O número de 43 policiais mortos por causa da covid-19 no Estado de São Paulo, em 2020, é praticamente o dobro dos 22 óbitos provocados por confrontos entre agentes e suspeitos no mesmo ano. Os dados constam no Relatório Anual 2020, da Ouvidoria das polícias de São Paulo, divulgado nesta semana.
O levantamento afirma que no ano passado, 19 policiais militares, 21 civis e três técnicos científicos morreram por causa do novo coronavírus no estado. No mesmo período, 18 PMs e quatro policiais civis foram mortos em supostas trocas de tiros.
Em abril o Agora mostrou que dez PMs da ativa haviam morrido em decorrência da Covid-19 no estado, somente no mês de março. Isso superou as nove mortes em confrontos, registradas entre maio de 2020 e fevereiro último.
A covid-19 também matou ao menos um um policial civil a cada dois dias e meio no estado entre janeiro e 10 de abril deste ano, segundo dados da Adpesp (Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo). Foram 40 mortes no período, representando alta de 90% em relação ao 21 óbitos, decorrentes do novo coronavírus, entre março e dezembro de 2020.
Em 2019, ou seja, antes da pandemia, 34 policiais morreram no estado de São Paulo, considerando agentes militares e civis de folga e em serviço, de acordo com a SSP (Secretaria da Segurança Pública). Este número ainda é superado pelas mortes de policiais provocadas pela Covid-19, tanto em 2020 quanto entre janeiro e abril deste ano, segundo os dados mencionados da Adpesp.
O maior número de policiais mortos pela Covid, em relação aos óbitos registrados em confrontos com criminosos, pode ser um “reflexo do entendimento” de que ser policial “pode não ser uma categoria de trabalhador”, afirmou o pesquisador Dennis Pacheco, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
“Há essa ideia de que o policial é o herói, o salvador. Existe essa construção e isso nega para eles alguns direitos. No começo da pandemia, não era incomum ouvir policiais relatando problemas de acesso a insumos de higiene”, afirmou.
Pacheco disse ainda que a morosidade para a vacinação dos brasileiros também pode ser responsável pelas mortes dos policiais, aliada à cultura do “policial que é herói”. “A vacina demorou a chegar aos policiais por causa do ‘cabo de guerra’ dos interesses políticos”, criticou.
A vacinação de agentes de segurança começou no estado de São Paulo em 5 de abril deste ano, quando 180 mil doses de imunizante foram disponibilizadas na ocasião.
Segundo a gestão João Doria (PSDB), até as 17h desta terça-feira (1º), 209 mil profissionais das forças de segurança (89,57% do total) haviam sido vacinados contra a Covid-19 no estado de São Paulo, sendo 160.295 com a primeira dose e 26.905, com a de reforço.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, um levantamento da Polícia Militar apontou que o número de afastamentos e licenças médicas em razão da Covid-19 caiu após o início da vacinação do efetivo. “Antes da data, a instituição chegou a registrar até 1.700 licenças por sintomas relacionados à doença em uma semana. Com a imunização dos profissionais, esse número foi reduzido para cerca de 300, em média, por mês”, afirmou a pasta.
O ouvidor das polícias, Elizeu Soares Lopes, disse que as mortes de policiais repercutem também em outros dados, como na reclamação da ausência de policiamento em algumas regiões.
“O demonstrativo disso está tanto na questão das baixas ocorridas pela pandemia nas polícias Militar e Civil quanto no aumento da violência sofridas por pessoas em suas casas, que passaram a requisitar mais a presença da polícia [expondo mais os agentes ao vírus]”, afirmou ao Agora na tarde desta terça, por meio de sua assessoria de imprensa.
OUTRO LADO
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública disse que desde o início da pandemia, a pasta e as polícias Civil, Militar e Técnico-Científica têm adotado todas as medidas necessárias para garantir a proteção de seus agentes, seguindo as recomendações e orientações das autoridades de saúde e do Centro de Contingência da Covid-19.
“Neste período, foram adquiridos e distribuídos aos efetivos equipamentos de proteção individual, como máscaras, luvas, aventais descartáveis, álcool gel e face shield. Além disso, os ambientes de trabalho, bem como as viaturas e laboratórios são constantemente higienizados”, afirma.
De acordo com a secretaria, os profissionais da segurança pública, assim como os parentes residentes com eles, foram submetidos a testes para a detecção da Covid-19. “Foram mais de 100.000 testes realizados ao longo dos meses de maio e junho de 2020”, afirmou, em nota
“O total de agentes afastados, nas três polícias, corresponde a 0,8% do efetivo em todo o Estado. Todo policial com suspeita ou diagnóstico da Covid-19 foi ou está devidamente afastado, conforme orientações do Comitê de Contingência do Coronavírus”, disse. “A SSP acompanha o quadro clínico, fornecendo todo o suporte necessário para a recuperação de seus agentes. Desde o início da pandemia, 180 policiais morreram no estado de São Paulo vítimas da doença.”