Roberto Schiavon
Uma cidade é feita de várias histórias e eternizada pela trajetória de cada um de seus filhos. O escritor araraquarense Ignácio de Loyola Brandão, um construtor de histórias por natureza e ofício, é um dos mais zelosos guardiões do legado de Araraquara. “A gente sai da nossa terra, mas a gente está dentro dela o tempo inteiro. Morei na Alemanha, em vários lugares, mas Araraquara está dentro de mim. Às vezes sentia o cheiro do Jardim Público em Berlim. Eu pertenço a ela e ela pertence a mim”, diz Loyola, comentando suas lembranças da cidade.
MATINÊS DE CINEMA
Ele vai puxando pela memória e é possível ver seus olhos se avivando, ao enxergar novamente sons, imagens e pessoas que fizeram parte de sua vida em Araraquara.
“Eu adorava os seriados que passavam toda semana nas matinês de cinema e acabavam em um momento de suspense. A gente ficava a semana inteira conversando e imaginando de que maneira o mocinho do filme ia se safar daquela situação. Naquele meu grupo tinha José Celso Martinez Corrêa, o grande nome do teatro brasileiro”, relembra o ilustre filho araraquarense.
FOOTING
Ainda sobre o Jardim Público, um de seus lugares preferidos da cidade, Loyola lembra que adorava o cheiro de “clorofila forte” do lugar aos finais de tarde, além da sorveteria em frente à praça. “Até hoje, quando vou a Araraquara, vou lá buscar meu picolé de Tamarindo, que só eles fazem”, acrescenta.
Uma das lembranças preferidas de boa parte das pessoas de sua geração, o footing, também faz parte das memórias mais queridas de Loyola.
“Eu adorava o footing. Agora o footing passou para os shoppings, é lá que a meninada se encontra. As mulheres iam andando pra lá e pra cá e os homens na calçada, escolhendo uma, escolhendo outra. A gente piscava, dava sinais, era todo um jogo do amor. O perfume das moças era muito bom”, recorda o escritor.
DESFILES ESCOLARES
Sobre os aniversários de Araraquara, uma das principais tradições da data, os desfiles escolares, também faz parte das lembranças mais remotas do escritor Ignácio de Loyla Brandão.
“Eu adorava os desfiles escolares nos aniversários da cidade. Tinha a banda, a gente desfilava com as roupinhas, os uniformezinhos, e era o dia em que você flertava com todas as garotas que estavam lá. Momento de muita alegria, de gritos, de banda tocando. E feriado, não precisava ir na aula, era uma maravilha. Aniversário da cidade pra mim era o desfile”, descreve Loyola.
“Tudo em Araraquara me dá orgulho”, diz Loyola, lembrando que a história de seu livro preferido, “Dentes ao Sol”, acontece inteira dentro de Araraquara. “No fundo, eu transformei a minha cidade em uma referência na minha literatura, e a minha memória de certa forma retorna a ela”, conclui o escritor.
MEMÓRIAS ETERNIZADAS
As histórias que vivem na memória de Ignácio de Loyola Brandão foram documentadas e eternizadas durante o período em que o escritor foi colaborador do jornal Tribuna Impressa.
Trata-se de um arquivo precioso e imprescindível para se entender e preservar as lembranças mais ternas de um dos filhos mais representativos do talento que reside na Morada do Sol.