O manifesto sem posicionamento, preenchido com palavras anêmicas, aliado aos mais de 50 casos de covid-19 que já aconteceram em virtude da Copa América, impedem que qualquer fagulha de futebol, que por acaso apareça durante a competição, seja valorizada. Será necessário um gol de falta de Messi por dia para que o torneio ganhe importância.
Contudo, mesmo que cabisbaixa, a bola rola, e a seleção brasileira se faz presente dentro de campo.
Desde a Copa do Mundo de 2018, quando as expectativas da torcida brasileira foram frustradas por Lukaku, De Bruyne e Courtois, há um mau humor com a equipe de Tite que só se justifica pela memória afetiva do que fomos um dia. Mas, enquanto somos saudosistas com o passado longínquo, parece que sofremos amnésia das lembranças recentes do escrete nacional.
Em 2011, com Mano Menezes no banco de reservas, que assumiu a seleção brasileira no elo perdido entre o que não eram mais Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Kaká e o que Neymar ainda viria a ser, o time foi eliminado nas quartas de final da Copa América, caindo para o Paraguai nas penalidades. Três anos depois, no regresso de quem não deveria ter voltado, vimos a equipe de Felipão protagonizar a maior derrota da história do futebol, no fatídico 7 a 1. Ser eliminado pelo Chile, nas oitavas de final, teria sido menos vexaminoso. A bola de Pinilla no travessão, no último minuto da prorrogação, foi cruel conosco, não com os chilenos.
Em outro retorno que nunca deveria ter acontecido, nós descobrimos que o poço do futebol sempre pode ser mais fundo. Na “New Era” Dunga, o Brasil pediu bis nas quartas de final da Copa América e mais uma vez sucumbiu diante do Paraguai nos pênaltis. No ano seguinte, sequer teve essa oportunidade. Na versão centenária da competição continental, a seleção ficou na fase de grupos, só vencendo o Haiti. Para completar o cenário tragicômico, em julho de 2016, estávamos em um enfadonho sexto lugar das Eliminatórias para a Copa do Mundo e, naquele momento, seríamos ausentes em um mundial pela primeira vez na história.
Essa é a cronologia da seleção brasileira na última década, porcamente maquiada com um título de Copa das Confederações. Nesse contexto, a CBF resignou-se e ligou para Tite, como quem pede socorro para um salva-vidas.
Com ele, são 55 jogos, 41 vitórias, 10 empates e 4 derrotas. O único jogo perdido em uma competição oficial foi justamente contra Bélgica, no mundial passado. Nas Eliminatórias, o time segue invicto, com 19 jogos, 17 vitórias e 2 empates. Na Copa América de 2019, a seleção foi campeã invicta e levou só um gol, já na final, contra o Peru. Inclusive, em competições oficiais, são 9 gols sofridos em 31 jogos, com 69 tentos marcados. Ao todo, contabilizando os amistosos, são 110 gols feitos e apenas 19 contra.
A evolução é tão significativa que sequer nos demos conta que, na semana passada, na vitória por 2 a 0 contra o Paraguai, o Brasil derrubou um tabu de 35 anos sem vencer o algoz de 2011 e 2015 em sua própria casa.
O time ainda precisa ser experimentado contra as principais seleções do Velho Continente, mas no meio do caminho há uma Liga das Nações e uma pandemia que dificultam que isso aconteça. Entretanto, se a seleção não cumpre a expectativa de encantamento, pelo menos ela voltou a tornar entediante o confronto contra outras seleções sul-americanas.
Depois do quadrado mágico subjugado por Zidane, o cartão vermelho de Felipe Melo e o vexame contra Alemanha, a equipe de Tite é a melhor versão do Brasil desde o título mundial de 2002.