
O colapso do sistema de saúde brasileiro em razão da pandemia de covid-19 tem dado evidência para diversas dificuldades enfrentadas por quem precisa lidar com as consequências da doença. Com o frequente aumento no número de casos, se acentuou também a preocupação com aqueles que apresentam problemas renais e precisam recorrer à hemodiálise.
Segundo o nefrologista Henrique Carrascossi, a média geral de pacientes infectados pela covid-19 que desenvolvem problemas nos rins gira em torno de 40%. Já entre os pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em média, 20 a 30% necessitam de tratamento de hemodiálise.
O especialista ressalta a necessidade de profissionais treinados para executar o tratamento, pois as máquinas não funcionam de forma independente e precisam de manipulação. Carrascossi também aponta que diversos insumos do processo da hemodiálise estão se tornando difíceis de serem encontrados devido à alta demanda e sua precificação em dólar.
“A realidade ainda nos mostra que mesmo as UTIs com esse suporte estão superlotadas, então toda a logística precisa ser revista, porque a possibilidade de assistência não está acompanhando a quantidade de novos pacientes necessitados. Isso leva a um consequente aumento no número de mortes daqueles que apresentarem problemas renais”, comenta.
O especialista reforça a necessidade de atenção para os casos leves, onde a Covid-19 também pode originar um quadro de Glomerulopatia, que leva o paciente a perder substâncias importantes na urina, como proteínas e até mesmo sangue, levando à insuficiência renal.
Não há como ou quando saber se as consequências renais causadas pela Sars-CoV-2 podem ser revertidas, de acordo com Carrascossi, pois ainda não existem estudos que analisem essas sequelas a longo prazo. “Podemos dizer o mesmo sobre a situação das UTIs sem suporte para hemodiálise, já que não há nenhum indicativo de ampliação ou investimento para a melhora desses espaços”, afirma.
DESAMPARO
Outro fator a ser levado em consideração é como a falta de clínicas nas regiões norte e nordeste do país pode refletir numa maior dificuldade dessas áreas em enfrentar a covid-19. Carrascossi diz que as unidades do SUS no Brasil passam por uma crise financeira em razão do aumento no preço dos insumos para o tratamento da doença.
“Mesmo na região de Araraquara, nós possuímos moradores muito afastados dos centros urbanos que não tem acesso rápido às unidades especializadas de tratamento. Agora imagine uma pessoa que precise se deslocar cinco ou seis horas para chegar a uma clínica mais próxima. Clínicas essas que além de superlotadas, estão sucateadas e não têm suporte para suprir a demanda de pacientes”, diz.
Para Carrascossi, esse cenário também destaca desassistência para o tratamento, já que esses pacientes acabam ficando mais expostos ao vírus, especialmente quando submetidos a transportes públicos.