Um avião da companhia aérea Voepass (antiga Passaredo) com 62 pessoas caiu em um condomínio residencial de Vinhedo, no Interior de São Paulo, na última sexta-feira (9). Ninguém sobreviveu. Hoje (16), uma semana depois do acidente, todos os corpos das vítimas já foram identificados, e 42 deles liberados para as famílias para serem sepultados.
Desde o dia da tragédia, o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) da FAB (Força Aérea Brasileira), a PF (Polícia Federal) e a Polícia Civil investigam as possíveis causas do acidente. Os trabalhos de investigação podem demorar meses e passam por diversas etapas de perícia, elaboração e apresentação de relatório, além de avaliação de causas e responsabilidades.
Veja, abaixo, o que se sabe e o que falta ser revelado sobre o acidente aéreo que é o quinto pior na história da aviação civil no Brasil em número de vítimas.
Como foi a queda da aeronave em Vinhedo?
De acordo com o Corpo de Bombeiros de São Paulo, a aeronave caiu no quintal de uma residência dentro do condomínio Residencial Recanto Florido, localizado na Rua Edueta, no bairro Capela, em Vinhedo. A cidade fica a aproximadamente 95 quilômetros do aeroporto de Guarulhos (SP), onde o avião pousaria, e 927 quilômetros de Cascavel (PR), de onde saiu.
Veja o vídeo da queda do avião em Vinhedo e entenda cronologia do acidente:
- A aeronave decolou às 11h56 e o voo PTB 2283 seguiu tranquilo até 13h20.
- O avião subiu até atingir cinco mil metros de altitude às 12h23, e seguiu nessa altura até às 13h21, quando começou a perder altitude, segundo a plataforma Flightradar.
- Nesse momento, a aeronave fez uma curva brusca.
- De acordo com a FAB, a partir das 13h21 a aeronave não respondeu às chamadas do Controle de Aproximação de São Paulo, bem como não declarou emergência ou reportou estar sob condições meteorológicas adversas.
- Às 13h22 – um minuto depois do horário do último registro – a altitude da aeronave estava em 1.250 metros – uma queda de aproximadamente 4 mil metros. A velocidade dessa queda foi de 440 km/h, segundo a investigação.
- O Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo) informou que o ‘Salvaero’ – que tem a responsabilidade de coordenar as operações de busca e salvamento quando ocorre acidente aéreo – foi acionado às 13h26 e encontrou a aeronave acidentada na área de um condomínio.
- Especialistas em aviação afirmam que a aeronave caiu em “flat-spin”, ou “parafuso chato”, antes da queda.
Quem são as vítimas?
Inicialmente, a Voepass informou que 62 pessoas estavam a bordo. Posteriormente, passou a divulgar a lista com 61 ocupantes. No sábado (10), a companhia voltou a informar que 62 pessoas morreram na queda do avião em Vinhedo. De acordo com a Superintendência da Polícia Técnico-Científica, todas as vítimas morreram por politraumatismo. Clique aqui para ver a lista completa.
Entre as vítimas da queda do avião, estão médicos, professores, estudantes, casais de idosos, uma família da Venezuela e um pai e sua filha de 3 anos que planejavam passar o Dia dos Pais, celebrado no domingo (11), juntos. A morte de um cão de pequeno porte, que estava com os venezuelanos, também foi confirmada.
Segundo o IML (Instituto Médico Legal) Central, que fica na capital paulista, todos os 62 corpos foram identificados por análise de impressões digitais e exames odontológicos. Desses, 41 foram liberados aos familiares, que são os primeiros a serem comunicados sobre o andamento do trabalho de reconhecimento.
A aeronave não atingiu nenhuma casa durante a queda e não houve vítimas em solo. Segundo o morador da casa, Luiz Augusto de Oliveira, além dele, sua esposa e uma diarista estavam na residência na hora do acidente e ainda estão em estado de choque pelo o que aconteceu.
O muro do lado de fora do Residencial Recanto Florido, em Vinhedo, começou a virar ponto de homenagem em forma de flores, bilhetes e orações.
Nesta sexta-feira (16), será celebrada uma missa de sétimo dia em memória das vítimas do acidente aéreo. A missa acontece às 19h30 na Comunidade São Roque, na Rua Bruxelas, 121, bairro Altos do Morumbi, em Vinhedo. A celebração é aberta ao público.
O que causou a queda do avião em Vinhedo?
A transcrição do áudio da caixa-preta, obtida com exclusividade pelo Jornal Nacional na última quarta-feira (14), mostra que, ao perceber que o avião estava perdendo sustentação, o copiloto disse que era preciso “dar potência” – uma tentativa de estabilizar a aeronave e impedir a queda. Mas isso, infelizmente, não foi possível.
Cerca de um minuto se passou entre a constatação da perda de altitude e o choque do avião contra o solo. Neste tempo, segundo os investigadores, o áudio registra que a tripulação tentou reagir. A gravação é finalizada com gritos e com o estrondo do choque da aeronave contra o chão.
As cerca de duas horas de transcrição foram feitas pelo laboratório de leitura e análise de dados do Cenipa. Mas, segundo os investigadores, a análise do áudio da cabine, sozinha, não é capaz de cravar uma causa aparente para a queda. Isso porque o ATR 72-500 tem as hélices da parte de cima da fuselagem muito próximas da cabine de comando, o que provocou muito barulho e aumentou a dificuldade para decifrar os diálogos gravados.
Mesmo assim, em uma análise preliminar, o Cenipa não identificou sons característicos de alertas que poderiam “guiar” a investigação sobre as causas, como o alarme de presença de fogo, falha elétrica ou pane no motor.
Então, qual é a principal hipótese?
Os dados da caixa-preta, nessa primeira avaliação, ainda não permitem confirmar ou descartar a principal hipótese levantada pelos especialistas nos últimos dias: a de que o avião teria caído em razão da formação de gelo nas asas, seguida de uma perda de estabilidade (“estol”, no jargão). Meteorologistas do Climatempo apontaram “áreas de instabilidade” e 35% de formação de gelo nas proximidades do local onde o avião caiu.
A confirmação da causa do acidente vai depender da análise de mais registros das caixas-pretas e da combinação de todas essas informações.
O relatório preliminar sobre o caso deve ficar pronto em 30 dias. Nesse prazo, os investigadores esperam desvendar o “contexto” da tragédia, considerado nebuloso até o momento.
Engenheiros da empresa francesa ATR, fabricante do avião, e da canadense Pratt&Whitney, fabricante do motor, além de representantes da BEA e da TSB, órgãos responsáveis pela segurança dos voos nos dois países, auxiliam na apuração.
De quem é a responsabilidade pela queda do avião em Vinhedo?
O acidade on Campinas conversou Marcial Sá, especialista em Direito Aeronáutico do Godke Advogados, que analisou o caso envolvendo a queda do avião em Vinhedo.
De acordo com o especialista, independente da investigação e do relatório final do Cenipa, a Voepass já tem responsabilidade pelas 62 vítimas do acidente. Ele explica que esse fato está resguardado na chamada responsabilidade civil objetiva, que está fundada no risco de atividade.
Essa responsabilidade ocorre quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano, neste caso, a Voepass, gere uma situação de risco especial ao indivíduo. Dessa forma, o fato ocorrido, que gerou o dano, é que desencadeia a responsabilidade, não o dolo ou a culpa.
E se o relatório do Cenipa determinar que a causa do acidente está relacionada a problemas na aeronave ou condições climáticas? A responsabilidade muda?
Em casos como este, com base nas causas determinadas do acidente, as empresas envolvidas, como companhias aéreas, fabricantes de aeronaves e motores, seguradoras, entre outros, podem buscar entre si as reparações pelos eventuais prejuízos que tenham tido com o acidente.
Marcial Sá explica que aquela parte que pagou as indenizações diretamente poderá buscar o ressarcimento daquela parte que seja indicada como responsável pelo acidente. Já no caso das condições climáticas, segundo ele, elas podem ser sim fator de exclusão de responsabilidade, na medida em que tenham sido o fator dominante para tal ocorrência.
O que diz a Voepass
O CEO da Voepass Linhas Aéreas, Eduardo Busch, afirmou que os pilotos eram experientes e que os sistemas operacionais da aeronave estavam todos em funcionamento no momento da decolagem.
“A Voepass Linhas Aéreas informa que a aeronave PS-VPB, ATR-72, do voo 2283, decolou de CAC sem nenhuma restrição de voo, com todos os seus sistemas aptos para a realização da operação”.
No primeiro pronunciamento após a tragédia, o presidente da companhia Voepass, comandante José Luiz Felício Filho, expressou solidariedade às famílias das vítimas e destacou que a empresa segue “as melhores práticas internacionais” de segurança – veja o vídeo aqui.
Vale lembrar que o avião da Voepass que caiu em Vinhedo na última sexta-feira (9) já vinha passando por uma série de paradas para manutenção nos últimos meses. A primeira delas aconteceu no dia 11 de março. Depois de uma viagem de Recife, em Pernambuco, para Salvador, na Bahia, um relatório oficial descreveu problemas no sistema hidráulico durante o voo e um contato anormal da aeronave com a pista na hora do pouso.
O avião só voltou a voar comercialmente no dia 9 de julho, mais de três meses depois, em uma rota de Ribeirão Preto para Guarulhos, onde um novo problema voltou a acontecer. Desta vez, o relatório apontou despressurização em voo. Por isso, a aeronave foi levada para Ribeirão Preto, onde fica a sede da empresa, para manutenção.
Depois dos reparos, no dia 13 de julho, o avião voltou às atividades comerciais. Um dia antes do acidente com o avião da Voepass, no dia 8 de agosto, uma passageira registrou um vídeo dentro da aeronave. Nele, ela relata problemas com ar-condicionado. De acordo com a gravação, um passageiro chegou até a tirar a camiseta para aguentar as altas temperaturas.
Investigações policiais
Além das investigações do Cenipa, a PF informou na manhã desta quarta-feira (14) que trabalha na produção de dois laudos periciais que são considerados fundamentais para a investigação que apura as responsabilidades pela morte das 62 pessoas a bordo.
Segundo os policiais, o primeiro laudo, que descreve o local da queda, deve ser entregue em cerca de 90 dias. Já para o segundo laudo, PCFs (Peritos Criminais Federais) vão acompanhar todos os exames, ensaios e testes realizados no Cenipa, incluindo análise dos destroços, do motor, das caixas pretas e outros. Esse último laudo deve apontar as possíveis causas do acidente.
A Polícia Civil também instaurou um inquérito para investigar o acidente na Delegacia de Vinhedo, sob a condução da delegada Denise Margarido, da Delegacia de Vinhedo.
Como está o local do acidente?
A Voepass começou nesta quarta-feira (14) a retirar do local do acidente os objetos das 62 vítimas da queda do avião em Vinhedo. A companhia aérea contratou uma empresa para realizar o serviço de remoção das partes que sobraram da aeronave, assim como dos itens pessoais e bagagens que estavam no avião. Todos eles serão encaminhados para Ribeirão Preto, onde fica a sede da companhia aérea.
Inicialmente, esse serviço estava previsto para começar na última segunda-feira (12), mas precisou ser adiado por conta de uma intervenção do Cenipa e da Polícia Científica.
Em relação aos destroços, a Voepass informou que eles serão encaminhados para Ribeirão Preto, cidade-sede da companhia, e, após processo de limpeza específico, ficarão armazenados até que todos os familiares das vítimas sejam indenizados.
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