A maternidade é uma incógnita para muitas mulheres e por isso não existe receita, uma resposta exata, cada uma tem uma vivência diferente. E para lidar com tantas dúvidas, surgiu em 2020 o projeto Acolher Araraquara que já preparou mais de 700 mulheres com informações sobre gestação, parto e pós-parto.
Pela necessidade de apoiar e informar as gestantes durante a pandemia, Itaiana Battoni e outras duas doulas, Luiza Capellari e Thais Venceslau, criaram o grupo de forma on-line.
“Começaram a limitar a entrada de acompanhantes e doulas na maternidade, por conta da covid-19. Fiquei apreensiva, comecei a pensar nas mulheres que estavam prestes a ter o bebê e não poderiam ter ninguém junto”, contou Itaiana.
VEJA TAMBÉM
Do coração: conheça histórias de mulheres de Araraquara que se tornaram mães pela adoção
Ela, então, montou o grupo no WhatsApp e convidou outras doulas de Araraquara. “Foi tudo muito rápido, coloquei o link no Facebook e começaram a entrar várias mulheres. Então, vieram os relatos de parto e começamos a perceber informações estranhas, mal explicadas, e transformamos o grupo em algo informativo”, contou.
Com o passar do tempo, o Acolher se solidificou e segue promovendo a valorização, o empoderamento e a transformação da mulher no processo da maternidade. Além do grupo on-line, o projeto realiza encontros gratuitos.
“MUITO APRENDIZADO E HISTÓRIA PARA CONTAR”
O primeiro parto de Itaiana Battoni, há 20 anos, foi uma cesárea. Depois da experiência ela ficou com medo de gestar outros filhos. “Foi pela palavra doula em uma reportagem que comecei a pesquisar, entrar em grupos de relatos de parto”, lembrou.
Com o conhecimento sobre o trabalho, ela foi mudando de ideia e, em 2014, teve o segundo filho, Raul, em um parto em casa. “Entendi que era seguro e o lugar onde eu seria mais respeitada.”
Pouco tempo depois, foi convidada por uma amiga para ser sua “doula” e, a partir de então, se especializou em um curso e passou a ajudar outras mulheres.
“A doula trabalha desde o início da gestação, com a educação perinatal, toda a parte de preparação. No dia do parto, vai até a casa da gestante, na fase inicial do trabalho, e a acompanha junto na maternidade até o nascimento do bebê. Durante esse processo, ajudamos no alívio da dor, do ambiente e do conforto e segurança da gestante”, explicou.
Com uma trajetória de mais de 154 acompanhamentos de parto, incluindo os dos filhos das outras duas doulas do projeto, ela mantém o vínculo com muitas mães e, até hoje, recebe fotos do crescimento de crianças que ajudou a trazer ao mundo.
“Muitas mães continuam conversando comigo, o bebê vai crescendo, vão mandando foto. Outras são minhas amigas. O primeiro bebê que ajudei no parto é amigo do meu filho. São muitas histórias que vão mexendo com a gente. Aprendizado o tempo todo, o quanto a gente é pequeno diante da vida, é tudo inesperado, cada parto de um jeito e cada mulher reage de uma forma.”
ATIVISMO PELO PARTO HUMANIZADO
O desrespeito das escolhas de Thais Venceslau em dois partos a ajudaram a se tornar ativista pelo parto ‘humanizado’. Hoje, com quatro filhos, ela atua para empoderar outras mulheres neste momento delicado, que é a gestação.
“Quando tive meu primeiro filho, queria parto normal e na época eu acreditava que bastava avisar o médico, mas quando o nascimento se aproximou, fui avisada que precisaria ser cesariana”, lembrou.
Mesmo duvidando, ela foi para a mesa de cirurgia. Um ano depois, grávida novamente, decidiu que faria diferente, após assistir um documentário e conhecer o trabalho das doulas.
“Na cidade onde eu morava não tinha doula, então optei por ter uma enfermeira me acompanhando, mas acabei mais uma vez engolida pelo sistema e tive mais uma cesárea. Depois disso eu estava determinada a informar todas as mulheres que eu pudesse, para que não passassem pelo que eu tinha passado”, afirmou.
Em 2018, na terceira gestação, ela finalmente realizou o desejo de ter um parto humanizado.
Seus filhos mais velhos puderam acompanhar tudo de perto, em um parto domiciliar, planejado e com muita luta. “Meus filhos assistiram ao parto. A bebê nasceu tranquila, veio direto para o meu colo, ficamos juntas por mais de 1h. As crianças ficaram encantadas, não se assustaram, contavam com orgulho que a irmã nasceu em casa. Me senti segura, confortável, feliz e realizada, foi uma vitória em todos os sentidos para mim”, contou.
Segundo ela, apesar dos contratempos e a dinâmica imprevisível que a responsabilidade traz, as suas crianças gostam de parto e amam grávidas. “Falam de tudo com naturalidade, todos os dias antes de dormir, rezamos pelos partos que estão para acontecer”.
APAIXONADA POR GRÁVIDAS DESDE CRIANÇA
A psicóloga e doula Luiza Capellari sempre teve paixão pelas grávidas. Em 2019, quando engravidou de Luna, buscou informações com Itaiana, que já era sua amiga.
Mesmo diante de inúmeras inseguranças de uma mãe de primeira viagem ela decidiu ter um parto domiciliar. “Acho que todo o estudo que fiz me deixou muito fortalecida, segura e confiante em mim e no meu corpo.”
Ela contou que foi difícil sair deste universo e que semanas depois do parto ainda chorava de emoção e queria sentir as contrações e passar por tudo aquilo de novo.
Com o incentivo de Itaiana, ela decidiu fazer um curso de doula e, desde 2020, atua no Acolher.
Em 2022, ela teve a segunda filha, Iris, que nasceu enquanto Luiza tirava biscoitos do forno, antes da equipe de parto chegar na casa dela. Luna, a primogênita, pôde presenciar o processo.
“Acordei ela e disse ‘filha, a Iris vai vir hoje’, e ela colocou lacinho, vestido, quis se arrumar para a chegada da irmã”, contou.
“Ela teve a sorte de crescer no meio deste mundo, ela vê com naturalidade, brinca que irá ser doula, explica para os amigos o que é um contração”, explicou sobre o olhar de Luna sobre a sua profissão.
SERVIÇO
Acolher Araraquara (@acolherararaquara)
Formulário para participar do grupo
Encontros presenciais gratuitos todo primeiro sábado do mês
Horário: 14h30
Local: Espaço Novo em Folha
Endereço: R. Humaitá, 1844 – Centro, Araraquara