O clima em Matão é de medo. “A gente fica inseguro, tem medo de atender a porta, de ir ao mercado, à farmácia. Deveria aumentar o patrulhamento e mudar as leis porque a maioria [dos criminosos] são jovens e menores de idade”, opinou a manicure, Aline Fernanda de Oliveira, de 37 anos.
Na última segunda-feira (22), o empresário Vicenti João Bernardi Neto, de 58 anos, foi vítima de um latrocínio, no Centro da cidade. O crime aumentou ainda mais a sensação de insegurança.
“Mataram alguém no Centro da cidade e isso é muito triste, chocou a cidade. A gente está bem preocupado, bastante assustado. Matão sempre foi muito boa, mas, ultimamente, tá difícil até para sair de casa”, disse Elnice Lopes, 70, moradora do São José.
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Os números da secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo mostram que não se trata apenas de uma percepção. As ocorrências de roubo e roubo de veículos cresceram de um ano para outro em Matão.
O delegado seccional da Polícia Civil, Fernando Giaretta, justificou que a cidade está voltando a patamares anteriores à pandemia e que as investigações estão em curso para identificar e prender os envolvidos.
A criminalidade teve um aumento depois destes dois anos de pandemia e, agora, está voltando ao nível de 2019. Estes dois anos, de 2020 e 2021, foram atípicos. A gente vai fazer o possível para diminuir e o pessoal está imbuído para diminuir a criminalidade que realmente aumentou”, disse.
Procurada, a SSP usou o mesmo argumento e esclareceu que “por conta da atipicidade causada pela covid-19, a comparação correta deve ser relacionada ao mesmo período de 2019”.
Porém, os números revelam crescimento da criminalidade nos dois cenários. Entre os primeiros semestres de 2021 e 2022, a alta foi de 110% – passando de 29 para 61 roubos. Agora, utilizando 2019 como referência, quando 52 casos foram registrados, o salto foi de 17%.
A quantidade de roubo de veículos também impressiona. De um ano para outro, passou de oito para 37, ou seja, 362% de aumento. Na comparação com 2019, a alta foi 516% – naquele semestre a cidade registrou apenas seis ocorrências.
O delegado disse que a cidade tem bom poder aquisitivo, muitas indústrias e caminhonetes que são as mais visadas. Segundo ele, muitos veículos roubados são levados ao Paraguai e/ou Bolívia, onde são trocados por drogas, outros vão para desmanches e são adulterados.
Para Giaretta, a sinergia das forças de segurança é fundamental para combater a violência.
Todas convergem para a mesma finalidade: diminuição da criminalidade, evitar, prevenir e reprimir o crime quando acontece. Em Matão a tendência é baixar [os indicadores] porque o serviço policial que tem sido feito é muito bom. Os resultados demoram um pouco, mas já estão chegando. A população pode esperar que a Polícia vai trabalhar muito e os índices vão voltar a normalidade”, garantiu.
Em 17 de junho deste ano, um trabalhador autônomo, de 52 anos, foi baleado duas vezes durante uma tentativa de roubo a uma lanchonete, no Bairro Alto. Ele foi atingido na perna e no peito, e ficou 38 dias internado, sendo 17 em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Como nada foi levado, o caso não configurou roubo. Mas ajuda a evidenciar a violência dos criminosos durante os assaltos.
“Na hora que eu pus a mão no bolso para entregar o celular, ele deu quatro tiros em mim: um no peito e outro na perna, os outros dois eu não sei onde foram parar”, lembrou a vítima que preferiu não se identificar.
“Eu estava com a chave do carro e não estava com a carteira. Então, pensei que entregando o celular ficaria mais fácil para ele. Mas ele assustou e atirou”, completou.
A vítima contou que nasceu de novo, mas que a sua vida não é mais a mesma.
Mudou tudo, nem a rua estou saindo. Só vou trabalhar, não saio para comer com a família, só peço delivery. Minha caminhonete está trancada com os pneus murchos”, completou.
FALA, SSP
Ainda segundo a secretaria de Segurança Pública do Estado, as forças de segurança têm reforçado os programas de policiamento em toda a região de Araraquara e as ações de patrulhamento são reorientadas e intensificadas constantemente, de acordo com as dinâmicas criminais.
“O trabalho das polícias em Matão resultou em 115 prisões e 58 veículos recuperados no primeiro semestre de 2022”, informou. “Na região também acontece a Operação Sufoco, que já deteve mais de 13 mil pessoas em todo o Estado”, completou.
Sobre o caso do trabalhador autônomo, disse que é investigado pelo Primeiro Distrito Policial, que tem feito diligências para identificar a autoria e esclarecer os fatos.
Na terça-feira (23), após investigação da Polícia Civil, quatro suspeitos de participação no crime que resultou na morte do empresário foram presos em Matão e Monte Alto.