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CampinasCotidianoComo conflito entre Israel e Irã pode encarecer combustíveis e gerar 'efeito cascata'?

Como conflito entre Israel e Irã pode encarecer combustíveis e gerar ‘efeito cascata’?

Escalada do dos combates pode provocar disparada do preço do petróleo, mas impactos vão além disso

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O agravamento do conflito entre Israel e Irã tem dominado o noticiário internacional e acendido alertas em todo o mundo — tanto pelos riscos humanitários quanto pelos possíveis reflexos na economia global. Embora o embate ocorra a milhares de quilômetros do Brasil, os efeitos já começam a serem sentidos por aquientenda mais detalhes abaixo.

A escalada de tensão começou no dia 13 de junho, quando Israel lançou mísseis contra dezenas de alvos militares e nucleares no Irã. Horas depois, o Irã respondeu com uma série de ataques utilizando drones e mísseis contra alvos militares e civis em território israelense. A maior parte das ofensivas foi interceptada, mas algumas causaram danos em residências, hospitais e até uma universidade.

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O conflito se intensificou com a entrada dos Estados Unidos, que bombardearam três instalações nucleares no Irã. O envolvimento de novas nações no embate é uma possibilidade concreta, o que amplia os temores por consequências ainda mais graves.

Antagonismo histórico entre Irã e Israel

Segundo o analista político Stephan Reichenberger, a origem do antagonismo entre Irã e Israel está diretamente ligada à Revolução Islâmica de 1979, que mudou a orientação política do Irã e o afastou dos Estados Unidos. O país se tornou um grande opositor de Israel e da influência ocidental na região.

Reichenberger recorda que, mesmo durante a Guerra do Iraque, havia atritos indiretos envolvendo o Irã.

“Lembro-me quando trabalhava no Congresso Americano como analista de Relações Exteriores para o deputado republicano Christopher Shays: mesmo nos dias após a invasão do Iraque, era comum o furto de materiais militares pelos iranianos”,

conta.

Segundo ele, parte desses suprimentos era enviada por via aérea e, muitas vezes, ia parar em território iraniano.

“Mal consigo contar nos dedos quantas caixas cheias de munições, armas e outras tecnologias militares americanas foram ‘empurradas’ pelo vento ao Irã ao serem deixadas via paraquedas para o destino original, a base americana de Badrah”.

Além das disputas ideológicas e políticas, a crescente capacidade nuclear do Irã acendeu novos alertas na comunidade internacional. O país já havia desenvolvido tecnologia com apoio dos Estados Unidos antes da revolução, mas os avanços recentes têm gerado preocupação.

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A possibilidade de uma corrida armamentista regional também é motivo de preocupação. “A Arábia Saudita já alertou que, se o Irã conseguir uma bomba atômica, também buscará desenvolver a sua”, lembra. O cientista político cita falas anteriores do rei Mohammed Bin Salman: “‘Não queremos que o novo Hitler repita o que ocorreu na Europa, mas dessa vez no Oriente Médio’”.

Reações globais e o risco de inflação

Com a entrada dos Estados Unidos na chamada “Operação Martelo de Meia-Noite”, aumentam os temores sobre o alastramento do conflito e suas repercussões nas alianças internacionais.

Reichenberger destaca que os países do G7, especialmente sob a liderança do presidente francês Emmanuel Macron, tentam mediar o conflito com o objetivo de evitar uma escalada nuclear: “Eles tentam apaziguar e minimizar a relevância do bombardeio estadunidense nas infraestruturas atômicas que ocorreram dois dias atrás”.

Esses esforços, segundo ele, seguem a lógica de promover negociações multilaterais: “Esses esforços seguem uma frente focada em trazer todos os envolvidos para a mesa de negociação para encontrarem uma saída pacífica ao conflito, mesmo depois do ocorrido”.

Por outro lado, a Turquia também tenta desempenhar papel de mediadora e propôs sediar conversas de paz em Istambul. O presidente turco chegou a afirmar que tem “toda a certeza de que o Irã irá seguir outro caminho que não seja a guerra”.

Apesar disso, a ausência de um posicionamento mais firme da Turquia contra os ataques dos EUA incomodou o governo iraniano.

“Já podemos ver uma certa amargura do Governo Islâmico do Irã com a falta de repúdio por parte da Turquia aos ataques americanos”,

explica Reichenberger.

Estreito de Ormuz e o petróleo

O Congresso Iraniano aprovou nesta segunda-feira (23) o fechamento do Estreito de Ormuz, rota por onde passa uma parcela significativa do petróleo exportado pela região. O estreito separa o Irã de Omã e é crucial para a logística energética global.

“Não podemos esquecer que o Irã é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo (do grupo da OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo)”, afirma Reichenberger. Ele ressalta que a interrupção dessa rota pode provocar escassez e alta nos preços internacionais do barril de petróleo Brent.

Segundo ele, esse impacto vai muito além do combustível: “Muitas indústrias que dependem da energia petrolífera para as suas atividades econômicas terão de transferir esse custo mais alto para o consumidor. Então pode haver um efeito cascata no aumento de preços de diversos produtos”.

O economista Ricardo Buso reforça o alerta, destacando que, juntos, Irã, Arábia Saudita, Iraque, Kuwait, Emirados Árabes Unidos e Catar produzem cerca de 30% do petróleo mundial e são responsáveis por mais da metade das exportações globais da commodity.

“Dessa área conflituosa sai algo entre 50% e 55% de todo o petróleo comercializado entre países no mundo. Daí o motivo de tanta apreensão”,

afirma.

Ele também lembra que cerca de 70% do petróleo consumido pela poderosa China passa por Ormuz, o que pode ser uma fonte de convencimento para que o Irã não leve adiante o bloqueio.

Impactos para o Brasil do conflito entre Israel e o Irã

O Brasil é autossuficiente na produção de petróleo e ainda exporta parte do que produz. No entanto, o parque de refino brasileiro é voltado para óleo pesado, o que exige importações de derivados mais leves, como o diesel — especialmente da Rússia.

Por isso, mesmo que o fornecimento não seja diretamente afetado, a alta no preço internacional traz efeitos. “Num primeiro momento, nossas exportações são favorecidas com valores maiores, mas nossas importações, de maior valor agregado, também custarão mais”, explica Buso.

Ele destaca que a Petrobras tende a repassar esses aumentos ao consumidor, ainda que com defasagem, tanto por razões de mercado quanto por limitações fiscais. Se os preços não forem atualizados, pode haver desestímulo à importação por empresas concorrentes, o que aumenta o risco de desabastecimento.

“E num país tão rodoviário quanto o Brasil, elevação de preços de combustíveis sempre pode impactar uma cadeia muito grande da inflação, sobretudo de alimentos”,

alerta.

Muito além dos combustíveis

O economista lembra que os impactos da alta do petróleo atingem também a produção de energia, insumos químicos e defensivos agrícolas, o que pode afetar diretamente o custo dos alimentos.

“Por mais que saibamos dos alertas das últimas décadas, tanto da limitação de combustíveis fósseis quanto da necessidade ambiental de substituí-los, o fato é que o mundo está muito aquém na aplicação de alternativa ao petróleo e ainda é mais dependente dele do que deveria”,

afirma Buso.

Segundo ele, a manutenção de um cenário de alta nos preços exige maiores recursos para manter os níveis de consumo, o que pode tirar investimentos de áreas sociais e ambientais.

“A manutenção do cenário gera necessidades de recursos muito maiores para continuar com o consumo, que podem ser desviados de outras atividades produtivas, ou até de cuidados sociais e ambientais, produzindo, ao mesmo tempo, recessão e inflação”,

afirma.

Mesmo países autossuficientes, segundo ele, não estão imunes. “É um cenário que pode ser muito delicado, contaminando o mundo todo pela atividade econômica e comércio internacional, mesmo aqueles autossuficientes, exportadores ou pouco dependentes de importações de petróleo.”

Impactos imediatos

A escalada do conflito provocou reação rápida nos mercados internacionais. O petróleo, que vinha em trajetória de baixa nos últimos meses, passou a registrar forte valorização. Desde o início das hostilidades entre Israel e Irã, até o bombardeio dos Estados Unidos às instalações de enriquecimento de urânio, a commodity acumulou alta de cerca de 14%.

Apesar disso, os preços apresentaram leve recuo nos últimos dias, mas ainda mantêm uma alta acumulada. “No momento, os preços mostram um ligeiro recuo, para alta de 10% nos últimos dez dias (cerca de US$ 71/barril), porque aguarda a resposta do Irã ao ataque.”

Viagens canceladas

No turismo, a instabilidade já se reflete na hesitação de passageiros e cancelamento de viagens. Países diretamente envolvidos, como Irã e Israel, já haviam saído das prateleiras das agências, mas agora o receio atinge também vizinhos como Egito, Turquia e Emirados Árabes.

“A gente percebeu que passageiros interessados nesses países começaram a hesitar. Para quem estava prestes a fechar viagem esta semana, tivemos cerca de 30% de cancelamentos. Já deixamos de vender pacotes para o Líbano e para a Jordânia”,

conta o diretor de agência Carlos Tosetti.

E o que esperar?

Para Reichenberger, líderes internacionais como Emmanuel Macron, presidente da França, e Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido, devem manter os esforços para evitar uma escalada ainda maior da violência. A Turquia também continua sendo uma figura-chave nas negociações, por sua posição geográfica e influência junto ao mundo islâmico. “Lembrando que o país é respeitado pelo mundo Islâmico e é uma opção ideal para tais negociações, pois se trata de um país que está geograficamente em ambos os mundos”, afirma.

Enquanto tentativas de mediação ocorrem nos bastidores, outro movimento começa a ganhar força no exílio. O cientista político destaca que Reza Pahlavi, herdeiro da dinastia que governava o Irã antes da Revolução Islâmica de 1979, está nos Estados Unidos articulando uma possível restauração da monarquia no país. “Temos também o Rei Iraniano que está foragido nos Estados Unidos, Reza Pahlavi da Casa Pahlavi, que já está planejando o seu novo governo no Irã, alegando – inclusive – que membros do alto escalão militar do Ayatollah já declararam apoio incondicional ao Reino Pahlavi.”

Segundo Reichenberger, há sinais de que o ex-presidente Donald Trump também cogita apoiar uma transição política no Irã, possivelmente com o retorno da monarquia. “Alinhado com essa possibilidade de o Irã voltar a ser um Reinado sob os descendentes da família Shah, temos visto também Trump flutuando a ideia de que uma mudança de Governo no Irã seria uma boa ideia, para ‘Fazer o Irã Ser Grande Novamente.”

O atual regime iraniano é liderado pelos “Ayatollahs”, uma cúpula teocrática baseada na doutrina islâmica xiita, instaurada após a Revolução de 1979. O líder supremo, atualmente o aiatolá Ali Khamenei, detém autoridade máxima no país, acima do presidente e das instituições civis, controlando as forças armadas, o Judiciário e as diretrizes políticas e religiosas.

Apesar das movimentações em busca de mudança, Reichenberger alerta que o cenário ainda está longe de apontar uma resolução pacífica. “Existem conflitos que mostram uma luz no fim do túnel. Este não é um deles. Acredito que estamos vendo o início de algo maior, que pode levar à queda do governo dos Ayatollahs. Por mais que a ideia possa ser promissora para muitos que prezam pelas liberdades civis e de expressão no país do Oriente Médio, torço pelo bem do povo Iraniano e pela prosperidade do país”, finaliza.

Vida sob tensão em Israel

Morando em Israel desde 2018, o criador de conteúdo Richard Bromberg relata como o conflito muda completamente a rotina dos moradores. Ele vive em Netanya, a cerca de 30 km de Tel Aviv.

“Como o país é pequeno, a gente conhece muitos lugares que foram atingidos. Uma amiga minha viu um hospital ser atingido. Você nunca está preparado para a guerra. É sempre assustador, mas ao mesmo tempo, a gente se sente seguro”,

afirma.

Desde o início da ofensiva entre Irã e Israel, a recomendação é que as pessoas fiquem próximas de abrigos.

“Não fui mais ao escritório e as aulas do meu filho passaram a ser online”,

conta.

Segundo ele, um aplicativo avisa os moradores sempre que mísseis são lançados. “Temos que descer quatro andares sem elevador e ainda esperar mais cinco minutos para que os outros moradores também entrem no abrigo. Isso acontece todos os dias”, relata.

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Giovanna Peterlevitz
Giovanna Peterlevitz
Repórter no ACidade On Campinas. Tem experiência na cobertura de grandes factuais nacionais e internacionais, nas diversas áreas de jornalismo. Já atuou em direção de imagens, edição de vídeo, produção, reportagem, redação e edição de textos e também na apresentação de telejornais e programas de entrevista.

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