As restrições nos atendimentos e vendas determinados pelo agravamento da pandemia de coronavírus refletem na possibilidade do fechamento definitivo de 83% dos bares e restaurantes da RMC (Região Metropolitana de Campinas). O número faz parte da pesquisa “Situação Econômica do Setor de Alimentação Fora do Lar”, divulgado pela Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), junto aos associados, na última sexta-feira, 2.
Segundo o levantamento, sete em cada dez bares e restaurantes da região estão sem pagar o Simples Nacional, e 83% fizeram uso dos benefícios da MP (Medida Provisória) 936 no ano passado – que continha redução de jornada e a suspensão temporária do contrato de trabalho.
Com o fim da MP, no início deste ano e o agravamento da situação pela segunda onda da pandemia, a maioria declarou que o negócio está em risco, ou com grandes chances de fechar, caso não haja um novo auxílio para o pagamento de salário e redução da jornada dos funcionários.
Desde o dia 6 de março toda a região de Campinas foi colocada na fase vermelha do Plano São Paulo de flexibilização da quarentena após os indicadores registrarem grande pressão no sistema de saúde. Já no dia 15 o Estado inteiro entrou na fase emergencial- ainda mais rígida. Com as regras em vigor, bares, restaurantes e comércios não puderam mais atender ao público presencialmente, funcionando apenas por delivery.
Quem sobreviveu passa agora pelo pior momento: mesmo com inovações e delivery, muitos acumularam dívidas, demissões de funcionários e ainda esperam novas medidas de apoio. “Quando há um retrocesso tão significativo, perde-se o fôlego. No começo da pandemia, as empresas ainda tinham uma gordura para queimar. Hoje acabou tudo”, diz Fernando Blower, diretor-executivo da ANR (Associação Nacional de Restaurantes).
Segundo ele, até houve uma retomada lenta e gradual até dezembro do ano passado. No entanto, com o avanço do coronavírus, muitos estados proibiram ou restringiram o atendimento de clientes no salão.
PERFIL
O recorte dos dados da RMC, na pesquisa realizada em todo o Estado de São Paulo no mês de fevereiro, trouxe um panorama do setor sobre o perfil: 66% são restaurantes e 20% são bares e lanchonetes, dos quais 86% são microempresas.
Em relação à perda de receitas, 66% dos estabelecimentos afirmaram que fecharam janeiro no vermelho. Quase 70% das empresas responderam que devem o Simples Nacional, e as dívidas com aluguel atingem mais da metade das empresas.
Ao todo, 53% dos empresários ainda afirmaram que têm medo de sair do Simples, ainda mais quando o alto endividamento agrava a situação, sendo que 63% das empresas tomaram empréstimos durante a crise no ano passado;
Das empresas que responderam a pesquisa, 63% fizeram empréstimos durante o ano passado. Para 77% deles, a carência para pagamento já venceu.
GASTOS
Outra questão levantada na pesquisa diz respeito ao aumento de custos para os estabelecimentos. Nada menos do que 66% deles têm a percepção de que os custos com mercadorias subiram mais de 20% em relação a antes da crise.
Para reduzir os prejuízos, 82% tiveram de aumentar os preços dos itens do cardápio, mas apenas 2% dos respondentes puderam aumentar preços acima de 20%
GRAVIDADE
Para o presidente da Abrasel de Campinas e região, Matheus Mason, os dados relevados pela pesquisa reforçam a gravidade das dificuldades enfrentadas pelos bares e restaurantes, especialmente da região, onde 25% das empresas do setor tiveram de encerrar suas atividades ao longo do ano passado, e cerca de 25 mil empregos foram eliminados pelo setor da RMC ao longo da pandemia.
Segundo Mason, os dados reforçam a necessidade de uma maior atenção por parte das autoridades, no sentido de concessões de auxílios para o setor. “Na esfera estadual, tivemos o recuo do aumento do ICMS e linha de crédito para bares e restaurantes. No âmbito municipal, estamos conversando com as prefeituras, para viabilizar um pacote de auxílio, sendo que algumas cidades já adiaram o pagamento de impostos, mas ainda é insuficiente, por isso estamos apresentando uma proposta unificada, prevendo desconto na água e outras taxas”, recorda.
Já no tocante ao governo federal, a ampliação da MP 936, segundo Mason, “é vital para as empresas de todos os setores”, mas o adiamento constante tem preocupado os empresários, sem caixa para pagar os salários.