Cientistas que prestam depoimento, nesta sexta-feira (11), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, no Senado, citaram a experiência de Araraquara com o lockdown.
A primeira a mencionar a cidade é a microbiologista Natália Pasternak. Ela defende a necessidade de uma ação de Estado para enfrentamento da doença.
Para ela, Araraquara é um dos poucos exemplos de medidas restritivas. Mas, apesar do embasamento científico, considera que não deve ser adotado de forma isolada.
“O lockdown é uma medida importante, é óbvio que é drástica, mas situações drásticas exigem medidas. E esse lockdown nunca foi feito no Brasil, a não ser de forma isolada. Por exemplo, Araraquara fazer um lockdown é ótimo, nos deu até boa prova de conceito, mas não é tão eficaz como se tivesse uma região inteira fazendo em conjunto”, defende.
“Isso é a falta de diretrizes coordenadas pelo Ministério da Saúde e Governo Federal, que acabou deixando estados e municípios a própria sorte para que cada um combata a pandemia do seu jeitinho, sem ter diretrizes claras e coordenadas”, completa.
A microbiologista também ressalta a necessidade de manter os cuidados para evitar novo crescimento da doença, como uso de máscara e distanciamento social.
“Sabemos que as melhores medidas preventivas são aquelas que impedem o contágio de pessoa para pessoa. O que se percebe é que é realmente uma doença de contágio respiratório, que passa de pessoa para pessoa pelo contato próximo”, ressalta.
A experiência de Araraquara com as medidas restritivas voltaram à pauta durante o depoimento do médico sanitarista e ex-presidente da Anvisa, Claudio Mairovitch.
Durante questionamento de um senador, o especialista também ressalta a importância de uma coordenação nacional para que haja redução na transmissão da covid-19.
“Isso é cristalino, houve medidas destinando recursos para os estados e municípios para equipar hospitais, eventualmente aquisição de insumos, mas não houve nenhuma medida nacional para diminuir a transmissão e circulação do vírus”, alerta.
“Doutora Natália comentou aqui o quanto é difícil que município isoladamente adote, como citado aqui Araraquara, medidas restritivas. Até porque raramente esses municípios são isolados, a população circula de um município para outro”, conclui.
As falas ocorrem em momento delicado para a Saúde pública da região de Araraquara. A ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) volta a preocupar autoridades.
Além disso, segundo apurado, ainda há resistência de prefeitos da região em adotar medidas restritivas para conter o avanço da doença, mesmo nos que possuem filas de internações.
O tema vem sendo debatido entre as cidades que compõem a Diretoria Regional de Saúde III, que agrega 24 cidades e quase um milhão de habitantes, para pouco mais de 200 leitos.
No caso de Araraquara, a cidade possui uma espécie de gatilho em decreto municipal, prevendo lockdown automático caso a taxa de contaminação seja de 20 ou 30% para assintomáticos e sintomáticos, respectivamente, na testagem diária.
Nesta semana a cidade bateu esse índice em duas oportunidades, colocando autoridades e comerciantes em alerta devido ao risco de novo fechamento das atividades.