Ao entrar na Maternidade Alana Babys, o visitante não encontra prateleiras com brinquedos comuns. No lugar de carrinhos e bonecas tradicionais, o que se vê é uma espécie de “maternidade” em miniatura: recém-nascidos feitos de silicone sólido, com veias aparentes, unhas pintadas à mão e cabelos implantados fio a fio. Alguns mamam, fazem xixi e chegam a custar até R$ 9,5 mil. Especializada em bonecas reborn hiper-realistas — réplicas de bebês com aparência, peso e textura semelhantes aos de um recém-nascido verdadeiro -, a loja existe há quase 20 anos.

Para quem busca algo mais acessível, há opções em vinil a partir de R$ 750. Apesar da diferença de preço, todas impressionam pelos detalhes minuciosos: peso ajustado, pintura delicada, traços suaves e até dobrinhas realistas no corpo. Nas versões mais sofisticadas, a semelhança com um bebê real é tão fiel que chega a provocar hesitação em quem pega uma reborn no colo — tamanha a sensação de fragilidade e cuidado exigido no toque.
“O que mais chama atenção são os modelos hiper-realistas, mas também são os que menos vendem por causa do valor alto. O que mais sai são os bebês mais simples, a partir de R$ 750, que são presentes para crianças”,
explica Daniela Nascimento Baccan, sócia da Maternidade Alana Babys.


Ao contrário do que muita gente acha, a clientela principal continua sendo infantil — meninas, geralmente a partir de sete anos — cujas famílias planejam a compra com meses de antecedência. Os pais chegam com o presente já idealizado, muitas vezes como ponto alto de uma comemoração aguardada.
“Não é uma compra por impulso. São datas especiais, aniversário, Dia das Crianças, Natal, geralmente é um presente dessas crianças que planejam por muito tempo. Muitas vezes a criança vem no dia do aniversário. A família vem, porque não é um presente barato, é uma boneca mais cara, né? Então planeja e aí faz toda a experiência com a criança”.

Um enxoval completo… para a boneca
Mais do que vender as reborn, a loja oferece toda uma experiência: o bebê vai para casa com um kit de maternidade composto por certidão de nascimento, certificado de autenticidade, chupeta, babador, fralda de boca, mamadeira, escova e pente. O enxoval é verdadeiro — tudo feito com roupas de bebê humano.

Além disso, a loja também oferece saídas de maternidade, sapatinhos, chupetas e até laços, tiaras e outros acessórios para bebês, ampliando ainda mais o leque de vendas. “Inclusive, muitas gestantes vêm na loja para comprar as roupas que são as mesmas”.


Bonecas reborn que ajudam no tratamento de doenças
Se para muitas crianças o reborn é o brinquedo dos sonhos, para algumas instituições de saúde ele se tornou ferramenta essencial de treinamento. A semelhança com o corpo humano tornou essas bonecas aliadas em situações delicadas de cuidado com bebês reais.
“Vendemos para hospitais e ONGs, inclusive para ensinar mães a cuidar de bebês com epidermólise bolhosa, uma doença de pele rara e grave. Fizemos três bonecas com as feridas para uma ONG, inclusive, para que as mães aprendam a dar banho, como colocar o curativo, como passar as pomadas, como fazer todos esses cuidados”,
revela Daniela.
A loja também fornece bonecos para cursos e capacitações hospitalares, principalmente os modelos de silicone sólido, mais macios e com peso semelhante ao de um bebê real.

Adultas, idosas e colecionadoras de bonecas reborn
Apesar de as crianças serem maioria, o público adulto também tem presença. E não se trata apenas de colecionadoras: há histórias emocionantes por trás de muitas compras. Os reborns acabam se tornando, em alguns casos, uma forma de afeto, memória e superação emocional.
“Temos uma cliente de 82 anos que tem 32 bonecas nossas, quase todas de silicone sólido. Ela passou por um luto difícil após perder o marido e por uma depressão. Os filhos começaram a presenteá-la com reborns. Hoje, as bonecas são uma companhia para ela. É uma mulher super lúcida, que encontrou ali uma forma de carinho.”

Segundo Daniela, o envolvimento afetivo com as peças é real — mas não deve ser confundido com os vídeos virais sensacionalistas que circulam nas redes.
“Tem muita coisa falsa sendo divulgada. As pessoas falam muito, mas muitas histórias não são reais, histórias de pessoas que estão levando bonecas ao médico, de briga judicial, muitos desses vídeos são gravados e compartilhados por mulheres que fazem bonecas, e encontram nesse tipo de conteúdo uma forma de chamar atenção do público e vender o produto”.

Daniela ressalta que a imagem promovida por muitos conteúdos na internet não corresponde à realidade da loja em Campinas. Embora existam, sim, histórias que ultrapassam o universo infantil ou o interesse de colecionadores, elas são exceções.
“Aqui a maior parte, 95%, é para criança mesmo. Algumas histórias até vão além, mas são mais raras. Uma vez, há muitos anos, vendemos para um casal que queria muito um filho, eles vieram até a loja, se identificaram com uma boneca que parecia com eles, levaram e eles realmente andavam com a boneca mesmo. Depois, ela acabou engravidando e eu acho que substituiu todo esse desejo dela. Mas é uma parcela muito pequena”,
ressalta.
Popularidade, preconceito e fake news
Com o aumento da exposição, a loja também precisou lidar com visitantes mal-intencionados, muitas vezes impulsionados por conteúdos falsos, que despertam polêmicas, preconceito e desinformação. “Depois do boom em abril, muita gente passou a vir aqui só para criticar”, conta Daniela. A equipe foi orientada a explicar o valor artístico das peças e a reforçar o foco infantil da proposta.

Sonho em 12 vezes
Também se engana quem pensa que o público que compra os bebês reborn é composto por pessoas com alto poder aquisitivo. De acordo com Daniela, a maioria das vendas é resultado de muito planejamento, desejo e pagamento parcelado.
“A maioria das compras é parcelada em 12 vezes. Não é aquela pessoa que tem uma condição financeira muito boa, é aquela pessoa que tem uma criança que tem um desejo muito grande, então ele vai e realiza. E muitas vezes, a criança não tem uma boneca só, é uma por ano, compra uma, termina de pagar, vem e compra outra, então a gente tem um público muito grande. No Dia das Crianças chega a fazer a fila na porta da loja e Natal também”,
explica.

Entre bonecas que fazem xixi, vestem roupinhas reais e ajudam a treinar curativos hospitalares, a loja especializada em bebês reborn sobrevive há quase duas décadas com uma proposta ousada — e, para muitos, incompreendida. Mas quem entra lá pela primeira vez costuma sair impactado.
“A gente sempre brinca até com os clientes, a gente não vende boneca, a gente vende sonhos”.
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