A clínica clandestina que foi interditada ontem (29) em Nova Odessa, por manter os pacientes trancados e em situações precárias, cobrava até R$ 2 mil mensais dos familiares das vítimas, pela internação no espaço, que funcionava no bairro Chácara Central, área rural da cidade. Duas pessoas responsáveis pelo local foram presas em flagrante.
Segundo a polícia, 23 pacientes eram mantidos trancados em um alojamento que ficava nos fundos do terreno. Imagens mostram as condições precárias do local onde viviam idosos, deficientes e alguns cadeirantes. De acordo com os investigadores, as famílias eram enganadas e não sabiam em quais condições os internos eram submetidos.
Agentes flagraram sujeira espalhada pelos cômodos, banheiros sujos e falta de comida. Uma única jarra suja de água era disponibilizada para os pacientes. Apesar de anunciar, a clínica não tinha acompanhamento de profissionais especializados para tratamento contra o vício de álcool e drogas.
Durante a vistoria, equipes também identificaram que a instalação de energia elétrica era irregular. Segundo técnicos da CPFL, a energia foi desviada de uma escola que fica ao lado da clínica. Peritos da Polícia Científica estiveram no local, assim como a Assistência Social de Nova Odessa.
Segundo a polícia, havia fezes pelo chão, forte odor de urina e muita sujeira, com pessoas acamadas sem acompanhamento e monitoramento, No local havia pessoas cadeirantes, amputados e pessoas com traumatismo encefáfico. Todos estavam trancados.
A fiscal sanitária Patrícia Pântano, que acompanhou a fiscalização, relata a situação precária que os pacientes eram submetidos.
“A situação era bem triste, o alojamento estava em situação precária, os colchões não tinham forro, não tinham lençóis. Não tinha assistência de enfermagem para os pacientes que precisavam de ajuda, eles relataram que eles mesmo se ajudavam na hora do banho, na hora de ir no banheiro, na hora da alimentação, alguns não conseguem se alimentar sozinhos. Era uma situação bem degradante. Não havia medicação nenhum no local, alguns pacientes possuíam problemas psiquiátricos, não tinha histórico médico deles no local e eles estavam bem desorientados. Dois deles não lembravam nem do próprio nome”, contou.
Após o flagrante e interdição no local nesta quarta-feira, a maioria dos pacientes foi encaminhada para casa dos familiares que assinaram um termo de responsabilidade. Os internos que estavam em situação mais crítica de saúde foram hospitalizados. Cinco foram encaminhados para o hospital municipal de Nova Odessa. Ainda segundo a polícia, os outros pacientes sem condições de encaminhamento para a família foram para abrigos da Prefeitura.
CASO RECORRENTE
Segundo a polícia, o caso vinha sendo acompanhado pelo Ministério Público e a clínica estava interditada desde o começo do mês passado, quando denúncias motivaram uma força tarefa no local.
Na ocasião, um boletim de ocorrência foi registrado na delegacia de Nova Odessa. Familiares das vítimas e um dos representantes da associação também já tinham prestado depoimento.
As investigações avançaram inclusive com relatórios que apontaram a contaminação do poço artesiano da clínica.
Após a interdição, foram encaminhados pra delegacia o dono e o gerente da clínica, que vão responder por sequestro e cárcere privado, maus tratos e furto. No final da noite os dois foram encaminhados para a cadeia de Sumaré. Eles vão passar por audiência de custódia nesta quinta.
O QUE DIZ A PREFEITURA
Segundo a Prefeitura de Nova Odessa, a nova interdição aconteceu após uma força-tarefa formada por equipes da Vigilância Sanitária, Saúde, Promoção Social e GCM de Nova Odessa com a Polícia Civil. O local funcionava de forma irregular na cidade.
“Trata-se de uma nova ação na mesma clínica de reabilitação que funciona de forma irregular no Parque dos Pinheiros e que já havia sido interditada pela Vigilância Sanitária do Município no último dia 09/02/2023, por uma série de irregularidades e inadequações, quando havia cerca de 60 internos no local.O caso é acompanhado desde o início das reclamações e denúncias tanto pela ViSa quanto pela Promoção Social do Município, a pedido do MP-SP”, informou a Administração.
Ainda segundo a Prefeitura, a Vigilância recebeu na terça-feira (28) uma nova denúncia, de que o estabelecimento irregular estava funcionando e mantinha internos contra sua vontade, e assim acionou a Polícia Civil.
“Ao chegar ao local, as equipes confirmaram as denúncias, deixando claro que os responsáveis desobedeceram a ordem de interdição e encerramento imediato das atividades de fevereiro. Aas irregularidades continuavam iguais, segundo a ViSa, incluindo as condições insalubres do imóvel, falta de água potável e de alimentação adequada. Os internos estavam trancados com cadeado”, informou.
O órgão emitiu novo auto de infração e lacrou novamente o estabelecimento.
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