A Câmara de Campinas aprovou por 19 votos a sete nesta quarta-feira (17) a instauração de uma CP (Comissão Processante) contra o vereador Nelson Hossri (PSD). A votação teve ainda cinco abstenções e duas ausências (veja abaixo).
A comissão terá agora prazo de cinco dias para apresentar a denúncia formal ao acusado. Já o vereador tem 10 dias para apresentar a sua defesa, a contar do recebimento da denúncia. A CP pode culminar na cassação do parlamentar.
O pedido aprovado defende que Hossri “expôs a Casa, não atuou com sobriedade” e “cometeu tentativa de agressão e ameaças” durante a sessão do dia 8 de novembro, quando Paolla Miguel (PT) foi alvo de injúria racial.
De acordo com o texto, o vereador “convocou grupos de apoiadores” que realizaram um ato antivacina na Câmara e incitou os manifestantes a ofenderem os colegas. Em um dos ataques, uma mulher xingou Paolla de “preta lixo”.
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O documento se baseia ainda no artigo 6º do Código de Ética do Legislativo de Campinas, defende que houve postura “incompatível com o decoro parlamentar” e lembra que Hossri chegou a tirar a máscara durante discurso.
A solicitação foi assinada por três eleitores ligados a movimentos sociais e partidos de esquerda e cita ainda ameaças de agressão física contra o vereador Gustavo Petta (PCdoB) e de agressão verbal contra dois assessores da Casa.
O primeiro desentendimento aconteceu quando Petta desceu da tribuna, questionou a postura de Hossri. Neste momento, segundo o pedido de CP, ele foi “agredido verbalmente, ameaçado e empurrado” pelo vereador do PSD.
A confusão entre os dois foi registrada em vídeo durante a transmissão ao vivo da sessão. “Uma agressão física maior só não aconteceu porque Hossri foi contido”, alega o texto, que cita outros parlamentares que estavam próximos.
A outra ameaça aconteceu em um espaço interno da Câmara durante a suspensão da sessão por conta da confusão e do tumulto no plenário e nas galerias. Neste caso, Hossri teria ameaçado de agressão dois assessores de Petta.
COMPOSIÇÃO
Após a aprovação da abertura, foi definida a composição da CP. Os nomes de Paolla Miguel e Paulo Haddad (Cidadania) foram os primeiros sorteados.
Edson Ribeiro (PSL) e Rodrigo da Farmadic (DEM) abriram mão ao serem citados. Com isso, Paulo Gaspar (Novo) foi sorteado e aceitou compor a CP.
Após uma reunião, os três membros definiram Haddad seria o presidente e Paolla seria a relatora. Gaspar ficou como integrante da comissão.
O QUE DIZ O HOSSRI
Questionado sobre como recebeu a abertura da Comissão Processante que pode culminar na sua cassação, Nelson Hossri disse ver a situação com “muita tranquilidade” e afirma ter “uma oportunidade para mostrar os fatos”.
“A esquerda vai tremer e eu sou pautado pela direita. Não adianta se vitimizar. Vou aproveitar a oportunidade para dizer a verdade”, afirma. Ele também nega ter convocado, convidado, ou insuflado qualquer grupo ou manifestante.
Ainda segundo Hossri, o ato no plenário no dia 8 foi favorável e um projeto de lei apresentado por ele. “Sobre o passaporte da vacina, foi uma pauta da direita. Só que eles vieram em número um pouco maior. A democracia é isso”, defende.
Sobre a acusação de ter sido responsável pelas ofensas e, consequentemente, pela injúria racial cometida contra Paolla Miguel, entende que o crime investigado pela Polícia Civil se baseia em uma “artimanha da esquerda”.
“Pegaram uma suposta palavra racista e colocaram como crime. Em um ambiente com barulho, é fácil confundir ‘Petta lixo’ com ‘preta lixo’. Petta tinha acabado de provocar o público enquanto a Paolla falava na tribuna”, argumenta.