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AraraquaraCotidianoMães de crianças com paralisia cerebral brigam por transporte porta a porta em Araraquara

Mães de crianças com paralisia cerebral brigam por transporte porta a porta em Araraquara

Mães ouvidas pelo acidade on relataram as dificuldades em agendar o transporte para levar os filhos a consultas, terapias e exames médicos

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A cinco dias de uma consulta médica, Nilva Pereira de Medeiros, de 68 anos, ainda não sabe se a filha poderá ou não comparecer. Tais, 36, tem paralisia cerebral e depende do transporte porta a porta de Araraquara, cujo agendamento ainda não foi confirmado.

“Não tem vaga. Você tem que marcar com antecedência e eles falam que vão ver se conseguem um encaixe. Só que eu acho que nossos filhos não são encaixe de ninguém“, desabafou a mãe.

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Na última quinta-feira (22), o acidade on ouviu o relato de sete mães de crianças com paralisia cerebral na sede da Associação Araraquarense dos Portadores de Paralisia Cerebral, e todas apontaram dificuldades em agendar o transporte para levar os filhos a consultas, terapias e exames médicos.

Recentemente, Tais perdeu duas consultas com um médico pneumologista, e agendar um novo atendimento pode levar até cinco meses. “A criança fica frustrada, se sente menosprezada, se sente um nada, ninguém. Isso machuca muito uma mãe“, lamentou.

As famílias explicaram ainda que o transporte é garantido apenas para os compromissos chamados de “fixos”, como idas a sessões de fisioterapia, mas, quando precisam levar os filhos a consultas médicas e exames, não encontram vagas.

Procurada para comentar o assunto, a secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania informou que acompanha de perto a situação e que, atualmente, a fila de pacientes aguardando o serviço conta com cerca de 40 pessoas. (Leia a íntegra da nota abaixo)

Mães de crianças com paralisia cerebral brigam por transporte porta a porta em Araraquara (Foto: Milton Filho)

Lucineia da Paz Belo, 61, é avó dos gêmeos Lucas e Luan, 20, que também têm paralisia cerebral. Os dois perderam consultas recentes por falta de “encaixe” no agendamento do porta a porta.

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“Eles pedem para a gente agendar antes. Eu tento agendar quase um mês antes para ver se tem encaixe e não consigo”, afirmou.

A avó contou que, no último dia 12, uma segunda-feira, levou um dos netos a uma consulta médica de carro de aplicativo, mas sem a cadeira adaptada, que garante conforto e segurança.

“O médico achou um absurdo eu estar segurando a cabeça da criança porque ele estava sem a cadeira dele. Eu tive que colocá-lo em uma cadeira comum para levá-lo ao consultório porque eu não tinha o transporte“, contou.

A dona de casa Valéria Cristina Lobrigatti Bezerra, 53, é mãe do Jonatan, 34, e do Gabriel, 25. Ambos têm paralisia cerebral e, recentemente, utilizaram um ônibus circular para ir a uma apresentação de dança.

Valéria relatou que colocou um deles no espaço reservado a cadeirantes e o outro em um banco comum. Segundo ela, foi um risco para os filhos, mas o único caminho para que conseguisse levá-los.

“Não tem segurança nenhuma nem para a gente, que é adulto, imagina para eles. Foi muito humilhante e revoltante, porque eu nunca passei por isso. Nós não estamos aguentando mais, porque nossos filhos cresceram, somos mães de adultos”, lembrou.

Valéria (à esq) e Lucineia (à dir) com Jonatan e Gabriel abaixo (Foto: Milton Filho)

O desespero também levou Antônia Alaíde de Assis, 48, a levar a filha Janaina, 27, ao CEO (Centro de Especialidades Odontológicas) em um ônibus do transporte coletivo. Ela já havia perdido duas consultas por falta de vaga no “porta a porta” e poderia perder a vaga caso não comparecesse novamente.

Mesmo com dor, ela levou a filha sozinha e empurrou a cadeira de rodas por mais de seis quarteirões entre o ponto de ônibus mais próximo e a unidade de saúde.

“Eu tive que ir de qualquer jeito, com dor ou sem dor, tive que enfrentar. Do ponto de ônibus até o dentista são seis quarteirões – as calçadas são aquela maravilha e a rua também cheia de buracos. Cheguei lá quase botando a boca para fora, mas pelo menos eu não infartei, não morri. Ela [a dentista] atendeu a minha filha e eu fiz o mesmo processo para voltar para minha casa”, contou.

Para Nilva, a filha está esquecida e invisibilizada sem o serviço. “Que as pessoas enxerguem os cadeirantes, porque eles também são seres humanos. Além de enxergarem os cadeirantes, que enxerguem quem está atrás, que somos nós“, apelou.

No caso de Antônia, o sentimento é de abandono. “Eu me sinto sem ajuda de nada, porque, quando a gente mais precisa, os direitos humanos não existem nessas horas e a gente fica sem apoio de ninguém”, concluiu.

NOTA DA SECRETARIA

A Prefeitura de Araraquara, por meio da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, informa que acompanha de perto a situação relatada pela mãe do cadeirante que aguarda atendimento pelo serviço de transporte porta a porta. A demanda está registrada em uma lista de espera que vem sendo formada desde 2024, e que atualmente conta com cerca de 40 pessoas aguardando o serviço.

O atendimento é realizado por três micro-ônibus adaptados e um veículo Spin, operados pela empresa Paraty, número que tem se mostrado insuficiente para a demanda crescente. Uma reunião já foi realizada com a empresa responsável, quando foi solicitada a adoção de providências urgentes para ampliar o número de atendimentos.

A Secretaria fará novo contato com a Paraty nesta semana para cobrar retorno sobre as medidas discutidas e reforçar a importância de priorizar casos mais delicados, como o citado. A Prefeitura reafirma seu compromisso com a inclusão e a garantia dos direitos das pessoas com deficiência, e continuará buscando soluções para assegurar o acesso à mobilidade com dignidade.

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Milton Filho
Milton Filho
Milton Filho é repórter da editoria de cidades do portal acidade on. Formado pela Universidade de Araraquara tem passagens pela CBN Araraquara, TV Clube Band e Tribuna Impressa. Acumula há quase 10 anos experiência com internet, rádio e TV.

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