A carta com “caráter depressivo” do adolescente de 17 que atirou bombas caseiras em uma escola de Monte Mor nesta semana indica que ele tem a forma grave da doença, avaliou o médico e professor de psiquiatria forense, Eduardo Teixeira. No documento, o jovem dizia que se sentia “abandonado e sozinho” e comentava sobre um “vazio de sentimentos”.
O caso movimentou a cidade da região de Campinas na última segunda-feira (13) e o adolescente foi apreendido logo após o ataque. Ele estudou na Escola Estadual Professor Antônio Stroesser até o 5º ano do ensino fundamental, mas “pouco frequentava” às aulas. Segundo a secretária municipal de Educação de Monte Mor, Sandra Buzon, também não há informações de que ele tenha sido vítima de bullying – algo alegado pela família.
No dia, o adolescente usava roupas pretas e uma suástica nazista. Além disso, carregava uma machadinha e usava uma máscara, boné e luvas. Minutos depois, uma arma que ele usava também foi encontrada na região.
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“Ele não relutou, não ofereceu risco e não forneceu nenhuma informação”, detalhou o responsável pela ação, o GCM Denival Santana. Além disso, cinco garrafas plásticas que seriam usadas como explosivos e coquetéis molotov foram apreendidas em frente ao prédio. Depois da apreensão, os guardas foram até a casa onde ele vivia. No local, apreenderam a carta, uma réplica de fuzil e a autobiografia de Hitler.
DEPRESSÃO GRAVE
Para o especialista em psiquiatria forense Eduardo Teixeira, o teor do documento representa um quadro grave de depressão – veja sinais da doença abaixo.
“Primeiro, a adolescência já é uma fase de muita vulnerabilidade, mudanças de comportamento, experiência emocionais diferentes e o que a gente percebe neste caso, que é um aspecto importante, é uma mudança de comportamento, mudança de relacionamento e de interação, que esse menino parece que já manifestava isso, mas, de alguma forma, os pais acabaram não resolvendo a situação, ou por não conseguirem lidar, por terem tentado e não tiveram resposta. Esse menino, a princípio, tem um quadro depressivo grave”, explica
O médico explicou também mais sobre o quadro de depressão grave:
“A (depressão) grave é quando a pessoa já tenta suicídio, pensa em morte ou já está em uma situação depressiva muito grave. O último nível, que é quando aparecem os sintomas psicóticos, é quando o indivíduo perde a conexão com a realidade. Pode observar, às vezes, alucinações, vozes na mente mandando ele fazer as coisas, ou delírios”, explica Teixeira.
Para o doutor, um indicativo desta depressão está presente na carta. “Ele comenta na carta que não sente mais nada no mundo, que ele tem um vazio de sentimentos. Eu acho que isso é um item importante para a gente pensar na gravidade do caso”. Segundo o especialista, a OMS (Organização Mundial de Saúde) reconhece quatro níveis de depressão, sendo:
- leve
- moderada
- grave
- grave com sintomas psicóticos
PEDIDO DE SOCORRO
O professor de psiquiatria ainda afirma que a forma como o ataque foi feito pode implicar um pedido de socorro ou uma medida extrema de quem já não tem mais esperanças de sair de uma situação complicada.
“A impressão que dá é que ele estava em um quadro tão grave, de depressão ou de outra doença mental, que ele não via mais nenhuma expectativa de melhora ou de ajuda. Tem alguns textos em que ele fala que não tinha mais sentido em estar vivo. Então, às vezes, é uma medida extrema de autoextermínio mesmo”, revela.
Veja sinais que podem identificar casos de depressão:
- mudança de comportamento
- isolamento
- mudança na manifestação das emoções
- apatia
- descuido com a higiene
- tendência a usar roupas que escondem a pessoa, com tonalidade mais escura
- falta de cuidados pessoais
- tom de voz lacônico
- conversas monossilábicas e com conteúdo negativo
- perda da capacidade de externar sentimentos
COMO CONSEGUIR AJUDA
Segundo o especialista, os centros de saúde oferecem um primeiro atendimento mental, que é o psicólogo. Ele fará uma triagem para verificar se é necessário fazer o uso de medicação ou se é caso de um acompanhamento psicológico.
Em Campinas, o CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) também fazem o encaminhamento e o primeiro acolhimento para entender o que realmente está acontecendo. Na sequência, orientam os próximos passos a serem tomados.
“Primeiro, tentar entender e tentar uma aproximação porque, às vezes, pode ser um problema que o jovem está passando e a família ainda não teve conhecimento. Percebeu que a situação está ficando grave? Procurar ajuda profissional”, finaliza o psiquiatra.
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