Por quatro anos, o semáforo foi o “escritório” do vereador recém-eleito Marcelo Gurgel (PP). Com deficiência física e de comunidade pobre, ele superou barreiras e preconceitos ao longo de seus 37 anos e, agora, irá assumir um novo desafio, ocupando uma cadeira na Câmara de Araraquara.
Nesta sexta-feira (11), Dia Nacional da Pessoa com Deficiência, o portal acidade on conta a trajetória do único vereador com deficiência física eleito para a próxima legislatura e um dos poucos da história.
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“Sempre enfrentei desafios, passei por cima das barreiras e estou caminhando. Preciso de mais ainda, quero mais e vou enfrentar tudo o que for possível nesta vida para ajudar as pessoas“, disse.
Nas eleições municipais do último domingo (6), Marcelo foi eleito com 1355 votos. Votação quase 10 vezes maior que a obtida em 2020, quando disputou ao mesmo cargo pela primeira vez pelo PDT.
“Meu povo me levou até lá e eu vou continuar. Fui eleito para servir o povo e a população de Araraquara. Vou lutar pelos idosos e pelos melhores amigos da gente, que são os animais”, afirmou.
Debaixo de sol e chuva, Marcelo vende balas e doces no cruzamento da Rua São Bento (R.3) com a Avenida Padre Francisco Salles Colturato (Av. 36), no Centro. É do apoio de motoristas e comerciantes no entorno que ele acredita ter recebido a maioria dos seus votos.
“O meu sustento ainda sai daqui, porque eu não parei e não vou parar, o meu desafio ainda vai continuar aqui. Vou repartir uma parte na Câmara e a outra atendendo o meu povo na rua”, retribuiu.

VIDA PESSOAL
Marcelo nasceu com má formação dos membros superiores e, em 2017, foi vítima de um atropelamento que o deixou com sequela em uma das pernas. Mas a deficiência não o impediu de alcançar seus objetivos.
A criança que sequer conheceu o pai, que morreu antes de seu nascimento, começou a trabalhar aos 12 anos para ajudar a mãe com o sustento da casa. Passou parte de sua adolescência no TCI (Terminal Central de Integração), foi cobrador de ônibus e engraxate.
Marcelinho, como é chamado pelos amigos, também trabalhou em empresas, mas sem chances de crescer, decidiu empreender nas ruas, como vendedor de balas no semáforo. “A gente não tem oportunidade dentro das empresas porque, às vezes, os próprios empresários não acreditam na gente, e eu acredito em mim mesmo. Eu vim empreender e surpreendi várias pessoas”, afirmou.

FUTURO NA POLÍTICA
A falta do olhar do poder público para as pessoas com deficiência, a indiferença e o preconceito das pessoas foram alguns dos impulsionadores que fizeram Marcelo Gurgel ingressar na política.
Ele disse sonhar com a inclusão e com direitos iguais para as pessoas com deficiência. “Só quem tem na família sabe a dor que é o preconceito, como é difícil. Mas a gente vai superar, é a minha missão, a minha obrigação”, comentou.
Para ele, a indiferença e o desrespeito começam com um carro estacionado indevidamente em uma vaga reservada para pessoas com deficiência física, uma fila prioritária no supermercado que não é respeitada ou a sua própria existência.
“É uma fila, um olhar torto, é o preconceito. A pessoa às vezes até se afasta, julga, mas não te conhece. Você pede com educação e acham que você é folgado. Preconceito machuca, mas somos fortes, eu vou ensinar muitas pessoas que o desafio da vida faz a gente crescer mais“, disse.
Marcelo defende que a sua eleição é uma conquista de toda a comunidade e representa um avanço no que se refere à diversidade de representação na Câmara. “Espero que a sociedade a partir de agora comece a enxergar melhor, sem olhar torto, abrace todos os deficientes, porque somos seres humanos“, opinou.
“Pode cobrar porque eu estou aqui para lutar por todos, não só pelas pessoas com deficiência, mas pelos animais e por toda Araraquara, que merece o melhor”, concluiu.

