Saúde e Educação são as principais preocupações do vereador João Clemente (PSDB). Eleito com 1.127 votos, o parlamentar considera que as áreas não podem ser “abandonadas” em meio à pandemia.
João Paulo Clemente Junior, de 30 anos, é formado em Direito e cumpre seu primeiro mandato. O parlamentar se classifica como independente, diz não ter padrinho político e garante ter compromisso somente com a população.
O tucano é o nono entrevistado, de 18 vereadores que responderão aos mesmos questionamentos. As entrevistas serão publicadas de segunda a sexta-feira.
A ordem das publicações segue a votação recebida por cada um dos parlamentares nas urnas. Na próxima segunda-feira (18), a entrevistada será Filipa Brunelli (PT).
Confira a íntegra da entrevista com o vereador João Clemente:
ACidade ON: Na sua avaliação, qual deve ser o papel do Legislativo?
João Clemente: Entendo que existem ao menos três caminhos para se estruturar o papel do Legislativo. O primeiro é que a pessoa que se comprometa a estar aqui seja um observador e cumpridor dos princípios da administração pública, que os conheça, os respeite e os faça valer. Em um segundo ponto o Poder Legislativo deve ter sim seu caráter fiscalizador, que era o real motivo do legislador originário quando criou a tripartição de poderes.
Por fim, o ocupante do Poder Legislativo deve ser um construtor de pontes no sentido de ser um canal direto entre a população, o prefeito e seus secretários. Quando a gente fala de Prefeitura não podemos esquecer que o prefeito tem uma administração, de forma direta e indireta nas mãos dele, e que é quem atende de fato as necessidades da população. Acredito que se o vereador der conta de fazer esses três procedimentos garante êxito no seu mandato.
ACidade ON: No que se identifica e porque está em seu partido?
João Clemente: Temos acompanhado nos últimos anos um acirramento cada vez mais político e a perca de representatividade dos partidos políticos em geral. Um avanço dilacerante da tal polarização. Acredito que é um processo que faz parte do contexto democrático, mas como a nossa democracia ainda está caminhando para se estabelecer de forma plena, com muitos desafios, eu entendo que o PSDB é um espaço de debate lúcido dentro da história política do município de Araraquara, mesmo que em alguns momentos isso se contradiga com o cenário Estadual e Federal. Mas me identifico muito com a social democracia, a garantia do estado de bem estar social e é por isso que fui acolhido com certo prazer aqui no PSDB para compor a chapa e acabamos saindo vitoriosos.
ACidade ON: Quais serão suas bandeiras neste mandato?
João Clemente: Acredito que se a gente fica repartindo muito a sociedade, não acaba conseguindo fazer a gestão para todos. Isso tem que ficar muito claro. Mas quando penso em pautas que são importantes, principalmente, no ano onde a pandemia vai se estabelecer cada vez mais, ou no seu avanço ou na sua diminuição, eu entendo que saúde e educação são temas que não podem ser abandonados. Eu tenho um vínculo, tanto de formação, quanto afetivo com a educação e ainda estou crescendo no entendimento frente à saúde. Mas entendo que para que ambos possam acontecer outra bandeira que vou levantar muito aqui na Câmara é a questão da inteligência democrática. As pessoas precisam aprender a conviver com o diferente, quem pensa diferente de mim não é meu inimigo, é alguém que pode construir dentro da realidade caminhos que sejam possíveis e que contemplem o bem-comum, o bem que atinge a todos. Então essas bandeiras vão ser as que vão nortear os meus passos e tem sido o caminho pra pensar minhas decisões.
ACidade ON: O ano de 2021 ainda deve sofrer os impactos da pandemia, com filas na saúde e crescimento do desemprego e empobrecimento da população. Na sua avaliação, como a Câmara pode contribuir para amenizar estes impactos?
João Clemente: A resposta é clara. Existem dois caminhos. Vislumbro somente dois caminhos para poder trabalhar a pandemia e seus impactos, respeitando quem pensar diferente. O primeiro é a informação, o que mais prejudicou todas as sociedades pelo mundo durante a pandemia foi o quesito desinformação. O trabalho que é prestado por pessoas que estão a serviço da desinformação é algo terrível. Então a melhor coisa para se enfrentar a pandemia em um primeiro instante é a informação. Informar a população nas suas coisas mais básicas, no uso da máscara, álcool em gel, distanciamento, a importância desses mecanismos, a prevenção da saúde, afinal, quantas pessoas tiveram agravamento da sua situação porque não tiveram uma boa saúde? A questão da prevenção é primordial e passa também pela informação.
Em um segundo momento uma forma de amenizar esses impactos é o investimento. O poder público atuar de forma incisiva e direta com objetivo de investimento naquilo que a gente perceber que vai ser agravado. Sempre foi um engodo essa questão entre a Saúde e a economia e a gente só consegue resolver esse engodo com investimento. Eu, enquanto vereador, entendo que seria oportuno ir a São Paulo, a Brasília, buscar emendas parlamentares que contemplem essas realidades, promovam toda estrutura municipal no auxílio das pessoas mais pobres. E a gente sabe que os mais pobres e pretos foram os mais atingidos nessa pandemia, então essas duas palavras definem o que eu entendo como colaboração dos impactos da pandemia: informação e investimento.
ACidade ON: Na última legislatura 82% das leis de autoria dos vereadores foram para dar nome próprios públicos e promover inclusões no calendário de eventos do município. Qual sua opinião sobre isso e acredita ser possível mudar essa realidade? Se sim, como?
João Clemente: Essa resposta pede três situações distintas. Primeira, não se pode condenar um vereador por cumprir seu papel e, se você pegar o regimento interno da Câmara e a Lei Orgânica do Município vai perceber que é competência do vereador formular esses dois tipos de lei, tanto aquela que dá nome a rua, como aquela que inclui datas no calendário do município. Então não posso condenar uma pessoa que está cumprindo uma função que lhe cabe e lhe compete. Claro que precisam ser guardadas as devidas proporções. Não é só disso que a administração pública precisa.
Então em um primeiro momento nós precisaríamos guardada a competência pensar em outro dado que é o seguinte: Araraquara tem de 10 a 12 mil leis prontas, em vigência. Dessas 10 ou 12 mil leis que existem no município, quantas delas ainda tem eficácia? Quais ainda tem necessidade de existência? Quais são aplicadas de forma correta? Também entendo que a melhor forma de mudar isso não é criando novas leis. Mas é fazer uma revisão da legislação de Araraquara e isso é um processo árduo, pois tem que enxergar as competências e os temas específicos. Mas essa revisão é importantíssima pra gente entender o que ainda funciona e não. Quero estar comprometido com isso durante o mandato, revisando essa legislação e não só aumentando o coro dos desesperados.
ACidade ON: Como deve se posicionar na Casa de Leis? Será base governista, oposição ou terá uma postura independente e por quê?
João Clemente: Fui eleito através de um processo muito lúcido e bonito, voltado ao bem comum e pensando nas virtudes de uma pessoa pública. Esse grupo sempre prezou muito pela independência das nossas ideias, a autonomia, claro que respeitando e dialogando com os divergentes, mas sempre pensando no bem comum, no bem de todos. Já me declarei, em algumas possibilidades que tive, como independente. Em um primeiro momento, algumas pessoas tentaram me colocar a pecha de oposição, mas não essa oposição, desculpa o termo, burra, desinformada e desenfreada não. Acredito que a modalidade que me encaixo seja de independência do Governo, não tenho padrinho político, ou compromisso que não seja com quem votou em mim e a partir do dia que tomei posse, ele é com todos os munícipes de Araraquara. Acredito que a maneira de postar aqui vai ser de forma independente, que é pra poder garantir a eficácia desse mandato e ele dialogar com todos aqueles que confiaram em mim.
CURIOSIDADES SOBRE O VEREADOR:
Ídolo: sem sombra de dúvidas sou católico, apostólico, romano praticante, então meu maior ídolo é Jesus Cristo. E o único, diga-se de passagem;
Inspiração política: Márcia Cristina Campos Clemente e João Paulo Clemente, meus pais. Essa é minha base, origem, conforto, realidade, é daí que tiro toda inspiração pra continuar vivendo e ser quem eu sou. É daí que tiro todos os meus vínculos afetivos, laços de amizade, que são muitos graças a Deus, então minha maior inspiração são meus pais;
Time do coração: Sem sombra de dúvida, sendo neto de Manoel Clemente, só podia ser corintiano;
Livro de cabeceira: “O nome de Deus é Misericórdia”, de Papa Francisco e essa nova encíclica que o Papa escreveu a “Fratelli tutti”. Dois textos que precisam ser lidos com muito carinho e zelo;
Estilo musical: sou do samba, do pagode e do samba-rock. Adoro dançar, fazer roda de samba e não vejo a hora dessa pandemia passar pra gente poder voltar;
O que não pode faltar no mandato, em uma palavra? Diálogo.