Infelizmente os dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de SP trouxeram mais uma vez informações alarmantes em relação ao crime de estupro de vulnerável. Quando comparamos os nove primeiros meses de 2020 com os nove primeiros meses de 2021 observamos que houve um acréscimo de 24,88% nessa modalidade na região de Campinas.
Quando nos aprofundamos na avaliação e comparamos com todo o Estado de São Paulo, isso nos preocupa mais ainda, pois no Estado todo esse crime evoluiu 12,10%. Isso significa claramente que a Região de Campinas teve grande contribuição para o avanço no registro desse crime hediondo.
Como já afirmamos em outras oportunidades, esse crime tem nuances muito específicas, pois a polícia muito pouco pode fazer, já que na maioria das vezes o estupro acontece dentro do próprio seio familiar ou por pessoas muito próximas à vítima. E para piorar a situação sabemos que existe uma grande quantidade de casos que não são notificados por motivos diversos.
A princípio poderíamos imaginar que esse acréscimo de casos estivesse ligado à pandemia; as pessoas em casa, as crianças mais confinadas, mas quando olhamos o cenário desde janeiro de 2020 até setembro de 2021, observa-se que não se pode afirmar isso com precisão, pois os números aumentaram em setembro/2021, quando o afastamento social já não está tão rigoroso e as crianças têm retornado às suas atividades normais.
Aparentemente poderíamos pensar que esse tipo de crime encontra-se apenas nas classes menos favorecidas da sociedade e fosse um problema localizado, mas não, encontramos isso em todas as classes sociais e em especial pedófilos que transitam no nosso meio sem causar qualquer suspeita. Então não é o muro de condomínios fortificados que impede a ação desses criminosos.
Esse é um crime que, para minimizarmos as possiblidades dele ocorrer, deve ser trabalhado em outras vertentes que não seja a ação policial, que acaba agindo apenas após o ato consumado. Exige em especial a atenção dos pais sobre com quem seus filhos estão se relacionando, observar atitudes e mudanças de comportamento. É preciso que as escolas criem planos de educação para que a criança aprenda a dizer não, e não se envergonhe de comentar e denunciar. A sociedade como um todo; escola, vizinhos e parentes têm a obrigação humanitária de agir contra esse crime monstruoso, pois não é admissível que continuemos vendo nossas crianças serem ultrajadas, violentadas física e psicologicamente, e ferindo mais do que seus corpos, ferindo sua alma de forma irreversível.
Adalberto Santos – é especialista em segurança e diretor superintendente da Sigmacon. É consultor, palestrante, analista em segurança empresarial e criminal. Possui pós-graduação de processos empresariais em qualidade, MBA em administração e diversos títulos internacionais na área de segurança.