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PolíticaFilipa Brunelli promete defender minorias políticas na Câmara

Filipa Brunelli promete defender minorias políticas na Câmara

Vereadora do PT, primeira trans eleita em Araraquara, é a décima entrevistada pelo ACidade ON

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Filipa Brunelli (PT) foi eleita com 1.119 votos para seu primeiro mandato (Foto: Divulgação/Câmara)

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Um mandato pautado pela defesa das minorias políticas, valorização da transformação social e uma sociedade humana e igualitária. Esses são os princípios defendidos por Filipa Brunelli (PT), a primeira vereadora trans de Araraquara.  

Eleita com 1.119 votos, Filipa Brunelli Iani, tem 28 anos, é cientista social e cumpre seu primeiro mandato na Câmara de Araraquara.  

A parlamentar define que seu mandato será independente e autônomo, apesar de pertencer e acreditar no Governo de Edinho Silva (PT).  

Brunelli é a décima entrevistada, de 18 vereadores que responderão aos mesmos questionamentos. As entrevistas serão publicadas de segunda a sexta-feira.  

A ordem de publicações segue a votação recebida por cada um dos parlamentares nas urnas. Nesta terça-feira (19) o entrevistado será Guilherme Bianco (PC do B).   

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Filipa Brunelli (PT) é a primeira mulher trans eleita vereadora de Araraquara (Foto: Amanda Rocha)

Confira a entrevista completa com Filipa Brunelli:  

ACidade ON: Na sua avaliação, qual deve ser o papel do Legislativo?

Filipa Brunelli: De forma técnica e resumida ao Legislativo compete basicamente legislar e fiscalizar os atos do Poder Executivo, da Prefeitura. Essa deve ser a função básica e fundamental de um legislador. É o mínimo que esperamos de um bom legislador. Além de ser uma referência de agente social e dedicar seu mandato exclusivamente para benefício de todos os munícipes. Então, na minha avaliação, essa é a base do papel de um legislador.  

ACidade ON: No que se identifica e porque está em seu partido?  

Filipa Brunelli: Antes é importante dizer o que é o Partido dos Trabalhadores. De forma breve, o PT foi o maior partido que surgiu na luta pela redemocratização do Brasil e contra a ditadura militar. Ele surge tanto rejeitando as tradicionais lideranças do sindicalismo radical, como também procurando colocar em prática uma nova forma de socialismo democrático. Somente por essa história da condução e fundação do partido e o regime político defendido pelo mesmo seria suficiente para justificar minha filiação.  

Porém, o que dá ênfase a minha certeza de estar nele é a forma como as identidades políticas tidas, por esse sistema higienista, como marginais sociais ou dita em outras palavras às minorias políticas ocuparam este espaço e aí junto a grande liderança do partido, Luiz Ignácio Lula da Silva, transformamos as demandas sociais em políticas públicas, desde 2003. Então isso me fez ter a certeza de estar no lugar certo. Não digo que dentro do partido não exista problemas e preconceitos, mas mesmo assim, ainda é um espaço para o diálogo e a transformação política.  

Fora isso tem grandes marcas, como por exemplo, a primeira travesti eleita no Brasil ser petista. Isso é importante, foram às considerações que fiz há seis anos quando me filio ao Partido dos Trabalhadores e resolvo aí me dedicar a defender essas bandeiras. Mas mesmo assim reitero, o Partido dos Trabalhadores é composto por pessoas que cresceram e foram ensinadas dentro de um sistema opressor, conservador e às vezes acaba levando alguns comportamentos que não são tidos como politicamente corretos pra dentro do partido. É por isso que é importante ter pessoas como eu dentro do partido para combater esses tipos de estigmas aqui, para aí sim fazer o debate de forma correta para com a sociedade.  

ACidade ON: Quais serão suas bandeiras neste mandato?  

Filipa Brunelli: Não digo que nosso mandato terá bandeiras. Até porque se fosse dividir por bandeiras teriam muitas. Mas somente pela minha identidade social e o que represento, ser travesti, periférica e os debates que levanto, posso afirmar que a principal ação, ou bandeira do nosso mandato, será a defesa das minorias políticas, a valorização da transformação social, a defesa de uma sociedade mais humana e igualitária, acima de tudo o respeito e a valorização da política de nossa cidade. Acho que basicamente essa será a nossa principal afirmação, nossa maior defesa dentro do Legislativo de Araraquara.  

ACidade ON: O ano de 2021 ainda deve sofrer os impactos da pandemia, com filas na saúde e crescimento do desemprego e empobrecimento da população. Na sua avaliação, como a Câmara pode contribuir para amenizar estes impactos?  

Filipa Brunelli: Ao ir mais uma vez pela questão técnica, diria que basicamente não teria muito que a Câmara fazer neste momento, a não ser fiscalizar o Executivo e cobrar que as ações sejam efetivadas. Mas esse não é meu perfil, não conseguiria ficar no gabinete de braços cruzados esperando as movimentações do Executivo. Não, nunca. Esse não é meu perfil, pois não pertenço a essa lógica da política institucional ultrapassada no meu ponto de vista.  

Minha proposta é a transformação política de fato, colocar a humanidade em um ambiente onde muitas vezes é usada para oprimir a sociedade, dificultar a vida da população de Araraquara. Gosto mesmo de pôr a mão na massa, correr atrás de soluções e não é a toa que estamos trabalhando em proposituras de enfrentamento a covid-19 e os impactos sociais causados em Araraquara por essa pandemia. Então estamos trabalhando nesse quesito e a população vai perceber muito que o perfil do nosso mandato é mais proativo, que coloca mais a mão na massa, resumindo no senso comum. Mas basicamente é isso.  

ACidade ON: Na última legislatura 82% das leis de autoria dos vereadores foram para dar nome próprios públicos e promover inclusões no calendário de eventos do município. Qual sua opinião sobre isso e acredita ser possível mudar essa realidade? Se sim, como?  

Filipa Brunelli: Resumindo em uma palavra é: absurdo. Enfim, 82% das legislações se dar por coisas que são importantes, mas básicas. O vereador deve ser um agente social transformador. Então colocar nome de rua é algo necessário, mas resumir um mandato a apenas isso é no mínimo um desrespeito não somente ao povo, mas também a instituição política.
A política é algo sério e se levada com seriedade e compromisso é possível fazer grandes transformações na sociedade.  

Mais uma vez reitero, é importante o nome de rua, até mesmo porque nós precisamos se locomover, identificar e como forma de homenagear pessoas que foram importantes em nossa sociedade, mas não dá para o vereador ficar somente nisso. Acho que a preparação de um político, de um vereador é de extrema importância para compreender o ambiente em que ele está e o que tem nas mãos, quais são as ferramentas que podem usar pra de fato colaborar com uma sociedade melhor e não simplesmente ser um mandato que onere os cofres públicos. 

ACidade ON: Como deve se posicionar na Casa de Leis? Será base governista, oposição ou terá uma postura independente e por quê?  

Filipa Brunelli: Sem dúvida alguma nosso mandato será independente. Pertenço ao mesmo partido do prefeito, confio muito no trabalho dele, mas agora sou uma legisladora. Até mesmo como uma forma de respeitar a Constituição Federal e o povo de Araraquara nosso mandato tem que ser autônomo e zelar sempre pela neutralidade e principalmente por ouvir os anseios da população. É óbvio que em muitas votações estarei alinhada com o Governo, até mesmo por estar alinhada com os pensamentos do Governo e não simplesmente votar junto porque faço parte da base, não. Só iremos convergir e dialogar com os projetos enviados do Poder Executivo para com a Câmara se de fato acreditar naquilo. Agora se divergir de pensamento e de ações que defendo, com certeza, nós não estaremos juntos. Mas acho que vai ser difícil isso e mesmo assim nosso mandato é autônomo.

CURIOSIDADES SOBRE A VEREADORA: 

Ídolo: falar de um ídolo pra mim é bem difícil, porque tenho vários, mas se tem que dizer apenas um que seja a Lady Gaga. Não somente pelo que ela representa na indústria musical, mas pelo que representa enquanto mulher política. Diria com certeza que Lady Gaga é quem admiro muito;  

Inspiração política: vai muito do que disse na questão de ídolo. Sou uma pessoa libriana, não consigo decidir uma única coisa. Mas tenho várias inspirações políticas, que vão de Marsha P. Jhonson, Harvey Milk, Silvia Rivera, Angela Davis, Mahatma Gandhi, o próprio Lula, Luana Muniz, Amanda Mafre, enfim, diversos outros nomes que tenho como inspiração política, não somente na política institucional, mas o conceito de política como um todo; 

Time do coração: não acompanho futebol, sou corintiana por nascimento, porque meu avô era louco por futebol e sempre induziu os netos e netas a serem corintianos. Então por isso sou corintiana, mas não sigo, não assisto, não entendo de futebol e não tenho time do coração; 

Livro de cabeceira:
Por mais que eu tenha muita coisa contra a autora dessa saga, por ser uma pessoa preconceituosa, transfóbica, sou apaixonada pela obra dela e não preciso nem citar o nome pra não dar ibope a ela, mas o livro que com certeza é de cabeceira da cama pra mim é Harry Potter. Admiro, amo muito essa saga, enfim, é um livro que leio, releio quantas vezes tiver tempo para isso; 

Estilo musical:
É a mesma coisa, sou bem eclética. Vou desde o pop norte-americano, indie, músicas marroquinas e indianas, MPB e em alguns momentos de tranquilidade também adoro música clássica e ópera;  

O que não pode faltar no mandato, em uma palavra? Respeito.

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Walter Strozzi
Walter Strozzihttp://www.acidadeon.com/araraquara
Formado em Jornalismo pela Uniara (Universidade de Araraquara), Walter Strozzi é repórter no acidade on desde 2018. Anteriormente atuou na Tribuna Impressa, Assessoria de Comunicação da Câmara Municipal e CBN Araraquara.
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