Eles trabalham criando peças masculinas exclusivas, como ternos, calças, camisas e paletós. A alfaiataria é uma das profissões mais antigas do mundo e no dia 06 de setembro a data é comemorada no Brasil.
No entanto, a profissão é rara nos dias atuais. Em Araraquara, a reportagem do acidadeon conversou com dois profissionais do ramo.
Seja produzindo roupas artesanais ou consertando calças, entre outras vestes, os alfaiates costumam trabalhar em ateliês próprios ou em grandes lojas de confecção e departamento, no conserto de peças.
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O alfaiate Ademar Santos, de 82 anos, é um profissional que viveu a época de glória da profissão em Araraquara, nos anos 60.
Santos começou como aprendiz com apenas oito anos de idade em Jaú, sua terra natal. Ele contou que seu pai o levou ao alfaiate da família e pediu que aprendesse a profissão.
“Ele queria que eu aprendesse uma profissão desde cedo. É a profissão mais difícil que tem porque você precisa ter paciência. Em primeiro lugar você tem que gostar e eu gosto. É o ponto principal”, diz.
Na juventude, Santos fez muito terno para casamento na cidade e região. Ele explicou que antes o terno era chamado de “costume”.
“Antes o nome era costume porque era só a calça e paletó. Agora quando é terno seria o paletó, o colete e a calça. Eu fazia tudo. Tive muito cliente por aqui e Matão. Fazia ternos para noivo, padrinhos. No meu auge, fui considerado o melhor alfaiate de Araraquara”, aponta.
DEDAL, AGULHA E TESOURA
Para aprender a profissão é preciso muita prática (e paciência) atrás da máquina de costura, entre erros e acertos. Um bom curso de corte e costura também é necessário.
Santos comenta que uma das principais habilidades de um alfaiate é saber usar o dedal e, aos poucos, praticar o ponto guarnecido, corrido, alinhavo e assim por diante.
“A primeira coisa é aprender a usar e a trabalhar com o dedal, a empurrar a agulha. E depois começa a pegar uns pedacinhos de pano para costurar, guarnecer e aprender a montar a peça. E tem que ter um curso de corte e costura para aprender mesmo. Eu fiz tudo isso”, observa.
ROUPAS SOB MEDIDA
O alfaiate lembra que nos anos 70, os homens gostavam muito de vestir ternos de linho na cor cáqui. Já as mulheres adoravam o tailleur, um conjunto feminino clássico de saia e paletó, popularmente chamado de “terninho”.
“Eu atendia muito fazendeiro e era status ter um terno de linho, na cor caqui. Essa era a moda. O charme do linho é que ele é engomado, passado e quando o cliente vestia o terno, rolava na cama e depois saía. Porque a elegância do linho é ficar amassado, não amarrotado”, aponta.
Santos frisa que as roupas feitas sob medida sempre deixavam os clientes satisfeitos.
“Roupa sob medida fica perfeita no corpo, é uma roupa moldada, né. Por isso que é uma roupa mais cara também. Tecido bom é outra coisa, dá acabamento e dá gosto fazer, o cliente fica contente e a gente também”, aponta.
Dependendo do tecido, um terno pode variar de R$ 2 mil a R$ 10 mil. Hoje em dia, Santos faz mais ajustes devido a uma artrose em seu joelho que o impede de ficar em pé.
ALMA DE ALFAIATE
O alfaiate e costureiro Geraldo Rodrigues dos Santos, de 70 anos, sempre foi apaixonado por tecidos.
Ainda pequeno já passava roupas e observava encantado o ziguezague das máquinas de costura de uma vizinha.
“Eu sempre ouvia o som da máquina e o tecido se movimentado, aquilo me fascinava”, relembra.
Mas por incrível que pareça, foi trabalhando de açougueiro que ele teve o seu talento descoberto por um alfaiate quando morava no Mato Grosso do Sul.
“Fui trabalhar de açougueiro do lado de uma alfaiataria, e quando fui passar uma calça e o dono me viu passar roupa, ele disse que eu tinha meio caminho andado, e se eu quisesse aprender o restante ele e os alfaiates do serviço me ajudariam. Foi assim que comecei”, conta.
Assim, ele se jogou na profissão e foi se destacando. Nos anos 70, Geraldo veio para Araraquara e aqui se fixou.
Autodidata mas ávido por conhecimento, aos 60 anos ele se formou em Design de Moda na primeira turma da Uniara.
Em 2013 começou a dar aulas de corte e costura no Fundo Social de Solidariedade, sendo hoje o responsável pelas aulas de costura na Sociedade Amigos do Bairro Santa Angelina (Sabsa).
Ele mantém um ateliê na Vila Xavier e acredita muito na profissão, embora esteja praticamente em extinção.
“A profissão está falida, mas com criatividade, esforço e vontade de conquistar não me falta trabalho. É a profissão me deu o sustento e sou grato por tudo que vivo. E não trocaria por nada”, conclui.