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CotidianoProfissão: Sapateiros de Araraquara resistem ao tempo

Profissão: Sapateiros de Araraquara resistem ao tempo

No dia do sapateiro, conheça dois profissionais da cidade que são um dos últimos na área

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Perci é sapateiro há 43 anos em Araraquara (Foto: Amanda Rocha)

  

 

Uma profissão que une muito talento, dedicação e arte mas que também está em extinção. No dia 25 de outubro é comemorado o dia do sapateiro, e também de São Crispim, padroeiro dos sapateiros.

Em Araraquara ainda é possível encontrar sapateiro, mas eles são os últimos de uma geração que ainda martela, cola, conserta e fabrica calçados.
Perci Thomé da Silva, 65, tem uma sapataria no bairro São Geraldo há quatro décadas.  

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Ele é muito requisitado e começou bem jovem na profissão. 

“Eu comecei a trabalhar em fábricas de calçado aos 13 anos, mas depois elas acabaram fechando e fiquei desempregado. A única coisa que sabia fazer era trabalhar de sapateiro, e decidi em abrir uma sapataria. Na época eu não sabia fazer conserto, só sabia fabricar chinelo, sandália”, contou.

Como é um dos poucos na cidade, Perci tem muito trabalho e comentou que não tem tido muito tempo para fabricar seus famosos chinelos de couro. 

“Tenho bastante serviço e como tem pouco sapateiro, acumula e não tenho tido tempo para fabricar, se eu encher aqui de chinelinho vende tudo. Aprendi a profissão olhando, observando como é que fazia. Hoje ninguém tem interesse, ver como se faz”, apontou.

EXTINÇÃO
Para Perci, a profissão está acabando assim como outras, como alfaiates e tintureiros. “Não tem mais hoje em dia, o pessoal daqui um tempo vai ter que comprar sapato e jogar fora”, disse. 

O sapateiro Valdemir Silva, 66, aprendeu a profissão com seu Antônio Gonçalves, um sapateiro de Araraquara já falecido. 

“Aprendi com o seu Antônio Gonçalves, era muito bom, eu trabalhei seis meses de graça para aprender com ele o ofício. Foi um instinto porque eu tinha muita afeição por São Crispim, que é o protetor dos sapateiros, eu já trabalhei em fábrica e já tive fábrica de calçado”, relembrou. 

Silva chegou a ser chamado para dar aulas para ensinar a profissão em Boa Esperança do Sul mas devido a falta de interessados, o curso não decolou. 

“Não existe uma escola de sapateiro, uma vez me chamaram pra dar aulas em Boa Esperança do Sul mas como não teve muita procura, não foi para frente. É uma profissão que está praticamente em extinção”, reforçou.  

Valdemir Silva começou como aprendiz de sapateiro aos 13 anos, ele tem mais de 50 anos de profissão (Foto: Amanda Rocha)

CONSERTOS
Tênis, solados e saltinho em sapatos femininos são os principais consertos feitos pelos sapateiros. Eles reforçaram que hoje em dia os calçados são descartáveis, feito na maioria de material sintético. 

“Vem muito sapato feminino para conserto, saltinho feminino e tênis, vem muitos para colar a sola mas descola fácil porque a maioria é feito de sintético. Eu já aviso a pessoa que é mais difícil de colar e pode soltar”, comentou Perci. 

Perci comentou que os valores variam dependendo do tipo de serviço. “Tem saltinho que fica R$ 15 o par. Já para trocar a sola do sapato inteira é R$ 70 o par”, disse. 

“Meus clientes são diversificados, desde jovens a mais velhos, e o que mais conserto é tênis, na parte de colagem”, informou Silva. 

PISANTES
O sapateiro Silva lembrou que antigamente as solas dos calçados além de serem de couro eram pregadas com prego de madeira. 

“Sapatos de hoje são descartáveis, antes as solas eram de couro e o prego era feito de madeira, a sola era torneada de prego de madeira, quanto mais molhava mais firme ficava, porque a madeira estufa”, contou. 

Silva comentou que esses sapatos duravam praticamente a vida toda. Para se ter uma ideia, há 30 anos ele fabricou uma bota modelo “texana” e até hoje ela resiste ao tempo. 

“Eu fabriquei uma bota texana para mim, usei por 30 anos e dei para um amigo que usa até hoje. Não acaba e não apodrece, não é sintético, que é uma porcaria”, apontou.

Silva sempre indicou para os seus clientes a comprarem botas de couro, já que duram muito. 

“Meus clientes na época de inverno aconselho a comprar bota de couro, pague mais caro, mas é para a vida. Uma bota boa tem que ser de couro, e vale ouro”, lembrou. 

Perci fez coro com Silva e disse que as pessoas devem saber usar os calçados atuais para não perderem rápido. Ele citou os exemplos de tênis modernos que apesar de caros, “acabam” fácil. 

“Antigamente os calçados eram bem melhores do que hoje, era tudo de couro, sola de couro, batida, hoje é tudo sintético, eles desmancham. Tem pessoa que traz aqui e eu falo que não tem jeito. Antes os tênis também não acabavam, hoje fazem os tênis modernos muito caros e se não souber usar acaba logo”, argumentou.  

 

Perci sempre teve a sapataria no São Geraldo (Foto: Amanda Rocha)

PROFISSÃO-ARTE

Silva comentou que ser sapateiro é uma verdadeira arte e não sabe fazer outra coisa na vida. 

“Ser sapateiro é uma arte. Não fiquei rico – sapateiro não fica rico, porque tanto o sapateiro quanto o açougueiro é amaldiçoado pelo boi”, concluiu aos risos. 

Perci frisou que o profissional deve ter  dedicação e compromisso. Ele chega a trabalhar 12 horas por dia para atender a clientela, dependendo da demanda. 

“É a minha vida, criei minhas três filhas, fizeram faculdade, tenho minha casa, só que tem que se dedicar, não adianta abrir cada dia num horário, tem que ter compromisso com a profissão”, encerrou.

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