No mesmo dia em que foi chamado para dar esclarecimentos no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar na Câmara de Araraquara, o vereador Balda (Novo) emitiu um posicionamento público nas redes sociais, classificando a denúncia de racismo como “perseguição disfarçada de ética”. O grupo de trabalho abriu uma comissão processante para apurar o uso da palavra “negra” pelo comunicador para se referir negativamente à gestão de Edinho Silva (PT).
Na oportunidade, a fala de Balda rendeu posicionamento contrário da seccional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), da vice-prefeita Meire Laurindo (Republicanos) e uma denúncia formal na Casa de Leis pela ACAAAR (Associação Cultural dos Amigos Afrodescendentes de Araraquara e Região) e a APPRECABA (Associação para Preservação, Resgate e Resistência da Cultura Afro-Brasileira de Araraquara).
Na visão de Balda, a comissão processante foi aberta após ele comparar “uma cor no sentido figurado para criticar a falta de transparência e os prejuízos administrativos da época”. O comunicador relembrou que o Conselho de Ética pode suspendê-lo por 30 dias sem remuneração por considerar a fala como “ofensiva e racialmente discriminatória”.
“Reafirmo que jamais tive a intenção de ofender qualquer pessoa ou grupo. A alegação de que não me retratei é inverídica: no dia 28/06 publiquei uma nota de esclarecimento na página Balda News, e no mesmo dia gravei um vídeo com o subsecretário de Políticas Étnico-Raciais, explicando o contexto e reconhecendo que a palavra foi mal colocada. No dia seguinte, 29/06, voltei a me retratar durante uma live, reforçando que não cometi nenhum ato de racismo. Minha fala ocorreu enquanto exercia minha atividade como jornalista, fora do plenário, e não no exercício do mandato. Ainda assim, tentam misturar tudo para me imputar um crime que não cometi. Trata-se de mais um episódio de perseguição política disfarçada de ética”, definiu.
Balda (Novo), vereador de Araraquara
As denúncias podem resultar até mesmo na suspensão do mandato do vereador pelo período de 30 dias, sem recebimento de subsídios. Para isso, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar prossegue com as investigações e convidou Balda para prestar esclarecimentos nesta segunda-feira (30), às 14h. O depoimento, porém, foi restrito e sem acesso da imprensa.

PARA RELEMBRAR
Em uma transmissão ao vivo realizada em 22 de maio, o vereador Balda (Novo) utilizou a expressão “negra” para classificar negativamente a gestão do ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva. Na ocasião, o parlamentar usou sua página no Facebook para comentar a proposta de reajuste salarial para os servidores municipais, que estavam em greve.
“Tudo isso porque Araraquara teve uma administração ‘negra’, e isso eu falo de boca cheia porque acompanhei. Foi uma administração ‘negra’ a do ex-prefeito [Edinho Silva], que deixou Araraquara arrasada, aniquilada, quebrada, com um bilhão e noventa e dois milhões de reais em dívidas”, afirmou Balda. (Veja vídeo abaixo)
O vereador continuou, citando as supostas dívidas deixadas pelo ex-prefeito, que teriam comprometido uma proposta de reajuste melhor para os servidores. “É dívida para todo lado, vocês não têm noção. É dívida no transporte, é pedalada na saúde, são notas sem empenho. As obras… o Orçamento Participativo é a maior mentira do mundo. O dinheiro desapareceu e as obras não foram concluídas. Então, Araraquara está um verdadeiro caos em virtude da pior administração da história“, declarou.
A fala do comunicador foi repudiada pelo Comcedir (Conselho Municipal de Combate à Discriminação e Racismo), pela OAB e movimentos sociais. A deputada estadual Thainara Faria (PT) e a vice-prefeita Meire Laurindo também classificaram o episódio como racismo.