeira viagem, o primeiro dia na escola. Sempre que ele faz alguma coisa pela primeira vez, é muito emocionante. É muito gratificante vê-lo descobrir o mundo, descobrir as coisas”, disse.
O caminho que a psicóloga Janaina Rodrigues Sperti, 49, percorreu até receber o Samuel nos braços também foi longo. Uma gestação que levou cinco anos e quatro meses até se tornar realidade em março de 2019, quando ela encontrou o filho pela primeira vez.
“Foi uma gestação bem demorada. A gente já achava que não ia acontecer porque cada ano que passava e não era chamado, a gente criava uma expectativa e se frustrava”, lembrou.
A Janaina tem ovário policístico e engravidar só seria possível por inseminação artificial. Mas sem a garantia de que o procedimento daria certo, ela e o marido decidiram que a realização do sonho da maternidade não seria pela barriga, mas, sim, pelo coração.
Quando chegou o Samuel tinha um ano e três meses e logo no primeiro contato, ainda em uma sala com a presença de uma assistente social, nasceu o maior amor que a Janaina poderia sentir por alguém: o de mãe.
“Ela [assistente social] perguntou se eu queria dar mama para ele. Aí ele já veio no meu colo, eu dei aquela mamadeira, depois ele ficou brincando comigo e com meu marido. Já nas próximas visitas, ele vinha brincar com a gente, vinha no colo e na hora de se despedir, que ele tinha que ficar e a gente ir embora, ficava um aperto no coração”, lembrou sobre o período de adaptação.
E o fim desta gestação não poderia ter sido melhor. O Samuel foi adotado uma semana antes do Dia das Mães, foi o melhor presente que a psicóloga poderia ter recebido.
“Quando a gente o conheceu não tinha dúvidas, sabia que ele seria o nosso filho. O engraçado é que desde a primeira visita o psicólogo falou que ele era a minha cara, que ele se parecia comigo. Depois disso, todo mundo da família, na creche, a professora, médico, todo mundo relatou que fisicamente ele se parece comigo”, contou.
Os lábios, o sorriso, o cabelo cacheado e até os olhos. Para a Janaina, tudo se assemelha.
Com a maternidade vieram os desafios da educação, inerente a qualquer família, mas, acima de tudo veio o amor incondicional que só uma mãe é capaz de sentir. Para estas duas mulheres, que escolheram esperar por seus filhos, não existe qualquer diferença entre o coração e a barriga.
“Hoje em dia eu não viveria mais sem o Samuel, sem esse amor, sem a alegria, sem a presença física dele. Ele preencheu tudo que faltava na nossa vida. Acho que não tem nada maior no mundo do que o amor de mãe e por ele a gente faria qualquer coisa. Não tem essa de mãe biológica, mãe do coração, mãe é mãe, é o maior amor que existe”, disse.
“Várias vezes as pessoas falam para mim: ‘nossa, que sorte que ele tem de ter encontrado você’ e eu acho que a sorte foi minha”, concluiu Daniela.
COMO ADOTAR
Tanto a Daniela quanto a Janaina permanecem na fila da adoção. Se virá um irmãozinho ou irmãzinha para o Bernardo e o Samuel só mesmo o tempo é capaz de dizer.
Quem sonha com a maternidade assim como elas e desejam trilhar o caminho da adoção, deve estar ciente de que será uma longa jornada.
Segundo o advogado Guilherme Galhardo, primeiro é preciso procurar pela Vara da Infância e Juventude, cadastrar-se e, através de uma petição, requerer a adoção. Na sequência, a Justiça vai decidir por meio de laudos técnicos se o interessado atende as exigências legais.
A lei estabelece que o futuro papai ou mamãe tenha no mínimo 18 anos. Também é preciso respeitar a diferença de 16 anos entre a criança e o adolescente e quem está disposto a adotar.
“É importante ter o laudo, que é exigido por lei, referente a possibilidade ou não da adoção, se o estilo de vida é compatível com o da criança, se as razões não são equivocadas, tudo é avaliado”, explicou.
Passada a fase burocrática, a família recebe uma guarda provisória até a conclusão do processo, que termina com o novo registro de nascimento. A adoção é definitiva, por isso que as famílias passam por um estágio de convivência, que é acompanhado por uma equipe multidisciplinar, responsável por recomendar ou não a adoção.
“Decidir por ter um filho perpassa por questões particulares, desde desejo, família e sonhos, mas, justamente, por ser uma criança em uma situação especial que o pai e a mãe têm que estar dispostos a entender a criança, resguardar e abraçar de uma maneira especial, como uma criança que foi cedida para adoção precisa e merece”, concluiu.