Dados do Censo Demográfico de 2022, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostram que a região de Campinas concentra 343 moradores com 100 anos ou mais. O levantamento também aponta um predomínio feminino: sete em cada 10 centenários da região são mulheres.
Entre elas, está Jorgina Teixeira de Aguiar, moradora de Vinhedo. Aos 109 anos, ela construiu sua história com enxada nas mãos, panela no fogão, muito amor pela família — e um curioso companheiro de rotina: o cachimbo, que fuma desde os 10 anos.
Nascida em 13 de janeiro de 1916, em Teófilo Otoni (MG), Dona Jorgina passou grande parte da vida em Campo Mourão (PR), onde trabalhou na roça e criou os filhos praticamente sozinha após a morte precoce do marido. Mais tarde, mudou-se para o interior paulista para acompanhar os filhos, e desde então segue sob os cuidados da família, com saúde, lucidez e uma rotina bem estabelecida.
O núcleo familiar é extenso: mãe de 10 filhos — dos quais oito sobreviveram —, ela soma 22 netos e 21 bisnetos. Apesar das limitações naturais da idade, Dona Jorgina preserva parte da autonomia no dia a dia e mantém o gosto pelo convívio social.
Rotina estruturada e alimentação saudável

A rotina da centenária é marcada por hábitos simples, mas rigorosamente respeitados. Ela acorda às 4h da manhã com um café e o inseparável cachimbo. Às 7h, toma o café da manhã de verdade. Almoça às 10h, janta às 18h, e às 20h encerra o dia com um copo de leite antes de dormir. Ela destaca a alimentação como um dos fatores centrais de sua vitalidade.
“Eu durmo a noite inteira, levanto cedo, como bem, como verdura, feijão, arroz… Tudo isso me dá força. Gosto muito de doce, mas não posso comer”,
comenta.
Além da alimentação simples e nutritiva, a centenária gosta de ver o jornal, conversar com vizinhos e receber visitas.
“Eu fico alegre quando eles vêm, fico feliz que eles vêm dar risada comigo“
, diz.
Uma das filhas, Cleuza Vieira dos Santos, destaca os cuidados que ela e os irmãos têm com a mãe durante o dia a dia.
“Primeiramente, nós agradecemos a Deus que ela está assim nessa idade, andando um pouquinho, comendo sozinha, indo no banheiro, mas a gente cuida da mãe muito bem. Todo dia alguém está aqui na casa dela para fazer a comidinha dela, dar remédio e fazer companhia”,
afirma.
Cleuza foi a primeira da família a se mudar para Vinhedo, vindo com a mala na mão em busca de trabalho. Aos poucos, os irmãos vieram também — e, por fim, a mãe.
“Hoje a gente cuida dela com amor. Ela nos ensinou o que é carinho, o que é presença. Todo dia estamos com ela”,
declara.
A rotina de cuidados é tão natural quanto o feijão no fogo. Jorgina se movimenta com dificuldade, mas ainda come sozinha, vai ao banheiro sem ajuda e sorri com frequência. Nos fins de semana, ela visita a casa de uma das filhas, come com a família, e até dança — como na festa de 103 anos, quando rodopiou com o neto em uma chácara.
Qual o segredo da longevidade?
Esse gosto pelo contato humano não é só detalhe: é pilar. A geriatra Cinthia Medice, especialista em envelhecimento, explica que uma vida longa e saudável não se faz apenas com alimentação ou exames em dia, mas com interações sociais, vínculos afetivos e uma rotina ativa e equilibrada.
“Hoje, o que é mais importante na pessoa idosa para manter a saúde é você ter um todo. Um bom sono, boas relações pessoais, não se manter sedentário, ter uma boa alimentação. E isso tudo é a rede social que a gente consegue proporcionar. Isso pode vir da família, pode vir de amigos, pode vir dele mesmo. A saúde é um equilíbrio do corpo, da mente, da alimentação, do humor e do social”,
afirma a médica.
A especialista destaca que o envelhecimento populacional observado nas últimas décadas decorre, em grande parte, dos avanços da medicina, mas que a qualidade de vida na velhice depende de um conjunto de fatores.
“Nas últimas décadas, a gente tem visto um envelhecimento populacional. E isso se deve muito pelo avanço da medicina, pelo avanço do diagnóstico de doenças crônicas, no tratamento dessas doenças crônicas, e do acesso da população a esses tratamentos. Mas a geração que hoje chega aos 90 ou 100 anos cresceu em um contexto diferente. Tiveram alimentação mais natural, viveram com menos produtos industrializados e foram mais ativas fisicamente ao longo da vida”,
explica.
A médica reforça que o envelhecimento saudável exige cuidados específicos: alimentação rica em proteínas, prática de atividades físicas (ainda que adaptadas), sono de qualidade, controle de doenças crônicas, realização periódica de exames e vacinações anuais, e, principalmente, manutenção de vínculos afetivos e sociais.
“Convívio social, relações interpessoais e estímulo cognitivo são essenciais para preservar autonomia e bem-estar”,
afirma.
Além dos hábitos de vida, Dona Jorgina se destaca pela resiliência. Após sofrer um acidente vascular cerebral e contrair covid-19 em sequência, conseguiu se recuperar de ambos os episódios com apoio da família.
“Foi difícil, mas meus filhos me ajudaram em tudo. Me davam comida na boca”,
relembra.

O cachimbo como exceção — e não como regra
Apesar do histórico de hábitos saudáveis, um aspecto da rotina de Dona Jorgina chama atenção: o uso diário de cachimbo. Ela fuma desde a infância, e não abandonou o hábito nem após enfrentar um AVC e a covid-19, ambos em 2022, quando tinha 106 anos.
A geriatra pondera: “Sabemos que o uso de tabaco é prejudicial à saúde em qualquer forma, incluindo o cachimbo. A questão é que ela deve ter uma proteção genética. E como ela tem uma alimentação muito boa, bebe bastante água e tem uma vida muito ativa, isso faz com que sejam fatores protetores em relação ao malefício que o cachimbo poderia causar para o organismo dela. Mas que ela é uma exceção à regra, com certeza ela é”, pontua.
O conselho de quem viveu mais que um século
Perguntada sobre o que recomendaria para quem deseja chegar longe na vida, ela responde com a leveza de quem sabe o que diz:
“Eu durmo cedo, levanto cedo… como bem. E tudo pra mim é alegria, tudo.”
Hoje, com 109 anos, ela tem panela grande, pequena, média — tudo para fazer comida de vó gostosa, como diz — e uma casa onde não falta risada nem visita.

População centenária cresceu
O número de idosos com 100 anos ou mais no Brasil saltou de 22,7 mil, em 2010, para 37,8 mil em 2022, segundo o Censo 2022.
Ainda segundo a pesquisa, ao todo, são 343 centenários na região de Campinas. A metrópole que possui 1,1 milhão de habitantes é a segunda do estado de São Paulo em número de centenários, com 169 – 134 mulheres, e 35 homens.
Só fica atrás da capital, que de acordo com o Censo 2022 possui 1.761 moradores com 100 anos ou mais. A terceira com mais centenários no estado é Santos, com 107.
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