A expressão do rosto, o brilho dos olhos, a coloração da pele, a textura do cabelo. Os bebês reborn, como ficaram conhecidos, impressionam pelo realismo e pela quantidade de detalhes. Mais que um brinquedo, são um negócio para artesãs de Araraquara e uma forma de arte para seus apreciadores.
Maria Madalena Paz Andrade, de 62 anos, trabalha com a confecção de bebês reborn há 12 anos, antes mesmo da recente onda ganhar as redes sociais. É um trabalho minucioso, que pode levar até 20 dias para ser concluído.
“São muitas camadas, é uma pintura 3D. Muitas vezes, a gente não encontra o produto aqui e tem que importar. O olho, por exemplo, eu compro importado. O cabelo, eu uso pelo de cabra, que compro do Canadá. Eu sempre tenho no estoque, mas, se a pessoa pede uma cor que eu não tenho, terá que esperar chegar, porque é um produto bem específico, difícil de conseguir”, explicou.
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Tantos detalhes têm um preço, e cada boneca pode custar até R$ 2,2 mil. O valor, porém, não assusta seus apreciadores. Entre o Dia das Crianças e o Natal, por exemplo, a artesã chega a vender até 80 unidades.
Segundo ela, a demanda cresceu nos últimos anos, principalmente como forma de afastar as crianças das telas. E é justamente esse o seu maior público: meninos e meninas, principalmente na faixa etária dos 7 aos 10 anos.
As mães estão tentando prorrogar mais a infância, esticar ao máximo, e também tentando aflorar mais o instinto maternal das crianças”, contou.
Maria Madalena Paz Andrade – artesã
Em 2008, a professora Vanessa Affonso Nunes, 50, se apaixonou pela arte reborn e comprou sua primeira boneca. Hoje, ela tem cinco, e três delas foram encomendadas com as características dos seus filhos.
“É uma obra de arte realista. O que mais me encanta são as suas peculiaridades. Nos traz a emoção de segurar um filho novamente no colo”, explicou.

Das mãos da artesã Lígia Maria Moreira Simões, 48, as bonecas ganham as feições de uma criança de verdade. O peso, o movimento do corpo e da cabeça, as dobrinhas e as marquinhas na pele conferem ainda mais realismo.
“Demorou uns três anos [para desenvolver todas as técnicas do realismo] e ainda falta bastante, porque eu vou aprimorando para os meus clientes”, comentou a artesã, que trabalha com a arte reborn há seis anos.
Na sua loja, localizada no Jardim das Estações, ela atende crianças, idosos, meninos e meninas. Os bebês podem custar até R$ 700 e todos vêm acompanhados por acessórios, pulseira de maternidade e até mesmo certidão de nascimento.
“A criança acha que está pegando um bebê real. Antigamente, as bonecas tinham corpinho rígido, não tinham peso. Hoje, a gente faz o molejinho da cabeça, imitando o bebezinho real. O próprio material ficou mais macio. O meu objetivo é que a criança fique realizada em todos os sentidos”, concluiu Lígia.

ONDA DAS REDES SOCIAIS
Diante da onda das bonecas realistas que ganhou a internet recentemente, a procura também aumentou. Maria Madalena conta que tem recebido, em média, 10 ligações todos os dias de pessoas interessadas nos bebês que viralizam em publicações.
Para ela, esse movimento distorce a arte reborn, pois é feito apenas para monetizar e ganhar visualizações, não refletindo a arte e o verdadeiro trabalho que existe por trás.
“É um movimento que acaba prejudicando as pessoas que têm um trabalho sério e distorcendo para outra finalidade. A gente põe muito carinho, a gente põe afeição, a gente põe uma energia boa quando está produzindo. Porque produzir uma coisa bonita é como produzir um quadro, uma obra de arte. Então, a gente põe o coração naquilo”, explicou.
Nas últimas semanas, vídeos de adultos levando bonecos a hospitais e mulheres promovendo encontros de “mamães de bebês reborn” movimentaram as redes sociais.
Para a professora Vanessa, esse movimento atual é “uma distorção enorme do que realmente significa para os apreciadores da arte reborn.”