Se o ano político de Araraquara fosse dividido em capítulos, o primeiro e mais importante teria no roteiro o dia em que a Câmara Municipal rejeitou pedido de impeachment contra o prefeito Edinho Silva (PT). O fato, inédito na história local, ocorreu em agosto de 2021.
Após visita do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), oposicionistas derrotados nas urnas em 2020 protocolaram na Câmara um pedido visando o impedimento do prefeito. O impeachment acabou arquivado, por 13 votos a 4.
Mas, esse não foi único pedido do tipo durante o ano de 2021. É que os vereadores Marchese da Rádio e Carlão do Joia (Patriota), Hugo Adorno (Republicanos) e Lineu Carlos de Assis (Podemos) pediram a cassação do mandato de cinco vereadores por quebra de decoro.
A representação, de 23 páginas, era contra Filipa Brunelli, Fabi Virgílio e Thainara Faria (PT), Luna Meyer (PDT) e Guilherme Bianco (PC do B), por falas consideradas “ofensivas para a dignidade da Casa de Leis” durante o uso da tribuna do legislativo.
O ano também foi marcado por povo nas ruas. Com a polarização política cada vez mais acirrada entre apoiadores e contrários ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), Araraquara protagonizou diferentes manifestações pró ou contra o mandatário.
Com o agravamento da covid-19, Araraquara virou notícia nacional por ser uma das primeiras cidades a adotar medidas restritivas de enfrentamento à doença. Em fevereiro, o município protagonizou lockdown de 60 horas e, em junho, foram oito dias de restrições severas.
O remédio amargo não agradou setores econômicos e manifestações contrárias às iniciativas do comitê científico foram registradas. Outro protesto foi dos profissionais da educação, que protagonizaram 120 dias letivos de greve sanitária contra o retorno presencial das aulas.
No mesmo período, a cidade teve ação para doação de alimentos pela Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). Cerca de 100 toneladas foi distribuída e o ato acabou capitalizado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro na cidade.
Mas, a primeira polêmica do ano foi à nomeação de quatro ex-vereadores derrotados nas urnas para cargos comissionados na Prefeitura. Além de José Carlos Porsani, que assumiu a pasta de Meio Ambiente, Toninho do Mel, Magal Verri e Édio Lopes foram indicados.
Já o ex-prefeito Marcelo Barbieri e o ex-vereador de Araraquara, João Farias, foram nomeados para desempenhar funções na capital paulista, na gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Barbieri trabalha diretamente com Nunes, enquanto Farias é secretário de Habitação.
O ex-prefeito, em novembro, acabou condenado em segunda instância por irregularidades na contratação de uma organização social para administrar a maternidade Gota de Leite, em 2012. Com a decisão e caso não seja revertida, Barbieri pode ficar inelegível por oito anos.
O ano da política também foi marcado por casos levados à Polícia. Edinho Silva; a secretária da Saúde, Eliana Honain; o presidente da Câmara, Aluísio Braz, o Boi (MDB); e a vereadora Filipa Brunelli buscaram apoio da Polícia para investigar casos de ameaças.
CEI DA COVID
Um dos embates entre governistas e oposição na Câmara foi à abertura de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar os gastos da Prefeitura com o enfrentamento da pandemia da covid-19. Apesar de aberta, ainda não há prazo para início dos trabalhos.
A comissão é presidida pela vereadora Thainara Faria (PT) e tem a relatoria do vereador Marcos Garrido (Patriota). O documento de instalação da CEI prevê que as investigações comecem após a imunização de toda a população da cidade contra a doença.
Ainda na esteira de comissões para investigação, Araraquara e o prefeito Edinho Silva acabaram citados por senadores na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado Federal, bem como por deputados estaduais na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. Ambas as situações foram relacionadas a compras feitas pelo Consórcio Nordeste durante a pandemia da covid-19.
ESTRELLA GALÍCIA
A instalação da cervejaria Estrella Galícia em Araraquara também esteve na pauta dos políticos. Primeiro do prefeito e sua equipe, mas depois para os vereadores que aprovaram incentivos fiscais para que a empresa construa sua primeira unidade fora da Espanha.
Entre os diferentes benefícios concedidos está isenção total de Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), Imposto sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISSQN) e outras taxas municipais relacionadas à construção.
Outros episódios poderiam compor o roteiro da retrospectiva 2021, porém, os assuntos relatados pela reportagem foram os que movimentaram os interlocutores de Araraquara e até mesmo do País.