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BairrosHorta Comunitária do Itajaí: conheça a importância do lugar na periferia de Campinas

Horta Comunitária do Itajaí: conheça a importância do lugar na periferia de Campinas

Terapia, estilo de vida e ajuda popular são desenvolvidas na horta comunitária do Itajaí, no distrito do Campo Grande

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“É renda, é segurança alimentar, é terapia”, traduz o técnico Orlando Santos sobre os frutos da Horta Comunitária do Itajaí, no distrito de Campo Grande, em Campinas. ‘Seu’ Orlando, ao som dos galos de um pomar no terreno comum da Rua Pedro Miguel e também dos aviões que desciam ao aeroporto Viracopos, não tão distante dali, explicava a importância daquele pedaço de terra no distrito campineiro.

“[Trabalhar neste espaço] é saúde, é ter um alimento adequado e que você mesmo produz”,

diz.

Atualmente, Orlando não é produtor do espaço, mas tem uma relação forte de parceria com a comunidade de agricultores da horta, além de ter um currículo de peso. Ele tem técnico em química e formação em nutrição, com pós-graduação em farmacologia. Orlando também já teve passagem por laboratórios de química em empresas como Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e no IAC (Instituto Agronômico). Agora, ele dedica o tempo e conhecimento para ajudar os produtores do espaço.

“Se eu não contribuir em nada com um projeto desses, sabe? A gente tem como oferecer conhecimentos que auxiliem as pessoas”,

diz.

O projeto conta com 17 lotes, com 500 m² cada. Segundo Orlando, o projeto inicial tinha uma projeção para que 23 famílias fossem contempladas, mas a comunidade preferiu respeitar um terreno arborizado. “Outro marco foi em 2010, quando foi feito um convênio com o Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] e, a partir disso, esse espaço passou a ser um assentamento urbano”.

De acordo com o estudo “Panorama da Agricultura Familiar na Região Metropolitana de Campinas”, realizado pelo pesquisador Renato Palma, em 2019, sob orientação da professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Vanilde Ferreira de Souza, a agricultura familiar é um fenômeno presente na RMC (Região Metropolitana de Campinas), em, pelo menos, 19 municípios. A pesquisa apurou que 6.690 famílias estão relacionadas com os trabalhos na terra.

Um passo importante para a comunidade da horta foi dado em 2012, quando a “Associação dos Produtores da Agricultura Urbana e Periurbana de Campinas e Região – Cio da Terra” foi criada. “O objetivo é que essa associação seja incentivadora da produção de alimentos em áreas urbanas, da qual a Horta do Itajaí faz parte”. Em outro momento, Orlando revelou: “Na associação, eu fui o primeiro presidente”.

A horta comunitária do Itajaí, em seu modelo atual, sobretudo, teve início muito antes da criação da associação. Em 2004, o espaço ganharia força quando o produtor João Novais, conhecido como “João da Horta”, realizou cultivos para auxiliar na própria saúde mental.

“Foi nessa época que eu comecei a fazer parte”,  

explica Orlando.

UM ESPAÇO TERAPÊUTICO

Elzani e Valdemar são produtores da horta comunitária do Itajaí, no Campo Grande (Foto: Tudo EP/ Anthony Teixeira)

Elzani Gonçalves estava concentrada no campo. A manhã era de sol, mas a agricultora estava envolvida nas sombras de um guarda-chuva. Duas outras mulheres atravessaram a porteira de madeira, que divide a comunidade do Itajaí da propriedade de 500m²  de terreno da produtora. Elas queriam comprar hortaliças.

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Para Orlando, um dos pontos positivos da horta comunitária é justamente o que aconteceu naqueles rápidos instantes entre a produtora e as duas clientes. “Aqui, a comunidade também está envolvida. Essas pessoas [produtores e comunidade] deixam de ser invisíveis. Esse é um espaço que promove a visibilidade e isso é de um valor social inestimável”.

Enquanto Elzani cavoucava a terra e as mulheres aguardavam as hortaliças frescas, Valdemar Rodrigues apareceu de um casebre nos fundos do terreno. Ele é esposo de Elzani e relembrou como a história do casal começou naquele pedaço de terra.

“Desde 2009, eu trabalho aqui. Eu trabalhava com o meu sogro que também tinha problemas de saúde. Daí ele faleceu e eu vim com a minha esposa trabalhar aqui”.

Para Valdemar, o lugar representa muito mais do que apenas o sustento, a horta é também um lugar de acolhimento e saúde. “Inclusive, eu tive umas complicações de saúde. Eu tive Covid-19 e eu fiquei muito mal, mas trabalhando aqui, eu não precisei nem ir na UTI”. O produtor relaciona o bem-estar com o contato com a terra e com produtos orgânicos, livres de agrotóxicos.

Elzani apareceu logo em seguida. As clientes já tinham saído e ela estava novamente com o seu guarda-chuva na manhã de quente sol. “O meu sonho era trabalhar com isso”, diz.

“Deus me deu aqui e eu continuei”,

explica.

Para a produtora, o lugar é agradável, pois ela tem a oportunidade de aprender diariamente. “Esse é o meu orgulho, eu gosto muito disso aqui, de plantar. E chega gente querendo fazer um chá, para tratar uma gripe, e a gente indica ir ao médico, mas também tem plantas que ajuda”, diz.

PLANTAS MEDICINAIS

Na comunidade do Itajaí, Seu Orlando, que também é formado em nutrição, explica que a procura por plantas medicinais é um fenômeno forte. Os moradores reconhecem as potencialidades da natureza na melhoria da qualidade de vida e, na horta comunitária, esse tipo de planta cresce juntamente com as hortaliças. “As plantas medicinais estão entre as hortaliças. Elas estão por aí”, ele diz.

“Nós temos o conhecimento popular sobre plantas medicinais, mas as pessoas têm dificuldade de reconhecer que planta que é”,

afirma.

Em meio a inúmeros benefícios para toda uma comunidade, Valdemar revela o que ele mais gosta do estilo de vida. “O que traz mais orgulho é saber que o pessoal que vem aqui, vem para consumir uma verdura natural. É isso que traz mais orgulho”. Para Orlando, sobretudo, não é preciso ser um especialista para reconhecer a melhor verdura medicinal na horta comunitária do Itajaí. “As melhores plantas medicinais são as próprias hortaliças. Cada uma tem as suas características”.

Vozes da Nossa Gente

Essa matéria faz parte do Projeto “Vozes da Nossa Gente”, que tem como foco no jornalismo hiperlocal e busca uma maior conexão com a comunidade. O “Vozes da Nossa Gente” pretende inspirar com boas histórias, que são contadas de maneira humanizada pelos moradores de dez bairros da cidade.

A cada duas semanas, uma região será o foco das pautas desenvolvidas pela equipe de jornalismo do portal, que produzirá, para cada região visitada:

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  • Conteúdos interativos, que serão postados nas redes sociais do portal
  • Um mini documentário que será disponibilizado no canal do ACidade ON no YouTube.
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