O fim da obrigatoriedade do uso de máscaras ao ar livre anunciada pelo governador João Dória (PSDB), nesta quarta-feira (24), passa a valer a partir do dia 11 de dezembro no estado de São Paulo.
A reportagem do acidadeon Araraquara ouviu médicos especialistas que comentaram sobre a flexibilização e fim da obrigatoriedade das máscaras em ambientes abertos.
PODE LIBERAR?
Para o médico epidemiologista e professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Bernardino Alves Souto, ainda é muito cedo para liberar o uso obrigatório das máscaras, pois a situação pandêmica ainda não está controlada.
“Essa ideia de liberar a máscara mesmo que ao ar livre é muito temerária porque a situação da epidemia não está controlada e temos o risco de ter uma nova onda epidêmica. A Europa errou muito nessa questão de liberação de máscara e flexibilização, e hoje vive uma situação muito ruim com a epidemia mesmo com alta cobertura vacinal”, refletiu.
Já para o médico sanitarista Rodolpho Telarolli, a liberação do uso de máscaras ao ar livre é bem vinda pois a população brasileira aderiu a vacinação e por isso a situação pandêmica está mais controlada no país no momento. Ele também comentou que lugares abertos e com ventilação são seguros.
“A liberação do uso de máscaras ao ar livre é bem vinda, primeiro porque muitas pessoas não se adaptam a práticas de atividades físicas como caminhada e corrida utilizando máscaras. Em ambientes abertos, com ventilação corrente e sem aglomeração é seguro a presença de pessoas sem máscaras”, apontou.
O pneumologista Flávio Arbex frisou que o ideal seria ter 80% da população vacinada para liberar o uso de máscaras, mesmo em ambientes abertos. Além disso, ele reforçou sobre a importância da vacinação para frear a doença.
“O estado de São Paulo está com 75% da população vacinada, estamos próximos dos 80%, talvez o mais adequado seria esperar chegar nos 80% para liberar. As pessoas tem que entender que a vacinação tem que continuar, então tem muita gente que não tomou ainda a 2ª dose e já vem a 3 dose”, ponderou.
A musicista e arte educadora Jussara de Paula Justino, disse que não se sente segura para tirar a máscara ao ar livre até tomar a dose de reforço da vacina contra a covid.
“Vou continuar usando até pelo menos até meu reforço da vacina. E talvez só consiga ficar tranquila em um espaço muito aberto. Mas vale o bom senso para cada situação, né”, avaliou.
Já o comerciante Wilton Vital comentou que se sente mais confortável se estiver todo mundo vacinado, mas não abre mão da máscara.
“Em público e se estiver todo mundo vacinado, não vejo problema de ficar sem máscara. Mas eu continuarei com a minha”, ponderou.
4ª ONDA CHEGARÁ AO BRASIL?
Nesta quarta-feira (24), a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para quarta onda da covid, que avança na Europa. De acordo com a OMS, o aumento de casos está associado à abertura e flexibilização das medidas de distanciamento no verão, além do uso inconsistente de medidas de prevenção em alguns países e determinadas regiões.
Para o médico sanitarista Telarolli, o principal fator para 4ª onda da covid-19 não chegar ao país é a alta cobertura vacinal brasileira, já que é tradição do brasileiro tomar vacina.
“Em minha opinião não terá 4ª onda no Brasil, porque estamos caminhando bem nas campanhas de vacinação, os índices de cobertura no estado de São Paulo são as maiores na média do país. O brasileiro tem uma tradição de gostar de vacina, isso por conta do Programa Nacional de Imunização criado nos anos 70, com a erradicação da poliomielite, e a quase erradicação de uma série de doenças, como sarampo, tétano e coqueluche, então o brasileiro adere mais a vacinação”, refletiu.
Para Telarolli, o fato de ser inverno nos países nórdicos europeus e nos Estados Unidos, colabora para a disseminação da doença, já que as pessoas ficam mais aglomeradas em condições favoráveis para a transmissão da doença. Somado a isso, outro fator determinante é o forte movimento anti vacina nesses países.
“De uma maneira geral, os países nórdicos não vem tendo tanto sucesso na vacinação como os países na América do Sul, por conta de um movimento anti vacina, que já vem antes do covid de 40, 50 anos atrás. Isso se soma a condição climática, um cenário propício para a 4ª onda de coronavírus”, informou.
O pneumologista Arbex reforçou que a população deve ficar atenta e não “baixar a guarda” contra a covid.
“A população não deve achar que com isso a pandemia acabou e começar a se aglomerar em lugares fechados e não usar máscara, é um grande perigo para a disseminação da doença”, apontou.
O epidemiologista Bernardino Alves Souto avaliou que a vacina tem evitado mortes e casos graves, porém é pouco eficaz em evitar a transmissão do vírus. Para ele, isso não evita outra onda epidêmica.
“Geralmente quando temos uma cobertura vacinal alta reduzimos mortes e casos graves mas podemos ter ondas epidêmicas importantes”, apontou.
Todos os médicos especialistas reforçaram a importância das medidas sanitárias já consagradas na prevenção ao coronavírus: o uso de máscaras em ambientes fechados, o distanciamento social e uma boa higiene pessoal.