Um áudio encaminhado à gerente de Patrimônio da Câmara Municipal de Araraquara sugere que o vereador Emanoel Sponton (Progressistas) usou o cargo de vice-presidente para afastar a funcionária de uma empresa terceirizada de vigilância que presta serviços à Casa de Leis. O conteúdo da conversa foi revelado durante oitivas promovidas pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar e era utilizado como justificativa para pedir o afastamento definitivo do parlamentar da mesa diretora. Ele nega as acusações, mas para evitar desgaste se antecipou e renunciou à função na última quinta-feira (24).
Suspeito de operar um esquema de rachadinhas em seu gabinete, o vereador é investigado pelo MP (Ministério Público) e pelo Conselho de Ética, que encontrou indícios da prática, mas não conseguiu reunir provas materiais. Outra linha de investigação apontou que Sponton usou sua influência como vice-presidente para solicitar a transferência de uma ex-assessora que, coincidentemente ou não, atuava como vigilante em uma terceirizada.
“Desculpa te incomodar no feriado, mas o rapaz da segurança disse que tem que fazer a troca a pedido nosso, meu e da presidência. Acho que você está sabendo, pois conversamos com a Paulinha. Ele falou que é só fazer a troca, ou ele tem que pedir algum papel aí para vocês? Ou ele pode fazer a substituição e depois faz a papelada? Porque o rapaz que ia lá na Câmara representando a Operacional [empresa terceirizada] não está indo mais. Aí quando você tiver um tempinho, me dá um retorno, agradeço. Obrigado, viu”, disse.
Emanoel Sponton (Progressistas), vereador, em áudio encaminhado para gerente de Patrimônio
Segundo apresentado nas oitivas realizadas pelo Conselho de Ética, o áudio foi encaminhado por Sponton durante o feriado de Carnaval à responsável pelo setor de Patrimônio. Para os membros do órgão fiscalizador, a gravação pode indicar que o parlamentar usou seu cargo para perseguir a ex-assessora e uma das denunciantes do caso de rachadinha à rádio EPFM.
Em depoimento ao Conselho, o atual supervisor da terceirizada que presta serviços de vigilância à Câmara disse apenas que recebeu ordens para realizar a transferência da funcionária e que a decisão era anterior à sua chegada à empresa. Ele relatou que foi até a Câmara na segunda-feira de Carnaval, 3 de março, para comunicar a substituição, a pedido de seus superiores.
Segundo ele, a funcionária tinha um bom histórico profissional, mas apresentava excesso de atestados médicos, o que prejudicava a escala de serviço. Porém, os espelhos de ponto solicitados pelo Conselho não comprovaram as ausências.
O ex-supervisor da empresa também rechaçou a justificativa. “Com toda clareza e certeza, não bate essa informação. Durante todos esses meses que fiquei na empresa, a funcionária não apresentou nenhum atestado.”
Ele ainda confirmou ter recebido o pedido de Sponton nos primeiros dias de 2025 para a retirada da vigilante. “Teve um pedido sim do parlamentar para retirar a vigilante da Câmara Municipal. Os motivos não foram relatados por ele, mas fez a requisição e o Rafael de Angeli estava na sala aquele dia”, disse.
Apesar da citação ao presidente da Câmara, Rafael de Angeli, o supervisor negou que o pedido tenha partido dele. O próprio Angeli também descartou participação ou autorização para que Sponton fizesse a solicitação em nome da mesa diretora.
A reportagem optou por preservar o nome dos depoentes e informar apenas seus cargos. Convocada para depor ao Conselho, a vigilante afastada não compareceu às duas audiências marcadas e não apresentou justificativa. Ela é considerada peça-chave nas denúncias.
Sponton negou ter solicitado a transferência. Disse não haver documento assinado por ele que comprove a denúncia e que o áudio apenas relatava uma demanda da Casa. Seu advogado, Paulo Valili, solicitou a apresentação de provas de que o áudio foi usado para requisitar a troca da vigilante.
“Primeiro que não cito nome de ninguém no áudio, ele está sendo apresentado aqui sem eu falar qualquer nome. Em momento algum quis dizer presidência. Talvez estivesse nervoso e me referi assim, mas em nenhum momento a presidência tem a ver com isso e também não cito nomes”, disse Sponton.
Emanoel Sponton (Progressistas), em depoimento ao Conselho de Ética
O Conselho deverá agora concluir o relatório final. Na reunião de quarta-feira (23), foi definida a retirada do sigilo da documentação, com exceção de alguns anexos, e a recomendação de destituição de Sponton. Como ele renunciou, o processo perdeu o objeto, mas novas deliberações serão feitas.
