Ele é a voz da Ferroviária, e a sua história se confunde com a do time afeano. O radialista José Roberto Fernandes, de 80 anos, é referência máxima quando o assunto é narração esportiva e Locomotiva.
São seis décadas dedicadas ao futebol, basquete, vôlei, futsal, entre tantos outros esportes.
No dia Mundial do Rádio, comemorado nesta segunda-feira, 13 de fevereiro, a reportagem do acidadeon conta um pouco da trajetória de uma das maiores vozes do do interior de São Paulo.
LEIA MAIS
Grupo EP lança EPFM, rádio com música e informação para as regiões de São Carlos e Araraquara
Ferroviária tem quase 90% de chance de rebaixamento no Paulista
De tema de monografia a reportagens nacionais, o locutor natural de Colina é cidadão araraquarense desde 2003, quando ganhou o título da Câmara Municipal.
Mas a sua história com a Morada do Sol vem desde os anos 70 com a narração de importantes eventos e jogos em rádios locais.
Através do programa Campeões da Bola, que completa 38 anos neste mês sob a sua direção, o radialista fez e faz história, seja nas ondas da AM ou FM.
“Eu não tenho o conhecimento de uma equipe tão longeva no rádio que nunca parou, é um trabalho contínuo. A equipe foi formada em 85, e só ficou eu, mas sempre faço questão de falar que não haveria os campeões se não houvessem os primeiros, não fiz isso sozinho, o sucesso é da equipe”, frisa.
O COMEÇO DE UM SONHO
O rádio estreou em 1943, três anos antes do nascimento de Zé Roberto. Ele cresceu ouvindo as estações radiofônicas, e o principal meio de comunicação naquela época atraiam os ouvidos, a imaginação e sonhos do futuro radialista.
“Eu ouvia muito rádio e gostava, era o único veículo forte, a TV chegou depois. Nós tínhamos a rádio Nacional do RJ, que era o que hoje é a Rede Globo, só para termos ideia do que era o rádio, isso sempre me encantou”, lembra.
E foi através do serviço de alto falante em sua cidade natal, que o DNA radialista apareceu.
“Eu não tinha esperanças de ser radialista, era um sonho. Em Colina eu trabalhava com serviço de alto falante, era muito comum na época. Eu ficava no coreto da praça da Matriz e para uma cidade pequena esse serviço era fundamental , até para coisas tristes como notas de falecimento”, recorda.
Ali, no coreto de Colina começava a carreira brilhante do radialista esportivo: ele entrevistava os jogadores de futebol do time local no estúdio improvisado do pequeno espaço.
PROFISSÃO CONCORRIDA
Quando ficou sabendo de um teste na rádio Barretos, não teve dúvidas e se candidatou apesar de não ter tanta esperança: era uma vaga para 232 concorrentes.
“Tinham 232 candidatos para uma vaga, isso evidencia a força que o rádio tinha. E lá eu fazia um pouco de tudo, embora meu sonho fosse fazer esportes, o rádio me obrigava a fazer tudo, fui redator, locutor comercial, fazia vários tipos de programa, e esportes. Tinha um conhecimento de futebol e as entrevistas que fazia no coreto me ajudaram muito”, recorda.
Depois de Barretos, o locutor foi para a Rádio Educadora em Uberlândia (MG) até chegar à Morada do Sol, em julho de 1975, com o campeonato sul americano de basquete e a consagração do time brasileiro.
“Araraquara sediou o sul americano na época, e o Brasil foi campeão. Eu vim para montar a equipe da rádio Morada do Sol que não tinha equipe de esportes na época, e o Antônio Carlos Araújo me convenceu a ficar e foi aí que tudo começou aqui”, rememora.
VOZ DA FERROVIÁRIA
Apaixonado pela Ferroviária, seu único time, o locutor acompanha a trajetória da Ferrinha em seus altos e baixos.
Foram muitos os momentos emocionantes narrados e vivenciados. E no último dia 05 de fevereiro, uma homenagem aos 80 anos do radialista, o emocionou como nunca.
Em coro, a torcida afeana cantou parabéns para o locutor que narrava o jogo do Paulistão da cabine da Arena da Fonte.
“Foi um teste para os 4 stents que tenho aqui no coração, uma das coisas mais lindas que passei em minha carreira profissional. Em 60 anos de rádio nunca havia acontecido e não vou esquecer jamais, sentir a torcida assim. Eu recebi a camisa com o meu nome, e agradeço muito a AFE por isso. Bambeei e chorei, me tocou profundamente, entre as homenagens que já recebi”, avalia.
E não são poucas as homenagens na bagagem. Para guardar tanto carinho e afeto, Zé Roberto tem um cantinho especial para os mimos.
“Tenho uma sala especial na minha casa para guardar tudo o que eu recebo com muito carinho. Um dos mais especiais é um cartão que guardo que diz isso “Se os gols da Ferroviária tivessem voz, com certeza seria a sua. Isso me emociona e é muito significativo e acabou criando essa simbiose, essa aproximação e interação de voz da Ferroviária”, conta.
Para o radialista, a longa ligação com a torcida se deve ao fato de sempre estar ao lado do time.
“Eu acredito que há uma explicação envolvendo os Campões da Bola porque nós nunca abandonamos a Ferroviária. Houve um período horrível, e agora mesmo nesse momento de muita preocupação (possível rebaixamento), continuamos do lado, não é por isso que vamos abandonar o time. Pode jogar onde for que nós vamos, eu já não tenho mais condições de fazer grandes viagens e loucuras, fico no estúdio, mas nossa equipe vai”, pontua.
RÁDIO E EMOÇÃO
Veículo democrático, imaginativo e emocionante. São vários os adjetivos para um dos mais potentes meios de comunicação da humanidade.
O radialista aponta também algumas curiosidades de ouvintes, como abaixar o volume da TV para escutar a narração da emissora preferida.
“O rádio é democrático por excelência, se tiver cinco pessoas numa sala ouvindo, cada um vai ouvir e imaginar o jogo de uma forma e isso é o milagre do rádio, e que o faz sobreviver. Muitos ouvintes tiram o volume da TV e colocam a narração do rádio, porque é emoção pura”, conta.
Fora o futebol, sua outra grande paixão é o basquete. Ele é vice-presidente da Associação de Basquete de Araraquara (ABA).
“Adoro a narração do basquete, as melhores narrações que fiz foram de jogos da Uniara, jogos emocionante. O basquete é decidido com uma bola, em segundos, é fantástico”, diz.
MUDANÇAS E ADAPTAÇÕES
Com tanta mudança nos anos de profissão, Zé Roberto continua ativo e vê com bons olhos as transformações da rádio, seja online, podcast e o que a internet oferecer.
“Eu vejo a transformação do rádio como algo muito bom, sempre se falou que o rádio ia acabar, quando surgiu a TV, o transistor. Com a internet foi a mesma coisa, e acho o contrário, a internet salvou o rádio, é uma aliada. O que tem que acontecer é você acompanhar essa evolução, não ficar parado e achar que está bom assim”, avalia.
Tanto que agora, aos 80 anos, ele vai realizar outro sonho na profissão: ter um estúdio próprio com transmissões e programas ao vivo.
“Aos 80 anos vou realizar um sonho de ter um estúdio. Até uns quatro anos atrás, eu estava preocupado com o futuro, me trazia preocupação de saber o momento que tenho que parar, temos que saber parar bem e essa é a diferença. Mas essa preocupação desapareceu, porque essa garotada que está vindo é muito boa e aposto muito nos novos. Temos que passar o conhecimento adiante e aprendo sempre com eles”, finaliza.
VEJA TAMBÉM
Corinthians é bi da Supercopa Feminina com goleada no Flamengo