Ele não é agricultor, mas planta sementes. Ele não atua em sala de aula, mas é um educador nato. Ele teve de abandonar a carreira de atleta, mas não o esporte.
Ele acredita na educação como ferramenta de transformação social e de vida e exige que todos os seus comandados sejam ótimos atletas e, também, ótimos estudantes.
Ah, já ia passar batido, ele também é um apaixonado e divide com a esposa, não só a casa e a cama, mas também o amor a Educação Física.
O ONRUN trocou uma resenha com o treinador Darci Ferreira da Silva que está em Tóquio para a disputa dos Jogos Olímpicos. Ele treina dois atletas da região que compõem o time Brasil de atletismo nas provas de 100 e 200 metros rasos e revezamento 4×100.
O começo na terra de Faroeste Caboclo
“Santo Cristo era só ódio por dentro. E então o Jeremias pra um duelo ele chamou. Amanhã às duas horas na Ceilândia em frente ao lote 14, é pra lá que eu vou”.
Além de ser o lugar em que Santo Cristo e Jeremias duelam pelo amor de Maria Lúcia no inesquecível Faroeste Caboclo da Legião Urbana, Ceilândia, que fica nos arredores de Brasília (DF), também é a terra natal do treinador Darci Ferreira da Silva.
Ele foi estudante no Centro Educacional 02 onde foi incentivado pelo seu professor de educação física a participar de um grupo de corredores. Nascia na terra do faroeste mais caboclo do Brasil, um corredor fundista.
“Tudo começou de forma muito rápida e logo já estava morando sozinho em São Paulo e longe da minha família. Tive o prazer de conhecer muitas pessoas que foram determinantes em minha formação. Quando caminhamos de forma correta,
Deus sempre nos ajuda e minha trajetória diz muito sobre isso´, lembra com orgulho e carinho o treinador olímpico.
Só que em 1998 a carreira de Darci sofreu um revés. Por solicitação de seu treinador na época, ele foi obrigado a escolher: seguia no atletismo como atleta ou ingressava nos estudos de educação física. Ele seguiu pelo segundo caminho.
“Está, infelizmente, foi a minha realidade, o meu motivo do abandono precoce como atleta. Mesmo assim não me arrependo, pois graças a essa oportunidade de estudar, pude ajudar muitas crianças e adolescentes que, assim como eu, não tiveram muitas oportunidades de desenvolvimento esportivo e social”, destacou Darci.
As sementes plantadas no Interior
Desde 2009, Darci e a esposa Rosana, que assim como o marido, também é professora de educação física, plantam sementes em cidades do interior de São Paulo. Os frutos olímpicos já começaram a ser colhidos.
O americanense Felipe Bardi dos Santos e o limeirense Lucas Conceição Vilar fazem parte da equipe Brasil e vão disputar o atletismo nas Olimpíadas de Tóquio. Felipe é atleta dos 100 metros e do revezamento 4×100 m. Lucas vai correr os 200 metros rasos.
O orgulhoso treinador faz questão de destacar as etapas em que os atletas atravessaram até chegar no maior evento esportivo do mundo.
“Devo lembrar que eles fizeram um caminho ideal ao participar dos jogos escolares e mundiais da categoria de base. E eles sempre agiram de forma harmoniosa entre os melhores nessa caminhada. Tudo isso, só foi possível, graças ao apoio do Sesi São Paulo, inicialmente na unidade de Piracicaba, e hoje, em Santo André (SP)”, explicou o treinador.
O sonho e o espírito olímpicos
Estar numa Olimpíada é um sonho, uma vontade, uma experiencia ímpar na vida de quem vive do esporte. Seja como atleta ou treinador, não interessa, estar nos Jogos Olímpicos é, de certa forma, estar perto dos Deuses do esporte.
No caso de Darci, tudo se torna ainda mais forte e intenso, pois ele tem os atletas como parte da sua família.
“Basta um simples olhar para saber se eles estão bem ou se precisam de algo. Junto com o Felipe tive a oportunidade de viajar por muitos lugares sempre com objetivo de aprender e colocar em prática junto com ele. Já o Lucas ficou no Brasil treinando com a Rosana, que deu todo suporte para ele estar hoje nos Jogos Olímpicos”, comenta o treinador. .
Como professor, Darci enxerga na educação dos atletas a base para que eles possam adquirir importantes e significativos resultados.
Como professor, Darci aposta na educação para melhorar e se capacitar ainda mais como treinador. Assim como qualquer personagem do esporte, os erros são companheiros indigestos, mas necessários para a evolução. Com Darci, não foi diferente.
“Isso aprendi da pior maneira, mas os erros nos ajudam a melhorar para o futuro. Por isso, incentivo todos os meus atletas a estudarem. Estudar pra ser um atleta cada vez melhor”, desabafa.
Preparação e pandemia
O adiamento das Olimpíadas de Tóquio de 2020 para 2021 por conta da pandemia da COVID-19, na visão de Darci, foi mais positivo que negativo. Para os atletas que sempre estão em busca do melhor tempo, foi um ano a mais de preparação.
Tanto que ele não esconde que, se não fosse o tempo maior de preparação, mais rotinas de treinos e um planejamento mais aprofundado, seus atletas não estariam em Tóquio. “Essa edição certamente dará uma bagagem ainda maior para os jogos de Paris em 2024”, desabafou.
Quando perguntam ao professor Darci o que ele tem feito durante a preparação para ter atletas tão competentes e qualificados, a resposta do treinador repousa na simplicidade e no respeito.
“O arroz com feijão é um ótimo alimento, ou seja, treinar demais pode machucar e ser irreversível, treinar demais pode lesionar, cada atleta tem um tempo de maturação, tem um tempo de desenvolvimento. Respeitar essas fases e fundamental para o futuro dos atletas.