O sonho de jogar futebol começou bem longe de Araraquara, aproximadamente dois mil quilômetros de distância, em Salvador, na Bahia. Foi lá onde a goleira de 18 anos da Ferroviária e da base da seleção, Yanne, deu seus primeiros passos.
Criança raiz, chutava bola na rua, gostava de pique-esconde e amava esporte. Mas, o amor pelo futebol começou vendo o tio jogar. A partir daí veio a interrogação, será que posso?
“Falavam que futebol feminino não dava dinheiro, que era muito difícil e é só um passatempo para você. Ela sempre afirmou isso e eu dizia que não ia viver disso”, explicou.
Yanne pediu autorização da mãe para jogar futsal na escola. O aval veio e a pequena Yanne foi se mostrando gigante, mas na verdade o gol que ficou pequeno.
Da quadra para o campo, peneira no Vitória da Bahia. E aí um fato curioso, um pedido em grupo de WhatsApp quem tem uma chuteira para emprestar? Pois é, foi quase né, Yanne.
“Como jogava futsal, no máximo society, não tinha chuteira de campo. Por ser que não sabia se ia passar, não ia valer a pena comprar a chuteira sem saber se ia continuar. Cheguei até a postar no Instagram se alguém tinha chuteira com trava para poder fazer a peneira e um amigo tinha número 40 e me emprestou, ficou até grande e folgada no pé”, relembrou.
E mesmo com a chuteira larga, ela conseguiu, tanto é que a Ferroviária chamou a garota para disputar o Paulista de base. O convite balançou psicológico e o emocional, afinal, teria que deixar a família em Salvador e ir para o interior do estado de São Paulo.
Aos poucos, as dúvidas apareciam. Para ela, foi a decisão mais difícil da vida.
“Minha mãe virou e falou o seguinte: tem certeza que é isso que você quer? Esse tempo que vai passar lá será um teste para você saber se realmente vai querer isso para sua vida. Isso ficou na minha cabeça, pois nunca passei tanto tempo longe da minha família”, relatou.
Mas veio também a certeza.
“Disse que eu queria vir, pois era meu sonho e estou aqui até hoje”, contou.
Yanne ficou, se destacou nos campeonatos de base e conquistou a América com a Ferroviária no início do ano.
O bom desempenho da menina que nem tinha chuteira para fazer peneira rendeu convocações na seleção brasileira.
“Fiquei muito feliz de saber que tive oportunidade de ser titular e jogar, presenciar tudo aquilo.”
E para quem acha que só de futebol vive a Yanne está enganado. A goleira da Ferroviária, que acabou de terminar o terceiro ano do ensino médio, é a nova caloura da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) no curso de fisioterapia.
“Vou fazendo os dois da melhor forma possível. No meu tempo livre vou estudando, lendo os livros, vendo as aulas e sempre tentando estar na linha com a faculdade, dividindo os treinos também”, explicou.
Seja qual for o futuro, goleira ou fisioterapeuta Yanne, todo esforço daqueles dois mil quilômetros percorridos valeram a pena.
“É isso que você quer? Vá até o fim, lute pelo seu sonho. Luta pelo seu lugar, pois um dia você pode alcançar lugares onde nunca imaginou estar”, finalizou.
* Sob supervisão de Geovanni Henrique
