Após a polêmica das casas embriões de 15 m², em Campinas, destinadas aos moradores do loteamento residencial Nelson Mandela, a Prefeitura anunciou três opções de ampliação dos imóveis durante uma coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (6). As residências poderão ser ampliadas em até 54 m² por valores até R$ 65 mil.
A área do loteamento de 23 mil metros quadrados vai assentar 116 famílias que hoje vivem de forma precária em uma ocupação, um terreno particular que deverão deixar por medida judicial de reintegração de posse. Na ocasião, não houve lançamento de programa habitacional e foram investidos cerca de R$ 6 milhões.
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O assunto chegou a ser repercutido pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que afirmou que o prefeito Dário Saadi (Republicanos) não é um “cara humano” por aprovar as construções com este tamanho – leia mais abaixo.
Agora, serão oferecidas às famílias três opções de ampliação que variam de R$ 24.701,60 a R$ 65.973,00, financiados em 300 meses pelo Fundap (Fundo de Apoio à População de Sub-Habitação Urbana).
Confira as opções:
- Na primeira opção, os embriões poderão ser ampliados em 17 m². Com a construção de um quarto, a área total da habitação será de 33 m². O custo, com mão de obra e material, será entre R$ 24.701,60 sem acabamento, e de R$ 27.591,60 com acabamento.
- Na segunda opção, o embrião ganha mais 29,15 m² e a família passa a contar com uma habitação de 45 m². Neste caso, o valor total da obra ficará entre R$ 41.965,70 e R$ 45.970,70, também dependendo do acabamento escolhido.
- Na terceira opção, será feira uma ampliação de 38,85 m², com a construção de dois quartos e um banheiro. O custo dessa planta também varia de acordo com as opções de acabamento, entre R$ 60.945,50 e R$ 65.973,00. A área total ficará em 54,70 m².
Em todos os casos, o financiamento será em até 300 parcelas, com valor mínimo de R$ 132 por mês. A Justiça já foi comunicada e aceitou as propostas de ampliação. De acordo com a coordenadora da ocupação Nelson Mandela, Tamires Gomes, as propostas ainda serão levadas aos moradores. Contudo, o anúncio da ampliação já é uma vitória.
“O movimento está muito feliz. É uma vitória de uma luta de sete anos. Uma conquista das famílias. Caminhamos para uma moradia digna. É justamente este caminho que a gente continua a trilhar”, afirmou Tamires Gomes.
CONSTRUÇÃO E MUDANÇA
O residencial está sendo construído em etapas. A primeira foi a implantação dos terrenos de 90 m² com água, rede de esgoto e luz. Na segunda, o loteamento recebeu iluminação pública, pavimentação e drenagem. A construção dos embriões marcou a terceira etapa e agora, com a ampliação, o residencial chega à quarta fase.
“Com esta ampliação, a Prefeitura encerra o processo do Loteamento Mandela. Estamos cumprindo o que a Administração propôs desde o começo, em etapas, para poder dar a melhor solução para os moradores, em comum acordo com a Justiça”, disse o prefeito Dário Saadi.
A transferência das 116 famílias começa nos próximos dias e a previsão é de que termine em até 60 dias. A ampliação será feita com as pessoas morando nos embriões devido à necessidade de cumprimento da ordem judicial.
CRÍTICA DO PRESIDENTE
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva repercutiu a polêmica das casas construídas com 15 m² em Campinas durante um evento realizado em Belém no dia 17 de junho. Na ocasião, o presidente disse que prefeito Dário Saadi (Republicanos) não é um “cara humano” por aprovar as construções com este tamanho.
“Ontem eu vi na televisão. A cidade de Campinas, que é uma das cidades mais ricas desse país, a cidade de Carlos Gomes, uma cidade que é famosa pela quantidade de universidades, uma cidade que é famosa pela Unicamp. O prefeito daquela cidade está construindo casas de 15 m² para que as pessoas pobres fiquem lá com 7 pessoas. Imagina, 15m² para uma família. Ou seja, significa que esse prefeito não entende de pobre. Significa que esse prefeito não é um cara humano. Significa que esse prefeito acha que pobre tem que ser tratado como se fosse uma pessoa qualquer”, disse o presidente.
POSIÇÃO DE CAMPINAS
O prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), respondeu aos ataques em um vídeo publicado na tarde de domingo, dia 18 de junho, nas redes sociais. Na postagem, Dario indicou surpresa ao tomar conhecimento das críticas e alegou que o presidente não conhece a luta dos moradores da ocupação.
“Acordei hoje recebendo algumas mensagens de amigos. Que o presidente Lula falou um monte de bobagens e mentiras a meu respeito (…) Presidente, se o senhor conhecesse minimamente a luta dos moradores do Mandela não teria falado o que falou. Em primeiro lugar, lá não é um programa habitacional da Prefeitura de Campinas, lá é uma ação conjunta da Prefeitura com a Justiça, que atendendo a esses moradores, que estavam com ordem de reintegração de posse, de despejo, fez um loteamento urbanizado, com infraestrutura, asfalto, água e energia elétrica, e atendendo a reinvindicação dos moradores construiu esse embrião, que é uma unidade pequena preparada para ampliação”, disse.
Dário ainda pediu para que Lula deixasse de “politicagem” e de mentir, e convidou o presidente para “trabalhar em conjunto”.
“Lula, humano seria não atender as reivindicações dessas famílias e deixá-las lá com ameaça de despejo a qualquer momento? Humano é não mentir, é falar a verdade. Deixa de politicagem, de fazer discurso ofendendo a luta das famílias do Mandela e vamos trabalhar em conjunto para levar habitação popular para quem precisa”, finalizou.
REPERCUSSÃO NAS MÍDIAS
Nas redes sociais, a Ocupação Mandela se manifestou, disse que lamenta a forma como o assunto vem repercutindo nos últimos dias e acrescentou que as casas foram uma conquista.
“Juiz deu prazo de 4 meses para sair. Prefeitura apresentou planta de 45m2 a 60m2. Aceitamos isso e lutamos para seu financiamento. Para construir 116 casas, em 4 meses, a Prefeitura apresentou que faria um embrião de 15m2, com janela, banheiro e base para a continuidade da obra da casa completa. Isso não é vitória?”, diz trecho da publicação.
ENTENDA A POLÊMICA
Previsto para ser entregue em até dois meses, o Residencial Mandela, em Campinas, motivou nos últimos dias reações distintas entre especialistas e os futuros moradores e fez até o prefeito, Dário Saadi (Republicanos), se pronunciar através das redes sociais. No centro de debate na internet, está o tamanho das moradias, erguidas com 15 m² em áreas de 90 m².
Para muitos internautas, os chamados “embriões” do empreendimento, que fica no DIC 5, no distrito do Ouro Verde, não seriam dignos por terem somente um banheiro e um cômodo. As críticas encontraram reforço nas opiniões de especialistas e de uma vereadora do município, que acreditam que as construções feririam recomendações da ONU (Organização das Nações Unidas).
“Tomaremos as medidas cabíveis para investigar a situação e, se necessário, acionaremos os órgãos competentes”, diz a vereadora Paolla Miguel (PT) em um texto no qual define as moradias como “sub-humanas”.
MORADORES APROVARAM
A situação vai de encontro ao desejo dos moradores. Em entrevista ao acidade on Campinas em maio, a integrante da Ocupação Nelson Mandela desde 2016, quando 600 famílias ocuparam uma área privada de cerca de 300 mil m², Célia Maria dos Santos, também definiu o projeto como uma “vitória” do movimento.
“A parcela desses ‘embriões’ ficou junto com a do lote. Isso não ficou difícil pra nenhuma das famílias. Ficou um preço acessível. Toda a ‘Família Mandela’ foi contemplada com a solução. Temos que agradecer ao Poder Público e ao juiz responsável, porque vivíamos com o medo de passar por mais uma reintegração. E essa solução veio e vai ser feito o remanejamento das famílias”, comentou ela.
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