
Nos últimos 12 anos, Araraquara ganhou dois veículos para cada novo habitante. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) mostram que o aumento da frota foi duas vezes maior que o crescimento populacional da cidade.
Entre 2010 e 2022, a frota registrou um aumento de 54%, passando de 127 mil para 196 mil veículos, entre carros, motos, caminhões e etc. Em números absolutos, são 69 mil veículos a mais circulando nas ruas.
Por outro lado, a população de Araraquara cresceu apenas 16%, com pouco mais de 33 mil novos moradores, de acordo o Censo 2022, divulgado na última quarta-feira (28). Atualmente, 242 mil pessoas vivem aqui.
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Segundo Luciana Márcia Gonçalves, professora de engenharia urbana da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), este aumento revela uma mudança comportamental que influencia a aquisição de veículos e interfere diretamente no planejamento das cidades.
“As pessoas podem ter carro, mas será que precisam usar todos os dias para trabalhar, voltar, ir ao supermercado?”, questionou.
Para a especialista, é preciso planejar as cidades investindo em alternativas de transporte e descentralizando o comércio e serviços, como forma de reduzir o fluxo para o Centro, que é o maior gargalo da cidade, principalmente, nos horários de pico.
“A gente se preocupa com este volume de carro indo sempre para o mesmo local, principalmente, para área central. Então, é preciso valorizar o transporte coletivo eficiente e incentivar as bicicletas“, destacou.
Para o especialista em trânsito e professor da USP (Universidade de São Paulo), José Leomar Fernandes Junior, este crescimento desproporcional reforça que as políticas de incentivo ao uso de transporte coletivo não surtiram efeito nos últimos anos ou não foram colocadas em prática.
“Já temos como resultado do aprendizado do que aconteceu nos países que nos servem de referência técnica que é preciso incentivar o transporte coletivo e os modos não motorizados”, introduziu. “Se você não atrai a classe média, não tem rentabilidade. Não tendo recurso, não se investe em qualidade e as pessoas vão buscar alternativas“, completou.
CARRO É MAIORIA
Com uma alta de 47%, a frota de automóveis foi a que registrou maior crescimento, saindo de 75 mil veículos para 111 mil. Na sequência, aparecem as motocicletas que tiveram um salto de 42% com 12 mil motos a mais nas ruas – hoje, são 40 mil, ante a 28 mil de 2012.
Luciana destacou ainda que não é possível ampliar o sistema viário, por isso que o caminho para uma cidade planejada e sustentável passa pela possibilidade de mudança de comportamento, transporte mais eficiente e alternativas de modais, inserindo a bicicleta como alternativa viável para o trabalhador, por exemplo.
Estas mudanças, segundo ela, são discutidas nos planos Diretor e de Mobilidade e ajudam a pensar no futuro e a disciplinar o que já foi impactado.
O sistema viário não tem mais como ampliar, é o mesmo. É impraticável, hoje, desapropriar ou fazer grandes obras neste sentido. Então, é necessário pensar em mudança de comportamento e a possibilidade de alternativas de trajeto, como opções no trânsito para fugir das áreas centrais”, afirmou.
José Leomar segue o mesmo raciocínio. Para ele, a procura pelo transporte individual, seja por meios próprios ou em aplicativos de viagem, mostra a necessidade de se investir no transporte coletivo e em corredores destinados exclusivamente para bicicletas.
“Não existe uma malha cicloviária efetiva para ser utilizada no deslocamento ao trabalho, a escola, e que possa ser feita com qualidade, principalmente, segurança. Um deslocamento muito longo precisa estar coordenado com o transporte coletivo. Então, não vemos políticas que já foram colocadas em outros países e não conseguimos replicar no Brasil“, concluiu.
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