EPTV 2 – Um tablet sem acesso à internet, um fone de ouvido e um mundo de descobertas. É assim que 10 reeducandos da Penitenciária de Araraquara estão tendo contato com a literatura.
“Para mim, está sendo interessante. Eu não sabia nada e, agora, eles estão dando essa oportunidade para nós na escola e no curso também. Para nós, é uma oportunidade de sair daqui regenerado, de arrumar um serviço“, disse Leandro Gomes Mendes.
Pela manhã, os detentos têm aulas no ensino regular e, à tarde, duas vezes por semana, reúnem-se para ouvir e conversar sobre literatura. O livro mais recente trabalhado por eles foi “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell.
“Eu não sei ler e nem escrever, e estou me dedicando e aprendendo mais. Está sendo excelente para mim, está sendo bom demais”, falou Adilson Tadeu Soares.
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O projeto é desenvolvido pela Funap (Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel) em parceria com o Observatório do Livro e da Leitura e a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária). Por ser piloto, ainda é restrito às unidades prisionais de Araraquara, Jardinópolis, Ribeirão Preto e Serra Azul.
Segundo a diretora do Observatório, Luciana Paschoalin, uma pessoa especialista é responsável por selecionar os títulos trabalhados. “A gente tem uma pessoa que desenvolve esse acervo, porque precisa ter letras maiores, um texto mais fácil de ler. Enfim, a gente também busca o livro que chame a atenção do leitor, que seja atrativo”, explicou.

De acordo com a superintendente de Promoção Humana da FUNAP, Eunice Rosa Godinho, para cada livro lido o preso tem direito a quatro dias de remissão de pena, limitado a 12 livros por ano. “Só que a pessoa que não sabe ler e escrever fica privada dessa possibilidade de ter essa remissão e, muito além da remissão, de não ter o conhecimento”, comentou.
Esta iniciativa tem como objetivo mudar uma realidade no Brasil: a de que 29% da população brasileira, entre 15 e 64 anos, não sabe ler ou escrever, segundo estudo coordenado pela Ação Educativa.
PONTE PARA O FUTURO
Para a diretora do Departamento de Educação Básica de São Carlos, Lígia de Almeida dos Reis, além do próprio acesso à cultura e da qualidade do ensino oferecido, as condições sociais também impactam no aprendizado e levam alguns estudantes a desistirem e não frequentarem corretamente a escola.
“Pelo fato de eles não conseguirem compreender textos, informações, ofícios, documentos, normalmente vão para situações de subemprego ou empregos com menor remuneração. Então, a gente precisa criar ambientes de leitura, incentivo à leitura, programas comunitários“, explicou a diretora.
“A gente acredita muito que, com essa leitura, essa escuta, eles vão melhorar o vocabulário, e que isso vai ser fundamental na reinserção social“, disse o chefe do setor de Trabalho e Educação da Penitenciária de Araraquara, Leandro Davilla.
O reeducando Lucas Fernando Custódio disse que pretende continuar estudando após sair da penitenciária, ter um emprego digno e ser visto com outros olhos pelas pessoas. “A gente conversa muito, debate como que foi. Tudo o que a gente está ouvindo está ajudando muito. Sem ele, ia ser mais difícil”, opinou.

