Um duelo entre a (in)certeza, o acaso, o tempo e a (in)finitude. Um ser existencialista em meio ao absurdo da realidade. Imagens do cotidiano da cidade refletidas em temáticas filosóficas e poéticas.
O diálogo entre a poesia e a filosofia, ou a poesofia, assunto que permeia a vida do poeta araraquarense, Tadeu Marcato, é tema do curta-metragem “Convite a poesofia”.
A obra audiovisual foi premiada pelo edital Lei Aldir Blanc (LAB) – voltado aos artistas da área cultural na pandemia – através da Secretaria Municipal de Cultura de Araraquara.
O curta de 20 minutos é entrelaçado por seis poesias de Marcato, que por sua vez é inspirado na filosofia do absurdo do filósofo e escritor Albert Camus, com fragmentos narrados em off do ensaio “O mito de Sísifo”.
“São poemas de uns anos já e que questionam a necessidade de certeza, por que não a dúvida? Eu tinha uma ideia de fazer com eles algo nesse sentido, em cima do mito de Sísufu. Traz a filosofia do absurdo, a proposta de se espantar com isso tudo e despertar a consciência pra isso”, reflete.
Dirigida e roteirizada pelo fotógrafo araraquarense Michael Douglas, a estreia será publicada em breve no canal do youtube da Prefeitura de Araraquara.
TALENTOS DE CASA
A poesia e o saber são intrínsecos na vida de Tadeu Marcato, que trabalha como professor de filosofia e história na rede pública e municipal de Araraquara.
O escritor já lançou uma antologia poética com alunos da” Escola Estadual Angelina Lia Rofsen”, resultando no “I Antologia Poética”, ano passado. Além desses, o autor tem publicado os livros “Maiêutica Poética” ( 2015), “Descompasso” (2016) e “Descanso do caos” (2017).
Para esse novo trabalho, agora audiovisual, ele convidou o fotógrafo araraquarense Michael Douglas, que desponta também em duas premiações da Lei Aldir Blanc do município, com literatura e documentário.
“O Michael Douglas adaptou, fez o roteiro e dirigiu, eu fiz uma atuação de mim mesmo, um ser existencialista no meio do absurdo. Gostei muito do resultado, apesar do pouco tempo para fazer: foi uma máquina na mão e uma ideia na cabeça, em uns momentos lembra Glauber Rocha e em outros cinema francês”, conta.
O fotógrafo conta que as suas maiores influências estão dentro da própria poesia de Marcato. Douglas também escreve e se identifica com o tema. Já a fotografia de rua e documental são referências nos enquadramentos.
“O que me inspirou pra as poesias foi trabalhar a questão do passar dos dias, anos, e a questão da relação do homem com a cidade, e isso tudo influenciou pra dar um resultado mais artístico. Não é um filme de bilheteria, e sim um filme artístico e reflexivo, de declamações e transições poéticas”, explica.
Frames da estação ferroviária, do terminal de integração e da rodoviária flertam com a passagem do tempo declamada e reflexiva da realidade.
“Quis deixar tudo bem estático, porque as poesias são sobre a passagem do tempo, e vejo o tempo como uma coisa parada apesar dele se movimentar o tempo todo”, filosofa o fotógrafo.