*Matéria atualizada às 19h32 do dia 22 de novembro de 2022
O homem suspeito de atirar e matar duas pessoas em um show sertanejo no final de semana em Piracicaba é um policial militar. Duas pessoas também foram feridas. O suspeito foi preso após se entregar e depor na tarde desta terça-feira (22). Leandro Henrique Pereira, de 25 anos, saiu da sede da Deic (Divisão Especializada de Investigações Criminais) em uma viatura da Corregedoria da Polícia Militar.
A prisão temporária de 30 dias foi decretada pela Justiça ontem (21) e o autor dos disparos foi levado hoje ao Presídio Militar Romão Gomes, na capital paulista. A Corregedoria foi procurada pela produção da EPTV Campinas para se manifestar sobre o caso e a prisão do militar, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem. O texto será atualizado assim que isso acontecer.
De acordo com o comandante do CPI-9 (Comando de Policiamento do Interior), coronel Cerqueira Leite, o envolvido não mora, ou atua na região de Piracicaba, e não há detalhes sobre o histórico dele. A conduta do membro da corporação será apurada por um Conselho de Disciplina, que pode resultar em demissão. Já a Deic diz que seguirá investigando o crime, mesmo após a prisão (leia abaixo).
O QUE DIZ A DEIC
Versão registrada no boletim de ocorrência e reforçada pela defesa do investigado, a suposta briga de casal que teria motivado a confusão foi negada pela delegada responsável pelo caso, Juliana Ricci, que aponta um empurra-empurra como motivo para o policial ter sacado a arma durante a apresentação. Além disso, o fato de ele estar armado no espaço é considerado totalmente legal.
“Não houve briga de casal. O que houve foi um empurra-empurra. O local estava lotado e aí acabou havendo um desentendimento. Ele estava com a esposa, que é policial militar, e mais dois casais de amigos. Legalmente, ele poderia estar armado. A lei garante o porte em qualquer local do Brasil para os policiais. A revista do evento permitiria a entrada desde que se identificasse”, explica ela.
Sobre os tiros, o investigado alegou à Polícia Civil que a arma caiu durante a confusão e que, quando a recuperou, disparou por se sentir ameaçado por pessoas que teriam partido pra cima dele. A arma não foi apresentada aos investigadores, mas as cápsulas foram recolhidas no dia do crime. Por enquanto, conforme a Deic, nada indica que mais pessoas tenham atirado.
ADVOGADOS SE MANIFESTAM
Segundo a defesa do investigado, ele estava acompanhado da esposa e de um amigo, que também são policiais militares, quando atirou. Além disso, disseram que confusão teria começado após uma briga entre casais. Em nota encaminhada à EPTV Campinas, Adilson Borges e Lilian Medeiros lamentaram as mortes. “Queremos prestar as máximas condolências às famílias”, assinaram.
A representante da família de um dos jovens mortos, a advogada Nathália Verdi, também acompanhou o depoimento preliminar na tarde de hoje. Ela lamentou que a vítima tenha sido mais um jovem que saiu para se divertir e não voltou mais para casa e detalhou que a família dele faz uso de remédios após a morte.
LEIA TAMBÉM
Nova frente fria trará pancadas de chuva a Campinas nessa semana
Campinas abre licitação para obras de reforma e revitalização do Mercadão
DEPOIMENTOS E LAUDOS
Nesta terça, a esposa e o amigo do atirador também foram ouvidos na delegacia. Nos relatos, ambos disseram não saber que ele estava armado, mas repetiram que o motivo da confusão foi um desentendimento entre casais. Ontem, os organizadores do show foram intimados prestaram depoimento à Deic.
Além disso, o fotógrafo do evento foi ouvido e forneceu cerca de 500 fotos dos presentes e uma das testemunhas disse que conseguiria reconhecer o criminoso.
Enviados para análises, os exames do IML (Instituto Médico Legal) e da perícia ainda não estão prontos. Segundo a Deic, os resultados vão mostrar quantas munições atingiram cada vítima e também que tipo de armamento foi usado. O objetivo da Deic é se debruçar sobre essas provas antes de concluir o caso.
O CASO E AS VÍTIMAS
Ao todo, cerca de 4 mil pessoas estavam no local, no distrito Unileste. As duas pessoas que morreram estavam na pista VIP, perto do camarote. Já os dois jovens baleados estavam na pista comum. Um deles, inclusive, segue internado.
A confusão no show que terminou com a morte de duas pessoas, em Piracicaba, começou depois de um desentendimento na pista do evento. Os disparos foram feitos após uma confusão durante a apresentação da dupla Hugo & Guilherme. Ao todo, quatro pessoas foram atingidas pelos tiros. Uma mulher de 23 anos e um homem de 26 não resistiram. Outros dois homens também ficaram feridos.
As imagens feitas por pessoas que estavam no show mostram a jovem Heloise Magalhães Capatto baleada no chão e alguém tentando reanimá-la. A estudante de Odontologia morreu no local. Em sinal de respeito, a Faculdade de Odontologia de Piracicaba, da Unicamp, decretou luto oficial de três dias.
Os disparos atingiram ainda Leonardo Victor Cardozo, que também morreu no espaço da apresentação. Outros dois homens também foram baleados. Um deles levou um tiro atrás da cabeça e segue internado. O outro foi ferido de raspão e narrou os momentos de tensão vividos por ele e pelo público na confusão.
“Eu só ouvi o povo correndo, fui correr, senti que queimou e saí andando pra sair de lá né? O meu caso, felizmente, foi de raspão”, desabafa a vítima ferida.
FALHA NA SEGURANÇA?
Em relato feito à EPTV Campinas, os irmãos Márcia Mazzero e Luis Gustavo dos Santos, que estavam no evento, detalharam que houve falha na revista antes da apresentação. Além disso, contaram como foi a correria logo após os disparos e dizem não ter visto saídas de emergência, ou equipes socorrendo as vítimas.
“Não revistou. Só olhou e liberou. Minha amiga estava com uma bolsa e eles nem pediram pra abrir”, detalhou ela. Já o jovem diz que passou por uma verificação rápida. “Só apertaram o meu bolso. Eu estava com celular e chave nas mãos. Eles apertaram meu bolso e mandaram entrar”, afirmou ele.
Márcia e Luis Gustavo contam ainda que, quando ouviram os disparos, ninguém entendeu o que acontecia. Até que começou uma correria. A mulher também alega que viu as vítimas que foram atingidas caídas no chão e que os primeiros socorros foram feitos pelos próprios frequentadores do show e não por equipes.
“Não tinha saída de emergência. Haviam duas partes de saída. Aí todo mundo saiu correndo e a gente ficou no canto, porque foi onde a gente se sentiu mais seguro até melhorar a ‘muvuca’. Quem estava socorrendo as pessoas feridas era o público, porque não tinha preparo”, disse a testemunha à EPTV Campinas.
O QUE DIZ A EMPRESA
A Burn19 Produções, empresa organizadora do evento, emitiu um comunicado sobre o caso. “A organização do evento presta toda a solidariedade às vítimas deste terrível episódio, se colocando à disposição das autoridades, e ainda está aguardando apuração da Polícia Civil e Polícia Militar para poder se posicionar com mais informações do ocorrido”, disse em nota.
A empresa também informou que a festa contava com documentos legais e alvará para funcionamento, e que no local do evento também teve revista pessoal e seguranças particulares, além de atendimento ambulatorial.
“Vale ressaltar que a festa contava com todos os documentos legais e alvará para estar acontecendo. No local do evento, também teve revista pessoal e seguranças particulares, além de atendimento ambulatorial, assim como aconteceu na primeira edição do evento, que ocorreu no mês de março deste ano”, finaliza.
LEIA MAIS