A família do técnico de eletrônica morto após a queda de uma árvore na região do Bosque, em Campinas, no final de dezembro, informou que até o momento não recebeu suporte da Prefeitura de Campinas. Guilherme da Silva, de 36 anos, dirigia um carro quando o veículo foi atingido por uma árvore de grande porte na via que passa ao lado do Bosque dos Jequitibás – um dos principais parques da cidade.
Ele morreu na hora e deixou a esposa e dois filhos. À reportagem do acidade on, Luciana Santos disse que não foi procurada pela Administração municipal e não recebeu suporte após a morte de Guilherme.
O acidente aconteceu três dias antes do Réveillon – na manhã do dia 28 de dezembro. O técnico de manutenção eletrônica saiu para trabalhar e, quando passava pela Rua General Marcondes Salgado, o veículo acabou atingido pela árvore de grande porte, enquanto chovia forte no local.
Sem suporte, a viúva comentou sobre o sentimento de abandono que sentiu por parte da Prefeitura. Questionada sobre a falta de uma assistência a família, a Administração informou que a iniciativa deve ser da família (veja mais abaixo).
“Meu esposo faleceu no dia 28, às 8h30. Ele saiu para trabalhar de manhã e aconteceu o acidente. Até hoje a Prefeitura não entrou em contato com a gente. Nem em relação às crianças. Eu tenho uma menina de 6 e um menino de 7 anos. Até agora não perguntaram nada. Não precisam perguntar como eu estou. Todo mundo sabe como eu estou, mas perguntar se as crianças precisam de apoio, oferecer psicólogo, até agora nada. Nem como estamos. Se estamos precisando de alguma coisa, nada”, desabafou.
A declaração de Luciana Santos acontece após uma matéria do acidade on que trouxe o depoimento de Gabriela de Araújo Rodrigues, de 27 anos, atingida pelo eucalipto que caiu na Lagoa do Taquaral, em Campinas, no mês passado. Gabriela relatou dificuldades enfrentadas por causa do acidente e citou que ainda não recebeu suporte do município (leia mais aqui). A queda da árvore no Taquaral vitimou uma menina de 7 anos, que comemorava o aniversário de uma prima no parque.
“Do mesmo jeito que aconteceu com ela, acredito que tenha acontecido com os pais da menina do Taquaral e também comigo. Eles não perguntaram nada, é como se: ‘caiu e fazer o quê? Vida que segue né’?. Não é ninguém da família deles, não são eles que veem os filhos chamando pelo pai, deve ser muito mais fácil”, desabafou Luciana.
Questionada, a viúva comentou que já conversou com advogados para dar andamento em processo contra a Administração Municipal, que era responsável pela árvore. “Tivemos uma reunião com os advogados e vamos dar andamento com tudo. Eu pedi para eles fazerem o melhor para as crianças”, afirmou.
O ACIDENTE
Guilherme morava no Jardim Novo Mundo e seguia para o trabalho no Jardim Planalto, quando teve o carro atingido pela figueira gigante, que tinha 35 metros e pesava mais de 10 toneladas.
Além do veículo, a árvore ainda atingiu e destruiu duas casas e outros quatro carros, além de derrubar um poste. Emocionada, Luciana relembra a manhã trágica em sua vida.
“Eu estava de férias coletiva, e as crianças de férias escolares. Ele levantou, antes de sair, veio, me deu um beijo, falou que me amava, e quando estava saindo meu filho chamou ele. Ele voltou, deu um abraço, falou: ‘obedece a mamãe’, e foi trabalhar como sempre fez. Depois logo levantei e ele me mandou um vídeo de chuva. Eu pedi para ele ir com cuidado e depois disso ele não me respondeu mais”, contou.
Luciana conta que depois disso sentiu uma sensação de angústia, quando começou a ligar para o marido. Mas ele não a atendia e não teve as mensagens retornadas.
“Eu mandei mensagem para a empresa dele para saber se ele já tinha chegado e logo depois uma das moças me ligou falando do acidente. Eu entrei em desespero. Eu liguei para a minha sogra e o meu cunhado e junto com o meu sogro eles foram até em casa nos pegar. Como na minha cabeça não era nada, eu levei roupa porque se por um acaso os bombeiros rasgassem a roupa dele, ele já teria roupa limpa. Mas chegando lá ninguém me deixou chegar mais perto e um dos patrões do meu marido subiu chorando me pedindo para ser forte”, relembrou.
A PERDA
Luciana e Guilherme estavam juntos há 10 anos, e ela relata que o marido era o pilar da família.
“Ele era um pai, marido, amigo e confidente maravilhoso. Eu sempre falei que o nosso casamento era do jeito que eu pedi para a Deus. A vida dele era nossa família. Ele era aquele que amava dançar, amava a família, amava juntar as pessoas em casa. Quando a gente se juntava era só brincadeira”, relatou.
Luciana afirmou que, agora, os filhos ficam preocupados quando ela sai de casa. “Por volta das 7h30 meu marido saiu para trabalhar e por volta do meio-dia tivemos que falar que ele não voltaria mais. Os meus filhos agora, quando eu vou trabalhar, me perguntam se eu vou voltar, é muito triste”, completou.
O QUE DIZ A PREFEITURA SOBRE A FALTA DE ASSISTÊNCIA
Questionada desde sobre a falta de assistência para as famílias de vítimas das tragédias envolvendo árvores, a Prefeitura de Campinas, informou que “desde o primeiro momento, se solidarizou e se colocou à disposição da família para prestar o apoio necessário”.
Em nota, a Administração afirmou que conta com uma ampla rede de serviços e continua à disposição, mas informa que “a iniciativa deve ser da família”.