Com os olhos cobertos de lágrimas, Silvia Aparecida Alves Moreira, de 42 anos, foi colocando em um caminhão o pouco que conquistou nos últimos meses. Na manhã desta terça-feira (23), ela e o marido foram despejados do casarão em que moravam na Vila Xavier, em Araraquara.
“É simplesmente juntar as coisas e sair. Já passei por tantas coisas, é só mais uma guerra para enfrentar“, disse emocionada após um longo silêncio.
Aos poucos, ela foi se desfazendo da casa em que morou no último ano. Os alimentos que estavam em uma pequena dispensa, as roupas e até uma imagem de Nossa Senhora Aparecida foram colocados em caixas.
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Encostada na soleira da porta, ela lembrou as dificuldades que enfrentou até chegar ali para recomeçar a vida debaixo de um teto invadido. “Devido a problemas com a família, fui para rua. Como não tive para onde ir, as pessoas que moravam aqui me cederam este espaço para morar e eu só agradeço. Aqui era minha vida“, disse.
Com muito sacrifício, Silvia e o marido compraram os poucos móveis que tinham. A energia elétrica chegava através de ligações clandestinas. A água os moradores buscavam ali perto com garrafas e galões.
A moradora contou que seu sonho era reformar o casarão, pintar a fachada, mas que não teve tempo. “Eu só queria uma oportunidade, um ano para transformar este casarão”, sorriu desapontada.
Com o despejo, Silvia esperava se mudar para o bairro Valle Verde, na casa da mãe, que morreu há dois meses. Mas as irmãs teriam rejeitado a ideia.
O casal foi encaminhado para a Casa de Acolhida, mas os demais moradores disperam o atendimento. “Passa tanta coisa na cabeça, é difícil. É tentar mais uma vez.”
CRIMINALIDADE
O casarão em que a Silvia, o marido e outras três pessoas moravam mais recentemente era alvo constante de reclamação de vizinhos devido à incidência de consumo de drogas e criminalidade. Em abril, a GCM prendeu o suspeito de roubar a casa de uma idosa na Vila Melhado.
“Existiam pessoas que transitoriamente vinham e saiam, inclusive, envolvidas em crime. Já foram feitos flagrantes aqui de pessoas que praticaram crimes em outras regiões da cidade e acabaram vindo para o casarão”, afirmou o coordenador municipal de Segurança Pública, Alexandre Pomponi.
A Silvia reconheceu o problema, mas fez questão de afirmar que apesar da invasão sempre levou uma vida honesta, trabalhando como faxineira e fazendo bicos como auxiliar de cozinha, e o marido como pedreiro.
“Tinha muita gente ruim aqui, que maltratava outras pessoas, entre eles mesmos. E eu comecei puxar para o meu lado e explicar: vamos arrumar, limpar. E eu consegui puxar as pessoas boas do meu lado e colocamos os vagabundos, ladrão para fora. Hoje, eu posso falar que só tem coisas boas, pessoas honestas, que saem para trabalhar, que não tiveram oportunidades e acharam aqui uma moradia, construíram uma vida aqui“, concluiu.
RISCO DE QUEDA
Na manhã desta terça-feira (23), o antigo casarão da Avenida Padre Luciano, na Vila Xavier, em Araraquara, começou a ser desocupado. O local apresenta risco estrutural e foi interditado para evitar novas invasões.
De acordo com Alexandre Pomponi, parte da estrutura do imóvel, que pertence à prefeitura, está comprometida e colocava em risco, inclusive, a segurança de todas as pessoas.
“A Defesa Civil fez a vistoria e constatou que partes do imóvel têm riscos de queda e as pessoas que tinham invadido, inclusive, estavam sob risco. Existe uma lei federal que dá competência para o município desocupar e fechar o local e evitar que as pessoas fiquem em risco”, explicou.
Após a desocupação, o casarão foi interditado. Ainda nesta semana, a secretaria de Obras e Serviços Públicos deve isolar o local.
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