Em meio às confirmações de quatro mortes por febre maculosa e do surto da doença em Campinas, o médico veterinário do Dpbea (Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal) da cidade, Paulo Anselmo Nunes Felippe, descarta o abate de capivaras como solução para o problema e explica que o órgão planeja esterilizar os animais nos próximos meses. Os mamíferos são hospedeiros dos carrapatos transmissores da infecção (leia mais abaixo).
“Mesmo que fosse possível retirar todas as capivaras do planeta, a gente correria o risco de ter ainda febre maculosa, porque existem algumas espécies de carrapatos em que o cão faz esse papel. Então a doença tá muito mais relacionada com o carrapato do que com a capivara. Toda vez que as capivaras foram retiradas de locais, as regiões foram recolonizadas”, afirma Nunes, detalhando também que a espécie tem grande capacidade reprodutiva.
Preocupado com o que chama de “estigma” contra os animais por conta da febre maculosa, o médico veterinário lembra que o mamífero é protegido por lei e não deve ser alvo de perseguição ou violência por parte da população. “Na verdade, os reservatórios da febre maculosa são os próprios carrapatos. Uma vez que o carrapato está contaminado, vai transmitir para os filhotes, e isso vai manter a febre maculosa dos carrapatos no ambiente”, complementa o especialista.
A RELAÇÃO COM A DOENÇA
As capivaras são consideradas o maior roedor do mundo e pesam até 90 quilos e o representante do Dpbea reconhece que a presença delas em alguns espaços faça com que existam muitos carrapatos. Por outro lado, reafirma que qualquer mamífero pode fazer o papel de “hospedeiro amplificador” da febre maculosa. Além disso, lembra que não é possível uma capivara infectar um ser humano.
“O carrapato infectado se alimenta da capivara, transmite o agente e esse agente vai ficar por uns 15 dias na capivara. Depois, essa capivara nunca mais vai ter a circulação desse agente, mas o carrapato vai permanecer infectado”, diz.
E O QUE VAI SER FEITO?
Questionado sobre o que o departamento planeja fazer durante a entrevista coletiva na qual a Prefeitura de Campinas confirmou que monitora dois eventos como focos da transmissão da febre maculosa, Paulo Anselmo Nunes Felippe voltou a informar que planeja esterilizar os animais do município. A intenção já havia sido informada ao acidade on Campinas em maio (leia mais a seguir).
“Alguns manejos a gente tem estudado em Campinas, para vasectomizar machos, fazer a laqueadura das fêmeas. Então, temos estudos e perspectiva de fazer esses manejos. Acredita-se que a presença de capivaras é por conta da extinção da onça-pintada”, revelou o responsável pelo departamento.
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CONTAGEM DE CAPIVARAS
Segundo uma estimativa divulgada há cerca de um mês e meio pelo Dpbea, cinco parques de Campinas concentram o maior número de capivaras. São eles:
- Parque Ecológico Prof. Hermógenes de Freitas Leitão, na Cidade Universitária
- Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim, na Vila Brandina
- Lago do Café, no Taquaral
- Lagoa do Taquaral
- Parque das Águas
“Temos uma média de 30 animais por parque de Campinas. Temos seis parques que têm grande quantidade de capivaras, então devemos ter uns 180 animais distribuídos nos parques. Todos eles têm população de capivara”, disse Nunes.
POR QUE A CASTRAÇÃO?
O médico veterinário explica que o processo de apuração da quantidade de capivaras atrasou por causa dos fechamentos dos parques no final de janeiro. Segundo Paulo, embora as capivaras não sejam consideradas um problema, elas podem se tornar um, caso a população cresça. Como a espécie só consegue infectar carrapatos uma vez, o intuito de evitar filhotes.
“A gente quer manter os animais, mas conseguir diminuir as ocorrências de febre maculosa dos parques. Nossa ideia é não deixar entrar novos animais no grupo e nem filhotes, porque em novos animais e filhotes a bactéria vai circular por 15 dias e vai infectar novos carrapatos, e os animais que estão lá já não infectam novos carrapatos. Queremos manter esses. Nosso objetivo não é desaparecer com as capivaras, é manter evitando que tenham filhotes e entrada de novos animais”, alegou.
E QUANDO VAI COMEÇAR?
Segundo o veterinário, a castração deve iniciar após equipes terminarem a contagem e conseguir as licenças para iniciar o procedimento. “Essa ideia (de castração) está sendo assumida pelo Estado. Terminamos esse estudo, vimos que é viável, e vamos implantar nos parques. Só que é um processo, tem que fazer levantamento dos animais, que estamos refazendo depois das aberturas dos parques, tem que pedir licenças nos órgãos gestores, e depois viabilizar o processo de fazer cirurgias nesses animais”, explicou.
Apesar dos processos, o intuito é iniciar as castrações ainda neste ano. “Esse é um objetivo a médio prazo, a nossa estimativa é começar a fazer a cirurgia nos animais ainda neste ano, e começar o processo de controle de carrapatos também ainda neste ano”, afirmou.
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