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CotidianoEntenda a relação entre febre amarela e a Fênix no brasão de Campinas

Entenda a relação entre febre amarela e a Fênix no brasão de Campinas

Febre amarela, do final do século XIX, foi decisiva para a elaboração da bandeira de Campinas como é conhecida hoje

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Você sabia que a Fênix, pássaro da mitologia grega que, quando morre, entra em autocombustão e, passado algum tempo, ressurge das próprias cinzas, está no brasão de Campinas? O símbolo foi oficializado no dia 30 de dezembro de 1889 e é um dos mais antigos brasões do estado de São Paulo. Campinas completa 249 anos nesta sexta-feira, veja aqui a programação da cidade para a data!

O símbolo foi idealizado pelo vereador e médico Ricardo O’Connor Gumbleton Daunt. Além do sentido figurado, historiadores explicam que a criação do brasão tem tudo a ver com a retomada do crescimento econômico da cidade após as epidemias de febre amarela no final do século XIX que matou milhares de pessoas no município – o ressurgimento de Campinas. 

Segundo a historiadora e pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e do IHGG-Campinas (Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas), Eliane Morelli Abrahão, a simbologia da Fênix pode ser entendida como, literalmente, renascimento. 

“É muito pelo fato de combater as epidemias de febre amarela, de se fortalecer e renascer das cinzas”, diz.

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O pesquisador e historiador do Centro de Memória de Hortolândia “Leovigildo Duarte Junior”, Gustavo Esteves Lopes, explica que a ave pode também representar longevidade. “[A Fênix] reafirma o espírito indômito do povo de Campinas, capaz de enfrentar os maiores obstáculos e os mais terríveis flagelos, para, afinal, vencê-los”, diz, baseado no inciso III do Artigo 2° da lei que aprovou o símbolo oficial, em 30 de dezembro de 1889.

O historiador reforça que, entre as primeiras normas jurídicas, publicadas pelo Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, há o Decreto nº 4, de 19 de novembro de 1889, que estabeleceu os primeiros símbolos oficiais nacionais. Dentre essas, a bandeira e o brasão que trouxe a Fênix de Campinas.

“Não obstante, diversos setores políticos, inclusive liberais e republicanos, de municípios brasileiros já tinham em seus gabinetes modelos de bandeiras, brasões de armas e hinos oficiais referentes a seus respectivos municípios, antes mesmo da queda do regime monárquico, no entanto evitando a utilização de insígnias da nobreza”, explica.

Ao todo, a cidade já teve dois outros brasões diferentes, além do elaborado em 1889. “Como não havia norma jurídica ou legislação para tais efeitos, os poderes públicos locais mantiveram tacitamente bandeira e brasões oficiais, por vezes com detalhes alterados, até a criação de suas primeiras normas jurídicas que as estabelecem, nomeadamente a Resolução nº 1.001, de 25 de setembro de 1937”, diz Lopes.
A partir de 1937, a cidade teve uma segunda versão, com alguns ajustes dos símbolos originais, e, após a Lei Municipal nº 4.335, de 6 de novembro de 1973, o município ratificou a versão do Brasão de Armas do Município de Campinas, o qual adornou a Bandeira Oficial, como é conhecida hoje.

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O BRASÃO

Bandeira de Campinas com o brasão da Fênix estampado e em frente ao prédio da Prefeitura. (Foto: Código 19/Arquivo)

O brasão é formado por um escudo tendo ao centro uma fênix. O escudo é encimado por uma coroa mural com torres, símbolo da emancipação política. À esquerda, está uma haste de cana-de-açúcar e à direita uma haste de café, plantas que formaram as primeiras fontes de renda de Campinas no início da sua história. Sob o escudo está uma faixa com a divisa em latim “Labore Virtute Civitas Floret” ou, em português, “No Trabalho e na Virtude a Cidade Floresce”.

A FEBRE AMARELA NO FINAL DO SÉCULO XIX

A febre amarela é uma doença infecciosa febril aguda, causada por um vírus transmitido por mosquitos vetores. Na época, não se sabia o motivo da doença, mas historiadores apontam que o primeiro surto aconteceu em 1889.

De acordo com um estudo publicado na revista científica Recep, acredita-se que cerca de 1.200 pessoas morreram na cidade no primeiro ano de epidemia. Segundo as pesquisadoras Maria Silvia Beozzo Bassanezi e Maisa Faleiros Cunhas, Campinas voltaria a viver outros casos da febre em 1890, 1892, 1896 e 1897.

Estima-se que havia cerca de 15 mil habitantes no município e, aproximadamente, 75% teriam deixado a cidade, de acordo com o Instituto Adolfo Lutz. Do número total,  historiadores acreditam que 2.500 pessoas morreram, o que correspondia a 6% da população campinense na época.

No final da década de 1890, acreditava-se que a febre era propagada por meio de água poluída e intoxicada. Segundo Lopes, os profissionais da saúde, sobretudo, tinham o conhecimento dos principais sintomas e o controle de febres, dores de cabeça e no corpo eram tratados com os remédios farmacêuticos disponíveis.

Atualmente, o idealista da Fênix na bandeira, Ricardo O’Connor Gumbleton Daunt, tem uma rua em seu nome no centro de Campinas. “Sua idealização assente na resiliência dos poderes públicos, entidades civis e principalmente de profissionais da saúde no combate à epidemia de febre amarela, que assolou Campinas por inteiro por todo aquele ano de 1889, pese embora fosse crônica a repulsa coletiva de todas as camadas da população campinense a tratamentos médicos”, diz Lopes.

CRESCIMENTO ECONÔMICO ABALADO

Paralelamente às epidemias, a cidade vivia um acelerado desenvolvimento econômico, principalmente, na cultura do café. “Desde o início do século 18, a cidade se desponta como grande produtora de açúcar e depois como grande produtora de café”, diz Eliane.

“[A cultura] cafeeira, alavancada com a Lei de Terras de 1850, conferiu a propriedade do solo aos antigos sesmeiros, fortalecendo-se com avanços tecnológicos logísticos, industriais e energéticos; e, demograficamente, a partir do crescimento das populações rurais e urbanas”, complementa Lopes.

Entre 1870 e 1890, na transição entre a Monarquia e a República, a riqueza em Campinas concentrava grande parte daquelas produzidas no Estado, que foram abaladas com os surtos de febre amarela. “Sem dúvida, surtos epidêmicos, como a febre amarela, não somente afetaram o positivo crescimento demográfico do Município de Campinas, bem como a economia local”, diz o pesquisador.

Os símbolos que representam essas culturas, importantes na época para o fortalecimento econômico da região, estão presentes no brasão da cidade em duas hastes. À esquerda da Fênix, há a cana-de-açúcar e à direita, o café. Acima da ave mitológica, há um mural com oito torres, que simboliza a emancipação política da cidade, e, sob o escudo, há uma faixa com o escrito em latim “Labore Virtute Civitas Floret”.

Em português, a frase significa: “no trabalho e na virtude, a cidade floresce”. A historiadora da Unicamp explica que a expressão tem relação com as epidemias de febre amarela, mas também com o contínuo desenvolvimento econômico da cidade.

“Atualmente, eu acredito que Campinas se vale desses lemas. A cidade se transformou em um polo de cultura, de educação, como a Unicamp e a PUC, e tecnológica”. Eliane lembra que Campinas é a terceira cidade mais populosa do Estado de São Paulo, de acordo com o Censo 2022, e continua produzindo riquezas importantes. “Então, ela continua sim vivendo dessas simbologias”.

Embora haja uma Fênix na bandeira, Lopes lembra que a cidade possui outro pássaro característico no imaginário popular: a andorinha. “Campinas é lembrada como a “Cidade das Andorinhas”, simbolizado por um pequenino, belo e livre pássaro, que torna mais agradável quaisquer passeios e paisagens locais, além de sua função ecossistêmica fundamental no controle de insetos. Campinas, inspirada em Fênix, e vivenciada em meio a Andorinhas. Ótimo estar entre pássaros, mesmo pombos e pardais”.

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