O aniversário de Araraquara, comemorado no dia 22 de agosto, seria o próximo compromisso da Banda Marcial “Chiquinha Gonzaga”. Porém, sem maestro, a apresentação não deve acontecer após 23 anos de história.
“Todos nós ficávamos muito ansiosos para o desfile da cidade; era a apresentação que todos nós esperávamos durante o ano todo”, lamentou Vitor Costa da Silva, 15, que faz parte do projeto há três anos, tocando quadritom.
- Participe do nosso grupo no WhatsApp (Clique aqui)
- Participe do nosso Canal no Whatsapp (Clique aqui)
- Participe da nossa comunidade no Telegram (Clique aqui)
Formada por alunos e ex-alunos da EMEF Professor Henrique Scabello, no Parque das Hortências, a banda se reuniu pela última vez em novembro do ano passado. Desde então, os encontros, que ocorriam três vezes por semana, deixaram de acontecer. Hoje, sem regente e sem um vigilante para abrir e fechar a escola para os ensaios à noite e aos sábados, o projeto está paralisado.
“Eu fico muito triste em ver todo o nosso esforço, os dias ensaiados, tudo o que a gente fez, lutou e batalhou ser jogado fora de repente. O fim da banda representa o fim de sonhos, da alegria que era participar dos desfiles e dos sonhos das crianças“, comentou o músico.

Em novembro de 2023, a banda foi homenageada com o Diploma de Honra ao Mérito, entregue pela Câmara Municipal de Araraquara. Cinco meses depois, a então coordenadora pedagógica do projeto, Silvia Regina Martins, recebeu o Colar de Honra ao Mérito Legislativo da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo).
O músico Carlos Eduardo Camargo Gomes, 17, que faz parte da banda desde 2022, lembrou que, por meio dela, pôde conhecer lugares novos, como a capital São Paulo. Para ele, o projeto representa inclusão social e representatividade da periferia.
“O projeto me ajudou bastante a ter convivência com pessoas, já que eu sou antissocial e, graças à banda, consegui superar meus medos, porque me sentia acolhido, confortável, pois sempre amei música. Ver como a banda está hoje me enche de tristeza, pois ela me ajudou muito e, possivelmente, ajudou outros adolescentes também”, lamentou Carlos, que hoje toca sax tenor.

Neste ano, o mór Josemir Juvêncio Pereira Junior, 19, completaria oito anos na banda. Depois de ingressar tocando percussão e trompete, ele integrava recentemente a comissão de frente.
“Eu costumo dizer que tirou do meu caminho a oportunidade de cair no lado errado da história. Foi através da banda que, realmente, me identifiquei com a dança; foi lá que eu entendi que se expressar não é motivo de vergonha”, lembrou o mór.
Para ele, a suspensão da banda é uma perda cultural muito grande para crianças e adolescentes “com uma capacidade artística e musical tão grande”. “É o fim de uma era, um ciclo cultural interrompido por questões ‘desconhecidas'”, comentou.
Vitor lembrou que sua vida foi transformada pela cultura, graças ao projeto. “Para o bairro, representa escape: enquanto poderíamos estar nos perdendo com as coisas que estão bem na nossa cara, como o crime, drogas etc., estamos fazendo música“, afirmou.
O OUTRO LADO
Por meio de nota, as secretarias municipais da Cultura e da Educação informaram que a Prefeitura conduz processo administrativo de contratação do novo regente, profissional que já foi aluno da banda e que, após formação na renomada Escola de Música de Tatuí, retorna para liderar o grupo. “A escolha respeitou todos os critérios técnicos exigidos para a função”, informou.
A nota disse ainda que “estão em andamento os trâmites legais e burocráticos para a liberação de recursos provenientes de emenda parlamentar, destinados à manutenção dos instrumentos musicais” e que “em nenhum momento o atual governo manifestou qualquer intenção de encerrar esse importante projeto cultural e educacional, que integra a história e a identidade musical da cidade”.